Ah!, bons tempos no ‘Barão de Suruí­’

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Atendendo alguns amigos com quem estudamos no então Instituto de Educação “Barão de Suruí” – ou, como é carinhosamente conhecido, “Barão” -, escrevemos sobre a escola. Vamos tentar colocar no papel um pouco do tempo em que éramos jovens, tempo no qual estudávamos de forma despretensiosa e “sem pensar no amanhã”.

Para entrar na primeira série do Ginásio, tínhamos que fazer um curso preparatório para o exame de admissão. Quem nos ministrava aulas desse “pré-vestibular” eram o professor Mário Donati e a sua esposa, Maria Aparecida. Estudávamos dentro de um quarto no fundo da casa do professor, na rua Cônego Demétrio, onde viemos a conhecer suas filhas Ivone e Dora.

E, após aquela prova, entrávamos no “Barão”. A partir dali, a infância ia embora, a juventude chegava. Os cabelos ainda eram pretos, numa época quando nasceram, também, os movimentos musicais “Beatlemania” e Jovem Guarda.

Todas as modas passavam por ali. As meninas se produziam para ir à aula, mesmo dentro daqueles uniformes estranhos. E os rapazes treinavam muito futebol de salão, basquete e vôlei. Como eu não tinha muita aptidão com as bolas, resolvi migrar para a música.

Lembrei-me que tínhamos aula aos sábados, até às 17h. Porém, depois de certo tempo, o governo viu por bem abolir esse massacre.

Naquele tempo, no “Barão”, havia cursos direcionados para cada profissão que o aluno quisesse seguir. Exemplo: clássico, era para ciências humanas; magistério, para professor; e o científico, para carreiras como médico, engenheiro e outros.

E muitos amigos que vivem, ou viveram em Tatuí, vieram de fora para estudar aqui, já que o “Barão” foi uma das primeiras escolas públicas da região sudoeste e referência para muitas outras escolas públicas. Eles acabaram conhecendo moças e rapazes com quem namoraram, noivaram e constituíram famílias aqui.

No “Barão”, tivemos aula de francês, com o professor Ciríaco. Com sotaque puxado, ele chegava falando: “Comment allez-vous?”. E a classe respondia: “Très bien et vous?”.

As aulas de ciências eram com as professoras Julia Calixto – essa, muito brava – e a Carmem Leda, sempre dócil. Português era com os professores Ruedas e Borges, impecáveis na forma de falar, se vestir, davam aulas de terno.

Com os professores Paulo Ribeiro e Gleide, tínhamos aula de geografia. Ambos nos faziam viajar por todos os Estados brasileiros, em uma aula onde voávamos por todos os lugares que nos eram mostrados nos livros e mapas, pois não existia data-show nem telão.

Lembrei-me da professora Zuma Viscíglia, que me iniciou no aprendizado e me fez ficar apaixonado por história do Brasil, história geral. E, daí, para a história de Tatuí, foi um pulo.

Quando começamos a ter noção de trabalhos e artes manuais, o professor Mário Gallego nos remetia à sua sala, no porão do “Barão”. Olha que rima! E ali aprendíamos encadernar livros, esculturas, trabalho com cerâmica. Esse professor tinha um senso de humor muito apurado.

Nas aulas de educação física, os professores Jorge da Silva Fiusa (Cunco) – pai dos meus amigos Cláudio, Bebeto, Jocelyn e o Afonso – e Marcos Guedes nos davam exercícios de tirar o fôlego. Eles nos davam noções de ginástica, de como ter uma vida saudável. Nunca me esqueci do primeiro tênis, era da marca Germade, à venda na casa Zani, do Ari Zani, da rua Prudente de Moraes.

E, dessas aulas, saíam os times para as acirradas disputas contra os da Escola Industrial. Nesse tempo, havia uma rixa muito forte entre as duas escolas, sendo que, às vezes, quase acabava em briga. Porém, como o tempo foi passando, alguns rapazes do “Barão” se enamoravam das meninas da Industrial e vice-versa. As coisas foram se acomodando, e isso acabou.

