Acesso a serviços não é limitado em Tatuí





Cristiano Mota

Sala de fisioterapia montada a partir do Rotary Club está sem uso; espaço depende de voluntários para poder oferecer atendimento

 

Nilson dos Santos Ribeiro é professor de braile (sistema de leitura para cegos que usa o tato), deficiente visual e assistido pela Apodet (Associação de Portadores de Deficiência de Tatuí). Apesar de ter somente 3% da visão, ele diz que não encontra dificuldades para acessar os serviços públicos.

Ribeiro também leciona computação na associação e afirmou que, no município, existem órgãos preparados para atender pessoas com deficiência visual.

“Se eu for comprar uma casa, por exemplo, o cartório oferece o contrato em braile para a gente ler. Então, para algumas coisas, há facilidade”, destacou.

O professor relatou que agências bancárias contam com adaptação de equipamentos (caixas eletrônicos) para a leitura em braile “há muito tempo”.

“O que vemos é que dificuldades são encontradas pelas pessoas todos os dias, mas quem conhece braile não tem tantos problemas”, argumentou.

Ribeiro conheceu o braile em 1998, quando decidiu se alfabetizar. Ele frequentou curso em Sorocaba, porque tinha como meta ajudar pessoas como ele (com limitação ou sem visão alguma) a se tornarem mais autônomas.

“Eu não ligo de dividir meu conhecimento, mas o problema são as pessoas mais adultas. Gosto de lecionar para crianças e jovens, que aprendem mais rápido. As pessoas mais velhas têm mais dificuldades e acabam desistindo”, comentou.

Ribeiro contou que levou seis meses para aprender a ler em braile, apesar de ter tido problemas com relação ao material didático. Em 1998, a quantidade de livros adaptados era pequena, quase escassa. Com força de vontade, ele conseguiu superar os desafios e, mais tarde, formou-se em computação.

Por conta disso, Ribeiro dá aulas de informática na Apodet, para deficientes visuais. Os alunos conseguem absorver o conteúdo por conta de sistema de leitura de tela.

A prática da leitura é realizada por meio de livros, disponibilizados pela entidade em uma biblioteca. Os volumes à disposição dos assistidos pela Apodet incluem best-sellers, como “Harry Potter” e “O Senhor dos Anéis”.

De modo a estimular a leitura, a associação disponibiliza, ainda, livros em áudio. São CDs que podem ser executados em computador ou em aparelhos de som.

O número de pessoas assistidas pela Apodet por meio dessas iniciativas (curso de braile e de computação) varia. “Aqui, fica na faixa de 12 pessoas de diferentes faixas etárias”, contou o professor.

As aulas acontecem toda quarta-feira, no período da tarde. No mesmo dia da semana, a entidade recebe os assistidos para uma confraternização, iniciada pela manhã e seguida de almoço.

A Apodet realiza reuniões somente às quartas-feiras, em função de não contar com equipe suficiente para atividades nos demais dias da semana. A entidade, no entanto, mantém secretaria aberta de segunda-feira a sexta-feira.

Por conta de parceria com a Prefeitura, ela mantinha, até 2013, serviço de fisioterapia para os assistidos. De acordo com a assistente social da Apodet, Kelly Barbara Gonçalves, o Executivo cedia um profissional (uma fisioterapeuta) para as sessões. No momento, ela ainda não retornou.

Também segundo a assistente, mesmo que a fisioterapeuta retomasse as atividades, a entidade teria dificuldades em oferecê-la. O motivo é que a associação não dispõe de recursos para buscar os assistidos em suas residências.

Em função disso, as atividades da fisioterapia, as aulas de braile e de computação acontecem todas num mesmo dia. Ao todo, 60 pessoas são assistidas pela Apodet. Boa parte participa das confraternizações e do almoço oferecido semanalmente (todas as quartas).

O cardápio é definido pelos próprios associados e o preparo é “revezado” entre os funcionários, voluntários e as famílias dos assistidos. De acordo com a assistente social, todos contribuem para o almoço, com alimentos ou cozinhando.

A equipe atual da Apodet é composta por oito pessoas, entre funcionários contratados e voluntários. Entretanto, mais seis seriam necessárias para que outros atendimentos pudessem ser agregados.

“Entres os profissionais que precisamos, está um fisioterapeuta e uma professora de mobilidade”, disse a assistente social.

