Alerta do CVE de SP: acidente escorpiônico ou escorpionismo

É o envenenamento provocado por um escorpião quando este injeta seu veneno por meio do ferrão. Os escorpiões pertencem à classe dos aracnídeos (assim como as aranhas), predominantes nas zonas tropicais (como no Brasil) e subtropicais, tendo maior incidência nos meses mais quentes e úmidos (entre outubro e março). No Estado de São Paulo, há duas espécies principais que causam acidentes com seres humanos:

Tityus serrulatus: conhecido como escorpião amarelo. Possui pernas e cauda amarelo-claras e o tronco escuro. Mede até sete centímetros de comprimento. É responsável pela maior parte dos acidentes.

Tityus bahiensis: conhecido como escorpião marrom ou preto. Possui o tronco escuro, pernas e cauda marrons avermelhados com manchas escuras. Possuem cerca de sete centímetros de comprimento. São menos numerosos que o Tityus serrulatus em áreas urbanas.

Pessoas vulneráveis: são crianças abaixo de dez anos e idosos. Outros grupos: trabalhadores da construção civil, de madeireiras, transportadoras e distribuidoras de hortifrutigranjeiros, por manusear objetos e alimentos onde os escorpiões podem estar alojados, além de pessoas que permanecem grandes períodos dentro de casa (acamados, com problemas de mobilidade) ou nos arredores (como quintais), principalmente nas áreas onde sabidamente ocorre alta infestação do animal.

Primeiros-socorros

O que fazer: limpar o local com água e sabão; aplicar compressa morna no local; procurar o serviço de saúde mais próximo para que possa receber o tratamento o mais rápido possível; se for possível (com segurança e desde que não leve muito tempo, pois a prioridade é o atendimento médico urgente), capturar o animal e levá-lo ao serviço de saúde.

O que não fazer

Não fazer torniquete ou garrote, não furar, não cortar, não queimar, não espremer o local da picada; não fazer sucção no local da ferida; não aplicar qualquer tipo de substância sobre o local da picada (fezes, álcool, querosene, fumo, ervas, urina, pó de café, terra), nem fazer curativos que fechem o local, pois isso pode favorecer a ocorrência de infecções; não ingerir bebida alcoólica, álcool, querosene, gasolina ou fumo no intuito de tirar a dor, pois, além de não agir contra o veneno, ainda poderá causar complicações no quadro clínico; não colocar gelo ou água fria no local da picada, pois acentua a dor.

Sintomas

A dor local intensa é um sintoma que aparece logo após a picada, em 100% dos casos. Além da dor, podem ocorrer aumento da temperatura, inchaço leve, vermelhidão, arrepio dos pelos e suor no local da picada. Se a picada for na mão ou no pé (principais locais acometidos), esses sinais podem atingir todo o braço ou perna.

Posteriormente a estes sintomas, poderão ocorrer, principalmente em crianças abaixo de dez anos, aumento do suor pelo corpo, vômitos, agitação (devido à ansiedade, medo e dor), tremores, produção excessiva de saliva (começa a babar), falta de ar e respiração aumentada.

Portanto, se esses sintomas ocorrerem, mesmo que não se tenha visto o escorpião, deve-se pensar em acidente escorpiônico e correr com a pessoa acidentada para o serviço de saúde mais próximo (de preferência um pronto atendimento, pronto-socorro ou hospital).

Prevenção

Manter jardins e quintais limpos; evitar o acúmulo de entulhos, folhas secas, lixo doméstico e materiais de construção nas proximidades das casas; evitar folhagens densas (plantas ornamentais, trepadeiras, arbusto, bananeiras e outras) junto a paredes e muros das casas; manter a grama aparada; limpar periodicamente os terrenos baldios vizinhos, pelo menos numa faixa de um a dois metros junto às casas; sacudir roupas e sapatos antes de usá-los, pois aranhas e escorpiões podem se esconder neles e picam ao serem comprimidos contra o corpo; não por as mãos em buracos, sob pedras e troncos podres; usar calçados e luvas de raspas de couro para atividades em que seja preciso colocar a mão e pisar em buracos, entulhos e pedras.

O escorpião apresenta hábito noturno, e, assim, para evitar sua entrada nas casas, deve-se vedar as soleiras das portas e janelas quando começar a escurecer; usar telas em ralos do chão, pias ou tanques; vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos e vãos entre o forro e as paredes, consertar rodapés despregados, colocar saquinhos de areia nas portas, colocar telas nas janelas; afastar as camas e berços das paredes; evitar que roupas de cama e mosquiteiros encostem-se ao chão; não pendurar roupas nas paredes; acondicionar lixo domiciliar em sacos plásticos ou outros recipientes que possam ser mantidos fechados, para evitar baratas, moscas ou outros insetos que servem de alimento para os escorpiões; preservar os inimigos naturais de escorpiões e aranhas: aves de hábitos noturnos (coruja, joão-bobo), lagartos, lagartixas e sapos.

O escorpião é um animal originalmente de mata, mas se adaptou ao meio urbano devido à ocupação humana, que vem invadindo hábitats naturais dos escorpiões e facilitando a disponibilidade de abrigo em terrenos baldios com acúmulo de entulho, lixo e alimento em abundância, como baratas.

Alterações climáticas, por sua vez, têm elevado a temperatura, favorecendo uma maior atividade e reprodução desses animais e, em particular, do Tityus serrulatus, por sua característica partenogenética.

A forma mais adequada de se evitar o aparecimento de escorpiões nas residências é evitar o acúmulo de detritos e entulhos no terreno (tijolos baianos acumulados durante algum tempo), principalmente aqueles que possam atrair baratas, e servir de abrigo para o escorpião. Além disso, deve-se vedar frestas, vãos e ralos que permitam a entrada desses animais.

Fonte: www.cve.saude.sp.gov.br.

* Médico especialista em pediatria pela SBP e membro da SbIm.