Foram criados festivais de música no salão nobre da Industrial, e uma das primeiras vezes que pisei num palco foi ali. O show teve o nome de “Fornalha de Ritmos”, e foi realizado por um grupo de pessoas chamado Jata (Juventude Amiga de Tatuí), que, inclusive, vendia jornaizinhos feitos com mimeógrafos, vendidos após a missa das dez.

Ah! As festas juninas do “Barão” eram incríveis. Nos anos 70, formaram uma quadrilha e eu fui o padre, mas também dancei com a noiva. E os meus coroinhas foram Reizinho e o Geraldo Cárdenas.

Com discurso bem elaborado, com nomes sugestivos e com o toque do sino emprestado do senhor Jair, que era inspetor de alunos, para dar um toque mais sacro na solenidade do casamento em que o José Roberto Carneiro casava com a Vanda.

Eu dei tão certo como padre que acabei ganhando uma batina velha do padre Pássaro. Ela era pequena para mim, mas minha mãe aumentou. E a usamos por muito tempo.

Em uma dessas festas, conheci o “Pássaros Vermelhos”, o primeiro conjunto musical que me estimulou a criar os Johnnies. Porém, logo após, os integrantes mudaram o nome da banda para Filtsoms. Ela era formada por Maurício (guitarra), José Carlos Tambelli (guitarra/base), Fia (baixo), Lauri (bateria), Zé Paulo (piston), Tato (órgão) e Bigorna (sax).

O sistema de som do ambiente era feito com um bando de cornetas espalhadas pelo recinto e amarradas em árvores. E, na supervisão, Hélio Costa, pai da Carolina (casada com o Kico Sá) e da Anery (casada com o Cajo Rosa), que, com seus equipamentos da marca Sedan, animava as festas. O Hélio era uma figura carismática e sempre muito alegre.

Nessas festas, as quadras do “Barão” ficavam superlotadas, e nunca ocorria qualquer desentendimento. Ah, agora quero fazer um comentário sobre o que vivi:

Você já se imaginou aluno do seu próprio pai em matérias difíceis, como matemática e física? Pois eu passei por isso com o meu pai, professor Diógenes Vieira de Campos, hoje nos seus 95 anos. E a forma de pensar era duas pelos colegas.

Quando chegava em casa, tinha que estudar de forma muito dedicada. E, aí, os colegas de classe pensavam que, se eu fosse bem na prova, era porque meu pai tinha me mostrado antes. Coisa que nunca aconteceu. Se fosse mal, eu ficava numa cintura fina, e lá em casa a conversa era dura.

As aulas de Inglês com os professores Laerte e Maria. Nasciam, ali, as primeiras noções da cultura americana, os Beatles na vitrola e o mundo começando a viver o processo de americanização.

No decorrer do curso, não me lembro se na quarta série ou no colegial, nos foi apresentado o latim, uma língua complicada, cheia de palavras difíceis. Mas, graças ao professor José Menezes Bueno, casado com a dona Terezinha Menezes e pai do Fábio, Fernando, Eduardo e Manuel, aprender ficou mais fácil.

Ele nos mandava entrar na Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, aqui em Tatuí, olhar para o teto, anotar as palavras e procurar o significado de cada uma delas.

Lembrei-me, também, de certa vez que Tatuí recebeu a doação de um bonde. Ele veio de São Paulo em cima de uma Jamanta, para ficar defronte ao “Barão”.

Recordo-me que a nossa turma resolveu montar um esquema de venda de lanches dentro do tal bonde, a fim de conseguir dinheiro para a formatura. Mas, o tempo foi passando e, lá, infelizmente, também existia o vandalismo. Acabou virando um banheiro público, onde exalava um cheiro forte de urina e outras coisas mais. Daí, foi levado embora. Só ficou a saudade.

Também não poderia me esquecer de comentar sobre os desfiles com a fanfarra do “Barão”, que era grande. Havia uma união com músicos do Conservatório. O resultado soava bonito e forte.

Porém, as peles dos instrumentos, como caixa, repique, surdos, general, eram de origem animal, e, para se encourar, era uma maratona, pois a pele era mergulhada em água por dois dias, para amolecer bem, e, nisso, ficava um cheiro de podre.

