AST está há cinco anos auxiliando surdos





Amanda Mageste

Tilli é a única professora do curso de Libras para surdos e ouvintes

 

A AST (Associação de Surdos de Tatuí) “Lúcia Arruda Bertolaccini” completou cinco anos no início de 2014. Segundo uma das fundadoras do local, Leonides Bertolaccini Rodrigues, conhecida como Tilli, a instituição enfrenta dificuldade para manter as atividades para assistidos, porém, “evoluiu consideravelmente” ao longo dos anos.

Tilli afirmou que a AST é uma das únicas associações para surdos da região. Por isso, atende pessoas de várias cidades vizinhas, como Boituva, Itapetininga, Cerquilho, Cesário Lange e outras.

A associação é mantida para ensinar Libras (Língua Brasileira de Sinais) a surdos e pessoas envolvidas com eles, além de ter objetivo de “levar cidadania e inclusão social para pessoas com dificuldade auditiva ou sem nenhuma audição”.

De acordo com Tilli, que é a professora de Libras da AST, desde que iniciou a instituição, as atividades e cursos oferecidos aos surdos são os mesmos, sem mudança perceptível.

“São as mesmas, praticamente, porque, para ensinar o surdo, alfabetizar o surdo, é tudo visual. A única diferença é que, no início, nós tínhamos lista de figuras. Hoje, temos retroprojetor, apostilas, melhoramos algumas coisas, mas a didática é a mesma”, afirmou Tilli.

De acordo com a professora, em todo sábado há “reuniões” com surdos na sede da AST. Lá, é possível que eles joguem pingue-pongue, pebolim, dardos e outros jogos. Apesar disso, ela sente a falta de mais lazer e entretenimento para os assistidos.

Para crianças, não há muita disponibilidade de lazer na sede da associação. Mas, Tilli tenta, “sempre que pode”, levar os menores para passeios em zoológicos e shoppings da região.

Outra atividade feita desde o início da AST é o acompanhamento de uma intérprete quando surdos necessitam ir a médicos, entregar currículos ou prestar esclarecimentos com a Justiça.

“Médicos, por exemplo, a gente vai marcar consulta, acompanha até o médico. De lá, já vai comprar remédios, se for necessário. Com empregos, ajudamos a montar o currículo deles, levamos para firmas, acompanhamos em entrevistas e ficamos um dia todo com ele no emprego novo”, salientou a professora.

Ainda de acordo com ela, acompanhamento na Justiça é algo que intérpretes são convocadas a fazer, e não vão somente por vontade de ajudar. Conforme Tilli, quase toda semana alguém da AST precisa comparecer ao fórum para auxiliar em algum acontecimento que tenha envolvido um surdo.

Ela contou que, na noite anterior à da entrevista (sexta-feira, 11), precisou dormir no hospital com um assistido que havia sofrido um acidente e não tinha acompanhante.

Apesar de ajudar com esses serviços, a professora disse preferir que algum familiar fizesse esse tipo de trabalho junto aos surdos. Porém, de acordo com ela, ainda é comum encontrar famílias com dificuldades em se comunicar por meio de Libras.

Aos sábados, alguns surdos que frequentam a AST treinam futebol na Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) “Professor José Tomás Borges”. O time Astec (Associação de Surdos de Tatuí Esporte Clube) participa de competições e possui um técnico profissional.

O técnico que auxilia no treinamento todos os sábados, às 19h, é surdo também, e se ofereceu para prestar os serviços gratuitamente aos jogadores, que já treinavam antes da chegada dele.

Cursos

A AST oferece cursos de Libras gratuitos para surdos da cidade e região, independentemente de idade. As crianças fazem aulas individuais na sede da associação e os adultos, em grupo na Emef “Professor José Tomás Borges”, nas noites de terças e quartas-feiras.

A professora contou que não há idade para iniciar o curso. Há, inclusive, um bebê de um ano já frequentando aulas de Libras na associação. No total, seis crianças participam, sendo que duas são de Boituva, uma de Cesário Lange e as outras três de Tatuí.

Às terças e quartas, na escola, há a possibilidade de inscrição de alunos ouvintes. Porém, para essas pessoas, a associação cobra uma taxa de matrícula e mensalidade durante o ano todo, para auxiliar a manutenção da instituição.

Conforme Tilli, não há matrículas abertas para início de novas turmas. As inscrições, normalmente, só começam no final do ano. Porém, ela afirmou que, se houver bastante procura, pode abrir uma turma para agosto.

