Atenção básica é ‘calcanhar de Aquíles’





Cristiano Mota

Fábio Villa Nova pretende reestruturar atenção básica do município

 

O ponto fraco da Saúde em Tatuí é a atenção básica, na avaliação do novo secretário da pasta, Fábio Villa Nova. Na primeira entrevista concedida à imprensa como titular, o dentista afirmou que a chamada “atenção primária” pode ser considerada o “calcanhar de Aquíles” da Saúde do município.

Villa Nova passou ocupar a função na manhã de segunda-feira, 11, por conta da saída voluntária do médico anestesiologista, José Luiz Barusso. Na data, o ex-secretário inaugurou o “Ambulatório de Curativos”, na vila Esperança.

Mestre em saúde coletiva pela Unicamp (Universidade de Campinas), o dentista tem a missão de melhorar a qualidade do atendimento da rede municipal. Começa a gestão tendo de resolver questões apresentadas por munícipes como demora no agendamento de consultas e na realização de exames e o tempo de espera no Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”.

Para se inteirar sobre a estrutura municipal da Saúde, Villa Nova passou por um “período de transição”. Ele manteve reuniões diárias junto ao ex-secretário para “tomar ciência” das ações, programas e dificuldades enfrentadas.

Afirmou que a população pode esperar, na gestão dele, um “melhor atendimento nas UBSs (unidades básicas de saúde)”. “Vamos investir na atenção primária, tentando diminuir as emergências e urgências no pronto-socorro”, disse.

Villa Nova adiantou, ainda, que pretende ampliar a rede do PSF (Programa Saúde da Família). De acordo com ele, o serviço é essencial porque visa à prevenção das doenças “que mais acometem a população”, desafogando o pronto-socorro.

O secretário argumentou que, ao melhorar a atenção básica – em resumo, atendimento nos postos de saúde –, a secretaria vai resolver “muitos outros problemas”.

Sobre queixas da população a respeito da demora nos agendamentos de consultas com especialistas e encaminhamentos para exames, Villa Nova disse que vai rever a situação. O novo secretário afirmou que o Executivo tem uma “quantidade limitada de exames e consultas com especialistas a ser oferecida à população”.

Disse, também, que muitos pacientes são encaminhados para outros municípios, por conta de pactuação (acordos) entre os secretários de saúde da região. “Eu não estou muito a par da situação, mas tenho visto que temos demanda reprimida, sim, tanto de exames como de consultas especializadas”.

Villa Nova também falou sobre uma possível falta de funcionários nas unidades básicas de saúde, tema de reclamação apresentada por vereadores de oposição na Câmara Municipal na semana passada. De acordo com o novo secretário, o número de servidores municipais lotados na secretaria corresponde a, aproximadamente, 30% do total dos funcionários do Executivo.

Afirmou que, na visão dele, a prioridade é dar atenção maior para as unidades. Villa Nova afirmou que, nesse sentido, vai verificar por meio de estudos se há ou não carência de servidores e tentar fazer remanejamentos quando necessário.

Entretanto, destacou que Tatuí possui outras necessidades, como médicos. De acordo com o secretário, 124 médicos atendem, atualmente, na rede municipal. “Isso dá pouco mais de um médico para cada mil habitantes”, contabilizou.

Villa Nova disse que os remanejamentos serão realizados – quando necessário – com a finalidade de melhorar o atendimento à população que procura a atenção básica. “Isso também faz parte de projeto nosso de reestruturação”, afirmou.

Segundo ele, a secretaria deverá verificar quais são as condições de trabalho de cada posto de saúde. Após o levantamento total, poderá haver troca de funcionários (reforçando algumas equipes), ou não. “Vai depender de cada caso. A contratação será o último passo, caso o remanejamento não resolva”, disse.

Despedida

Villa Nova participou da solenidade que marcou a despedida de Barusso do comando da pasta municipal. O evento no dia 11 também representou, simbolicamente, a posse dele na função. O novo secretário acompanhou discursos de autoridades, como o prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu.