Lembrei-me dos apitadores da fanfarra. Um dos primeiros foi o nosso amigo Dirlei do Amaral. Depois, veio o Valter Leite (Carioca), que até criou um grito de guerra na cadência da marcha que era assim:

“Tea – tá – tu – í, o Instituto de Educação Saúda Tatuí. Parabéns!”. Aí, a “furiosa” atacava mais firme ainda. A seguir, ele puxava o piston e, com outros músicos, tocava “Eu Te Amo Meu Brasil”… As mulheres, com suas bicicletas, com o cano baixo, colocavam cestas de flores no guidão e vinham se equilibrando e bailando sobre as duas rodas.

Quando se precisava de um discurso bem escrito e fundamentado para algum evento, tínhamos muitas opções, como as professoras de português: minha irmã Maria Eugênia, Cimira, Leila, Almira Porciúncula e outras. Outra matéria muito difícil de estudar era química, com o professor Thompsen, cujo filho era muito amigo do Aurélio da caçamba.

Eu quero citar, aqui, muitos professores que, graças a Deus, deram muito de si para que todos nós e todos que passaram pelo “Barão” pudessem chegar a algum lugar. Relembro os professores: Brasilísia de Camargo Barros, José dos Santos, Cimira Cameron, Leila Menezes da Silva, Maria Eugênia, Diógenes, Acassil, Preta, Aline, Neide Barth e outros. Peço desculpas se acaso esqueci-me de alguém.

Tivemos aula, também, com o professor José Celso de Mello, pai do nosso grande e respeitado ministro Celso de Mello. Ele nos dava aula de desenho geométrico.

Bem, naquela época, o mundo iniciava sua corrida para o Cosmos (Lua) e a Rússia e os Estados Unidos começavam a mandar os seus foguetes com animais e, depois, com tripulantes. E, lá no “Barão”, o professor Acassil, muito envolvido com essa arte e pesquisas, resolveu criar o EMA (“Estudo de Mísseis e Aeromodelos”), e até um telescópio foi montado para podermos ver as estrelas.

Bem, como eu tinha algumas dificuldades em algumas matérias, minha mãe conseguia alguns externatos (reforços) com a Ana Maria, Marilene Millen, Luiz Antonio Longanesi e Celi Pavanelli que me aguentaram por um longo tempo e em várias matérias.

Outro fato pitoresco foi quando houve uma reforma em algumas salas da escola e fomos levados para outras salas no prédio anexo, onde funcionava a Escola Modelo. Lá, havia o senhor Gervásio, que fazia um bolinho com carne moída e, quando fritava, quase nos matava de fome com aquele cheirinho que eu não me esqueço. E, se você comeu, também nunca se esqueceu.

Mas, para mim, não sei por que coincidiu com o tempo do The Johnnies, eu gostava de aula de música, de orfeão, coral, com a professora Aline e o professor José dos Santos, onde, naquela sala do anfiteatro, mesmo sem a acústica muito perfeita, as harmonizações vocais em quatro vozes nos causavam um arrepio na coluna.

Lembrei-me da “Valsa do Professor”, “Hinos Pátrios”, “Sinfonia da Pátria”, quando gravamos um disco em São Paulo e muitas apresentações no Cine Santa Helena, Concha Acústica, pois o Conservatório ainda não existia.

Entre alunos e funcionários, existia um grande respeito, e me lembrei da dona Benedita Pereira, uma servente muito alegre. Certa vez, fui na casa dos meus colegas e irmãos José Roberto e o Geraldo, hoje, Pavanelli. E, ali, vim a descobrir que a dona Benedita era mãe deles.

Bem, após milhares, centenas de formandos desde o seu início, em 1931, a hoje Escola Estadual “Barão de Suruí” vive um novo sistema educacional, sendo que o período é integral, bem administrada pelo professor Marcelo Miranda.

Tendo em vista uma séria contenção de gastos, à noite, o prédio fica totalmente apagado. Entendemos a estratégia da economia, mas, como sugestão, poderia ter uma lâmpada com o foco direcionado ao nome E. E. “Barão de Suruí”, para que seja visto e respeitado como “templo do saber”.

Forte abraço a todos.