“Ainda não sei se vai valer a pena. Se aparecer inscrições, a gente faz e já começa. Vamos divulgar. Se não der certo, os nomes ficam em lista de espera para novas turmas do ano que vem”, observou a professora.

Para informações e inscrições, basta enviar e-mail para tilibras@hotmail.com. A professora deverá responder a solicitação enviando uma ficha para matrícula. Antes de começar o curso, os alunos ganham uma aula experimental.

De acordo com a professora, a primeira aula grátis serve para que o aluno veja se realmente vai continuar com o curso, para não desistir no decorrer das aulas e tirar a chance de outra pessoa aprender.

Para surdos, a professora não cobra nenhuma taxa de inscrição ou matrícula do curso de Libras. Porém, ela exige que um familiar vá fazer o curso junto, para que a pessoa com dificuldade auditiva consiga se comunicar com outras que fazem parte do convívio diário dela.

A associação oferece bolsas de estudos para pessoas que atuam em áreas de atendimento ao público, como saúde, segurança e escolas. A professora afirmou que, neste ano, tentará abrir uma turma com pessoas que trabalham em setores de saúde.

“Tem muito surdo que precisa de atendimento e, às vezes, vai em um horário que não tem ninguém que saiba se comunicar. Mas, nós vamos escolher bem. Houve um ano em que 42 pessoas da área da Saúde iniciaram o curso e 9 terminaram”, comentou a professora.

Cada participante pode dar cinco faltas no decorrer do ano. Se passar disso, não será possível concluir o curso. Tilli é a única professora, porém, conta com ajuda de várias pessoas que já frequentaram o curso.

Mudança

Sob a administração do ex-prefeito Luiz Gonzaga Vieira de Camargo, a AST ganhou da Prefeitura, em comodato, um terreno para construir uma nova sede. De acordo com Tilli, o espaço foi entregue este ano. Ela afirmou, porém, que a instituição não mudará de endereço.

“Nós recebemos um terreno imenso, só que vai ficar muito caro para construção. Então, resolvemos não fazer, e ficar aqui mesmo. Porque o que os nossos surdos precisam mesmo é lazer. Não adianta fazer, construirmos e ficar um elefante branco”, afirmou Tilli.

AST

A AST possui diretoria com nove membros. Segundo a professora, também recebe auxílio de muitos voluntários que já fizeram curso de Libras por meio da associação.

Ainda conforme a professora, a entidade não recebe dinheiro de empresas ou da população. A verba para manutenção e compra de produtos de necessidade dos assistidos vem por meio do curso de Libras.

Tilli disse que já tentou parcerias com empresas da cidade, mas não obteve sucesso. “Já fomos atrás, mas ninguém falou nada. E eu não sei fazer isso direito. Teríamos que ter um diretor social que esteja para fazer isso, mas nós não temos o elemento humano para fazer essas coisas”.

Doações de população Tilli pede que sejam em equipamentos de lazer ou alimentos, para que ela possa completar cestas básicas e doar aos assistidos que passam por necessidades.

Apesar de haver pessoas com dificuldade auditiva passando por pequenos “apertos”, ela afirmou que não há surdos, assistidos pela associação, desempregados no momento. Há 38 empregados, distribuídos em vários estabelecimentos comerciais e fábricas da cidade e região.

Tilli também comentou que a associação precisa de uma mesa de pebolim nova. De acordo com ela, os assistidos gostam muito de jogar, e o equipamento já está velho. Além disso, a AST aceita doações de bolas de basquete, vôlei e futebol, ou produtos para lazer.

“Nós não queremos dinheiro. Queremos essas coisas, alimentos para fazermos passeios também, ou quando o time vai jogar fora, para ajudar nisso”, ressaltou a professora.

De acordo com ela, o time de futebol da associação está passando por dificuldades em participar de campeonatos por falta de uniformes e chuteiras. Portanto, segundo Tilli, seria interessante firmar parceria com empresas da cidade.

A sede da associação fica situada à rua 15 de Novembro, 1.298.

Festa do Pastel

A AST promoverá, no dia 9 de agosto, a partir das 18h, a Festa do Pastel, no salão da Igreja São Judas Tadeu. Tilli afirmou que ainda não fechou a programação do evento, mas haverá bingo para crianças e adultos.

Além do jogo, haverá apresentação do Coral em Libras e, provavelmente, atração musical que ainda não está fechada.

De acordo com a professora, toda a renda arrecada na Festa do Pastel será revertida para a associação.