Acessibilidade para as pessoas com deficiência é um desafio para Tatuí­





Jheniffer Sodré

Nilson Ribeiro acessa a internet com a ajuda de um software que narra o que está escrito na tela do computador

 

Andar pelas ruas da cidade pode ser um desafio para quem depende de cadeira de rodas para se locomover, ou para quem não enxerga os obstáculos encontrados pelo caminho.

Para Vera Lúcia Amorim, que teve poliomielite (paralisia infantil), possuir uma cadeira de rodas motorizada não tem sido vantajoso. “A minha cadeira é ótima, daria para andar por toda a cidade, mas não consigo sair sozinha na rua”.

Até cinco anos atrás, ela ainda conseguia se locomover com a ajuda de muletas, mas, desde então, precisa do auxílio da cadeira de rodas. Vera relata que as dificuldades começam assim que ela sai do portão de casa.

“As rampas são muito inclinadas, e, por isso, tenho medo de descer ou subir sozinha. As calçadas são estreitas, têm árvores, postes ou buracos. Então, eu tenho que andar na rua, o que me dá muito medo, pois é cheia de caminhões, ônibus e carros”.

Em relação às rampas, ela reclama que “as pessoas parecem não ter ideia de como se faz uma rampa acessível”. “Às vezes, a gente encontra algumas que parecem que são para o cadeirante se machucar, são muito inclinadas. Em algumas, não é possível subir sozinha, pois exigem muito esforço”.

As lojas, segundo ela, também são um problema para os cadeirantes, assim como para outros deficientes.

Algumas entradas são estreitas, há degraus, os provadores nem sempre comportam uma cadeira de rodas e nem todos os atendentes estão preparados para atuar com esse público.

“A gente quer fazer compras, mas não é possível. Sempre tem que estar acompanhado de alguém, para tudo. Nós, deficientes, somos consumidores também, mas parece que o comércio ainda não entendeu isso”, reforça Vera.

Para ela, o maior problema da falta de acessibilidade é a perda da independência. “A gente acaba ficando muito dentro de casa porque depende de alguém para ir ao médico, fazer compras, ou ir a algum evento cultural”.

O professor de Braille e informática Nilson dos Santos Ribeiro é deficiente visual e também sente falta de ser mais independente nas atividades do dia a dia.

Apesar das dificuldades, ele faz parte do Conselho do Direito da Pessoa com Deficiência e ministra aulas, como voluntário, na Associação dos Portadores de Deficiências de Tatuí (Apodet), há três anos.

Toda quarta-feira, Ribeiro sai de casa para dar aula a aproximadamente 15 alunos na sede da associação. Alguns fazem aula de Braille e informática e outros escolhem apenas um assunto.

Ele reforça que as aulas são importantes para integrar os deficientes visuais. Nas aulas de Braille, os alunos aprendem a ler e escrever, e na de informática, acessam o Facebook, e-mail e escrevem textos.

“Nós brigamos pela acessibilidade da pessoa com qualquer tipo de deficiência, e não é só no que diz respeito à locomoção, embora as demandas nesse quesito sejam mais faladas e urgentes, em alguns casos”, destaca o professor.

Ele relata que, para os deficientes visuais, o piso tátil é a principal reivindicação para que as pessoas possam andar com mais segurança e facilidade pelas ruas.

Ribeiro explica que nem todo deficiente consegue se localizar bem, por isso alguns acabam ficando perdidos em alguns pontos da cidade.

“Na rodoviária, por exemplo, quando a gente desce do ônibus, tem duas entradas. Eu consigo me localizar bem, mas tem gente que se perde”. Os estacionamentos abertos também são uma grande dificuldade, na opinião do professor.

Ele relata que alguns deficientes visuais acabam entrando sem querer e acabam ficando perdidos dentro do estacionamento no meio dos carros.

“Nesses lugares abertos é importante ter o piso tátil para que as pessoas não se percam. Seria o ideal ter na cidade toda, mas pelo menos em lugares abertos já seria um avanço”, argumenta Ribeiro.

