Após Jogos, vôlei quer atrair mais atletas

Time masculino, que conquistou o título nos Jogos Regionais (foto: AI Prefeitura)

O 62º Jogos Regionais da 8a Região Esportiva do Estado de São Paulo, realizado no mês passado e sediado por Tatuí, em conjunto com as cidades vizinhas de Cerquilho e Boituva, deixou um legado esportivo para o município.

Tatuí obteve a melhor classificação geral da história da cidade, alcançando a quinta colocação, com 102 pontos conquistados. O melhor desempenho tatuiano deve-se, principalmente, às modalidades de judô e voleibol. Em ambos, o município garantiu ao menos o ouro ou a prata, nas categorias masculina e feminina.

O voleibol contou com o comando técnico Natalino Pedreschi Júnior, o Magoo, auxiliado por Dácio Vieira de Camargo Neto. A modalidade garantiu o título da categoria masculina e o vice-campeonato da feminina.

Entre 1987 e 1995, Magoo participou dos Jogos Regionais como atleta de voleibol e biribol, e, a partir do ano seguinte, iniciou trabalho como técnico. Neto está presente na competição desde 1991 e atuou no vôlei e tênis de mesa em 1993.

Magoo se mostra maravilhado pele posição alcançada. Segundo ele, por conta das dificuldades, não confiava em desempenho tão satisfatório.

“Foi maravilhoso, algo marcante. Foi sofrido para correr atrás, para montar e manter as equipes, mas o título e o vice-campeonato trouxeram uma gratificação tremenda, era algo que talvez ninguém acreditasse”, comentou o técnico.

De acordo com ele, a dúvida era pertinente, pois, até o início do ano, disputariam a modalidade apenas com a equipe feminina e o município não sediaria o evento.

Os Jogos Regionais tinham, além de Cerquilho e Boituva, Tietê como sede definida. Com a desistência dessa cidade, Tatuí recebeu e aceitou o pedido para realizar o evento, após 42 anos.

“Eu não poderia fazer um trabalho no município em apenas uma categoria. Teria que reforçar a equipe, já que as delegações viriam muito fortes, porque contratam atletas de fora”, declarou.

Outro ponto citado pelo técnico gerava dúvidas sobre o desempenho de Tatuí: as edições anteriores eram separadas por divisões e o município conseguiria um bom desempenho com as atletas locais, por pertencer à “segunda divisão”.

“Retiraram as divisões e precisávamos reforçar a equipe para chegar mais longe. Decidimos fazer um trabalho legal para a população ver que existe voleibol no município. Assim, trouxemos atletas de fora para mesclar a equipe”, contou.

Meninas garantiram medalha de prata (foto: AI Prefeitura)

Segundo Magoo, o time feminino acabou composto por 14 jogadoras, sendo quatro atletas de outras cidades. Ele conta que a ideia de criar uma equipe masculina partiu do jogador Igor Guillen.

“O Igor me falou para montarmos um time masculino para representar a cidade. Ele chamou três amigos dele e convidei outros três, todos nascidos em Tatuí. Precisamos de mais alguns de fora para fechar o grupo”, expôs o treinador.

“Montamos dois times competitivos, mas não acreditávamos que iríamos chegar aonde chegamos. Sentimos evolução das equipes durante o campeonato, quando eles se entrosaram e se tornaram uma verdadeira família”, revelou Magoo.

Guillen é nascido em Tatuí e atua profissionalmente há oito anos, tendo passagens por nove países da Europa e Oriente Médio. Segundo ele, não poderia ficar sem representar o município.

“Comecei a jogar vôlei com Magoo, vendo grandes jogadores de voleibol que a cidade teve. Tinha um compromisso, talvez maior que o título, de honrar e representar a cidade à altura”, expôs o atleta. “Tatuí tem uma história no voleibol, e fiquei muito feliz em fazer parte dela”, disse.

A jogadora Franciele Nataly já representou Tatuí em cinco edições anteriores dos Jogos. Entre disputas de voleibol e vôlei de praia, ela alcançou a quarta medalha da competição.

“Mesmo sendo a minha quinta vez no campeonato, foi muito gratificante. É sempre uma honra poder participar de um campeonato dessa importância e atuar com muita garra pelo esporte”, comentou Franciele.

Magoo diz que, até hoje, recebe mensagens nas redes sociais parabenizando-o pelos jogos realizados na competição. “Estou recebendo parabéns, pois fazia muito tempo que as pessoas não viam espetáculos nas quadras. A região não apresentava jogos de nível semelhante à Superliga (campeonato nacional de voleibol)”, observou o treinador.