Conforme ela, o salário de um profissional dessas duas áreas está acima do poder econômico da associação. “Eles custam, na faixa, R$ 3.000 por mês”, disse Kelly Barbara. “Mantê-las se tornaria impossível”, complementou.

As aulas de mobilidade são consideradas fundamentais para os deficientes que frequentam a associação. De acordo com a assistente social, a Apodet contava com apoio de uma profissional da área até pouco tempo atrás. “Ocorre que ela recebeu uma proposta melhor, e está trabalhando em Sorocaba”.

Buscando compensar a falta de profissionais, a entidade disponibiliza outras atividades aos assistidos. Uma delas é a aula de artesanato, na qual os deficientes trabalham com pintura em tecido e preparam caixas de presentes.

Em Tatuí, a entidade atende todo tipo de pessoa com deficiência (mental, visual, auditiva e motora). “Entretanto, o foco são os que não conseguem enxergar, ou têm dificuldades”, afirmou a assistente social. Esses fazem aulas de braile das 8h às 12h. Depois, almoçam e fazem artesanato até o período das 17h30.

Nos demais dias da semana, os assistidos podem ir à entidade apenas para “lazer”, já que não há projetos ou cursos sendo desenvolvidos, por falta de voluntários.

“Como, infelizmente, não temos recursos, escolhemos um único dia da semana para trazê-los. Para manter o que oferecemos, contamos com a ajuda de pessoas físicas e de empresas parcerias”, falou Kelly.

Conforme ela, a entidade tem planos de aumentar a quantidade de serviços oferecidos. A intenção é de disponibilizar atendimentos em fisioterapia diariamente.

Para isso, a Apodet deve voltar a buscar apoio da Prefeitura. A assistente social afirmou que vai sugerir ao Executivo disponibilizar um profissional da área e, em contrapartida, ceder o espaço para uso da população.

Também neste ano, a associação quer retomar o bazar permanente. A iniciativa havia sido suspensa por conta da qualidade das peças doadas.

Segundo Kelly, muitas das peças entregues à entidade não apresentavam condições de uso adequadas para serem comercializadas, inviabilizando o bazar.

“Estamos com pouca quantidade, mas aguardamos por novas doações. Se elas vieram, nós, com certeza, vamos retomar esse evento, que é importante”, disse.

Potenciais voluntários também podem visitar a entidade, que funciona na rua Coronel Aureliano de Camargo, 704, no centro. O atendimento é das 8h às 17h.

Trabalhos extras

De modo a oferecer melhor qualidade de vida aos assistidos, a associação também promove a inserção dos familiares. A intenção é aproximá-los da instituição e, com isso, verificar quais são as necessidades dos deficientes em suas casas.

Num segundo estágio, a assistente social afirmou que a meta é promover visitas às residências para verificação das condições de vida dos deficientes. O trabalho, posteriormente, seria estendido aos familiares das pessoas atendidas.

De momento, Kelly afirmou que a prioridade é atender aos deficientes na instituição. “Fazendo isso, nós já os estamos ajudando e aos familiares deles”.

Esse trabalho também permite que a entidade não extrapole o caixa. Atualmente, a Apodet continua a operar no “vermelho”. “Todo mês falta, e não é novidade para ninguém. Às vezes, falta para pagar funcionários; outras, para comprar algumas coisas, mas vamos levando”, falou a assistente social.

De acordo com ela, as dificuldades são superadas com apoio dos próprios assistidos. Como a associação representa o único espaço de lazer que eles têm, a assistente social afirmou que eles contribuem da maneira como podem.

“Alguns dão dinheiro, outros compram mantimentos, mas a gente segue na luta, que é semanal, para que possamos continuar na ativa”, destacou a funcionária.

São assistidos, em Tatuí, deficientes da cidade e dos municípios de Guareí, Cesário Lange, Capela do Alto e Quadra. “Toda região vem até nós, porque somos a única instituição da região que oferece esse tipo de serviço para os deficientes visuais e intelectuais. Então, somos referência”, declarou a assistente.

Para manter a estrutura atual, a entidade recorre ao apoio da população. A Apodet aceita doações em mantimentos, itens de limpeza, de higienização e em dinheiro. Os valores podem ser depositados via boleto mensal. Os detalhes são obtidos na sede da própria entidade, ou por meio do telefone 3305-2461.