Ele também reclama que os atendentes do comércio, de um modo geral, não estão preparados para as pessoas com algum tipo de deficiência.

“Eu nunca fui fazer compra no supermercado sozinho, mas acho que não seria difícil o estabelecimento ter um funcionário para nos auxiliar. Seria lucrativo para eles também, porque somos consumidores e vamos gastar”, reforça o professor.

O uso indevido das vagas reservadas para deficientes também é uma reclamação de Ribeiro. Para ele, os guardas precisam multar as pessoas que não respeitam esse direito, seja do idoso, seja da pessoa com deficiência.

A educadora física Vanessa Junia Cortol é técnica de orientação e mobilidade e também ministra aulas na Apodet. Ela é especializada em deficiência visual e comenta que os alunos reclamam da falta de acessibilidade.

“Os deficientes visuais têm menos dificuldade de acesso que os cadeirantes, por exemplo, mas mesmo assim, a acessibilidade é terrível para todos eles, independente da cidade onde moram”, afirma a educadora.

Ela comenta que Tatuí possui o agravante de ter muitas ruas de paralelepípedo e calçadas estreitas. “E ainda existem pessoas que insistem em colocar sacos de lixo no meio do passeio”.

Vanessa explica que o papel dela na associação é ensinar os alunos, principalmente os deficientes visuais, a andar na rua utilizando a bengala e a enfrentar os obstáculos das vias.

“O objetivo principal é reabilitá-los para que eles tenham independência, possam entrar no mercado de trabalho e consigam enfrentar os desafios do dia a dia”.

Na opinião da educadora, os comerciantes também deveriam trabalhar em prol da acessibilidade no município, e não apenas o poder público.

“Hoje, os deficientes saem mais de casa e querem fazer compras. Então, os lojistas deveriam se qualificar para atender esse público, que é cada vez maior”.

A principal forma para melhorar o acesso, segundo Vanessa, é por meio da “conscientização da sociedade”, seja por meio de campanhas ou palestras nas escolas, por exemplo.

“Precisamos trabalhar a cidadania para que as pessoas se conscientizem sobre o assunto e percebam como o mundo fica mais complicado quando se é idoso ou deficiente”.

Ela reforça que “a independência é importante para todos”. “Então, temos que proporcionar isso para os deficientes também, para que eles não precisem ficar dentro de casa ou necessitem sempre da ajuda de alguém”, finaliza Vanessa.

A assistente social Bárbara Gonçalves lembra que 25% da população tatuiana têm algum tipo de deficiência, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Esse é um número muito grande, e a gente não pode fingir que não existe. A acessibilidade é ruim em diversas cidades, e não só em Tatuí, e, por isso mesmo, algo precisa ser feito para mudar. O que não podemos fazer é excluir essas pessoas do convívio”, frisa a assistente social.

A presidente da Apodet, Solange Abude, comenta que já vem sendo feito trabalho em conjunto com a Prefeitura para melhorar a acessibilidade no município.

“Já fizemos um trabalho com o Departamento de Trânsito e Transportes, e percebo que todos têm se empenhado. Tem muito coisa para fazer, então tem que ter paciência”.

Atualmente, a associação atente cerca de 40 alunos e oferece aulas de Braille e informática, orientação e mobilidade, academia, artesanato, fisioterapia, além da sala de convivência. Todas as atividades são gratuitas e sem critérios de faixa etária.

Fórum ‘Sou Capaz’

Na próxima quarta-feira, 23, será realizado o fórum “Sou Capaz”, que tem como objetivo promover a inclusão profissional das pessoas que possuem algum tipo de deficiência.

O evento é promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e acontecerá na sede do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), em Sorocaba.

Durante o encontro, os empresários vão receber diversas orientações sobre o preenchimento da cota obrigatória – que, se não for preenchida, pode resultar em multa.

A Secretaria da Indústria, Desenvolvimento Econômico e Social de Tatuí está formando uma caravana para facilitar o acesso dos empreendedores locais. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 3251-2056.