Magoo e Neto organizam treinos de voleibol no ginásio do XI de Agosto (foto: Eduardo Domingues)

Atualmente, Magoo espera que o desempenho do voleibol, aliado ao fato de a disputa ter sido sediada em Tatuí, deixe um legado satisfatório para o esporte.

“A cidade sediar a competição trouxe a atenção da população e os resultados ajudaram. Quando somos campeões em outros locais, a imprensa divulga, mas não tem tanta repercussão. Depois, seguimos com as mesmas dificuldades para trabalhar”, apontou o técnico.

“Os Jogos Regionais foram uma nova semente plantada. Devemos cultivá-la para, no futuro, colher oportunidades para essas meninas”, completou.

Uma parceria entre a Prefeitura, por meio da Secretaria de Esporte, Cultura, Turismo, Lazer e Juventude, e a Associação Atlética XI de Agosto, rende a Magoo e Neto um projeto social para o esporte.

A iniciativa tem a intenção de montar uma equipe apenas com meninas nascidas no município, visando valorizar o voleibol e dar oportunidade para novas atletas.

Aproveitando o momento, o projeto deve realizar seletivas para a entrada de novas garotas. Em um primeiro momento, seria feita uma “peneira” com meninas de 9 a 11 anos e, depois, de 12 e 13 anos.

“A seletiva vai utilizar a repercussão dos Jogos para atrair mais meninas. Queremos treiná-las, para, em um futuro próximo, não termos a necessidade de trazer atletas de outras cidades para competir”, anunciou Magoo.

Segundo o treinador, será feita uma experiência nova. De acordo com ele, o projeto sempre recrutou meninas de 13 a 16 anos, mas, por conta de uma atleta, decidiram iniciar trabalhos com garotas mais jovens.

“A Lívia começou a treinar conosco com dez anos e, em menos de um ano, passou no teste da equipe do São Caetano. Mas, por motivos familiares, não pôde ir para a equipe e voltou a treinar conosco”, conta.

“Mesmo com apenas 11 anos, ela já integra a equipe do sub-19, é a líbero titular do sub-17 e atua na rede no time sub-15”, contou o técnico.

Segundo ele, a seletiva será aberta a todas as garotas interessadas e tem a intenção de receber, especialmente, as meninas do ensino municipal, de uma maneira organizada.

“Muitas pessoas pensam que o treino é somente para associados do XI de Agosto, mas não há essa restrição. Queremos atingir as escolas municipais”, conta.

“Podemos fazer a peneira com até 200 meninas, mas as selecionadas só poderiam começar a treinar após fornecerem documentos necessários para fazermos uma carteira de identificação”, explicou.

Conforme Magoo, o investimento em jogadoras mais novas pode aumentar o nível da equipe a longo prazo. Dessa maneira, Tatuí competiria na Liga Sorocaba e poderia entrar na Federação Paulista de Voleibol.

O treinador afirma que o esporte municipal deveria ser melhor explorado por patrocinadores. Segundo ele, os empresários têm receio de investir e não receber um retorno favorável.

“Os empresários de Tatuí precisam abrir mais a cabeça, enxergar que fazemos um trabalho que não deixa de ser um entretenimento, mas é uma mostra de que o esporte reverte em coisas boas”, alega Magoo.

“A mentalidade dos empreendedores tatuianos é de que eles cedem dinheiro em vão. Eles têm medo de investir, mas o dinheiro dará retorno social e de visibilidade”, argumenta.

De acordo com o comandante técnico, os empresários não têm consciência de que o incentivo deles poderia auxiliar as crianças a enxergarem que o esporte é uma oportunidade de vida.

Magoo desabafa, alegando que o município tem talentos em inúmeros esportes. Segundo ele, a cidade possui jogadores de futebol, basquete e voleibol de destaque no cenário nacional e internacional, contando, até, com atletas no beisebol.

“O município tem muita matéria-prima, mas falta apoio e incentivo para serem melhor lapidados”, reforçou o treinador.

“Hoje, existem importantes programas que qualificam os jovens para trabalhar, e isso é ótimo. Mas, o mercado de trabalho vai suportar a todos? Talvez, o esporte possa ser mais uma ferramenta para ajudar os jovens a se tornarem cidadãos mais saudáveis, educados e disciplinados”, finaliza.