Na ocasião, o prefeito parabenizou Barusso pelo trabalho realizado e saudou Villa Nova. Manu afirmou que fez questão de inaugurar o “Ambulatório de Curativos” para que ela “encerrasse a trajetória de Barusso” à frente da pasta. Disse, também, que ele continuará ajudando o Executivo.

O prefeito também fez uma retrospectiva da Saúde, ao falar sobre situação encontrada pela Prefeitura no início do ano. De acordo com ele, em janeiro, o Executivo precisou retomar a ampliação de oito UBSs, situadas nas zonas rural e urbana.

Ainda no primeiro mês de 2013, a Prefeitura registrou perda de medicamentos, que estavam armazenados na assistência farmacêutica, na vila Dr. Laurindo. O prédio em que os remédios ficou alagado por conta das chuvas que caíram no município no final de dezembro de 2012 e início deste ano.

Segundo Manu, o volume de chuvas também chegou a afetar o Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”. “Entramos no dia 1º de janeiro numa situação caótica. Hoje, não tem mais problema. Estamos findando a tão sonhada reforma do pronto-socorro e o Barusso mudou a questão do tratamento”, falou.

O prefeito destacou, ainda, que o ex-secretário aumentou o número de médicos atendendo no ambulatório – atualmente, são quatro – e que, mesmo assim, a administração continua a “sofrer críticas”, sem especificar-se da Câmara ou da população. “Tenho certeza que o atendimento está chegando aonde queremos. Estamos a caminho de uma saúde que fará diferença”, acrescentou.

Manu citou, ainda em discurso, que o Executivo fez a aquisição de diversos veículos destinados à Saúde. Também lembrou que a Prefeitura obteve novas ambulâncias para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

Ele também disse que os secretários estão ajudando a administração a “consertar aquilo que não era possível” e que tentou adiar o desligamento de Barusso. Afirmou, também, que o novo secretário receberá uma pasta “melhor”.

“Não deixa de ser um grande desafio, Fábio. Estamos findando um ano e uma nova etapa vem chegando. Vamos ter um novo pronto-socorro, totalmente informatizado e uma nova regra interna de atendimento”, enumerou.

Manu também falou sobre a construção da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e do Cemem (Centro Municipal de Especialidades Médicas). Comentou, ainda, a respeito de conquista de duas verbas para a ampliação do Laboratório Municipal e para a construção de um Centro de Fisioterapia.

O prefeito falou, também, que o ano que vem será um ano de acerto (leia matéria nesta edição) e que como administrador não poderá “fazer milagres”. “Ainda no ano que vem, vamos acertar a casa, mas tenho certeza que no primeiro ano fizemos muito. Está aqui o exemplo de uma secretaria onerosa, dificultosa, que vocês viram o tanto de coisa que já foi realizada”, afirmou.

Manu destacou o volume de investimentos feitos pelo Executivo no segundo quadrimestre do ano. De maio a agosto, a Prefeitura investiu mais de R$ 19 milhões, conforme noticiado na semana passada pelo jornal O Progresso. “Isso para uma cidade de 115 mil habitantes, fora as pessoas que vêm da região, que às vezes nem conseguimos contabilizar”, acrescentou.

Com relação aos gastos públicos na área da Saúde, Manu disse que a situação de Tatuí é um reflexo do que acontece no país. “Não adianta. A saúde em todo lugar está difícil. Nós, por mais que existam críticas, temos uma maternidade que recebe a população da região inteira e uma área rural muito grande, que são pessoas que vêm se tratar nas nossas UBSs”, argumentou.

Para ele, conseguir arcar com os custos desse volume de atendimento é um desafio “grande” e que poderá ser vencido com “esperança, força e dedicação”.

“Tenho certeza que em 2014, vamos dar, realmente, um grande salto. Apesar de ser um ano de acerto, um ano de dificuldade, tenho certeza que vai ser muito melhor que 2013”, projetou.

Ao final do discurso, o prefeito disse que Tatuí vai comemorar, ainda no governo dele, “muitas obras de impacto e de mudança na qualidade de vida das pessoas que moram na cidade e da população que nasceu no município”.