Academias seguem ativas na quarentena

Luciana (a direita), pede para que o público mais velho e em reabilitação, tenham cuidado com os treinamentos na residência (Arquivo pessoal)
Da reportagem

Considerado serviço não essencial, as academias estão com as atividades suspensas por tempo indeterminado. Os estabelecimentos são obrigados a respeitar as medidas de enfrentamento à pandemia decorrente do coronavírus.

No entanto, alguns têm buscado alternativas para manterem os alunos ativos neste período de quarentena. Além das recomendações para manter-se em isolamento social e lavar as mãos com água e sabão ou usar álcool em gel, os educadores físicos cobram que os alunos continuem se exercitando nas residências.

Alex Mota, proprietário da Academia Estação – que possui duas unidades no município -, apontou a a dificuldade para se atuar no momento, pois “a quarentena pegou a todos de surpresa”.

Impossibilitado de trabalhar em contato direto com os alunos, neste momento, Mota conta ter criado um grupo no WhatsApp com todos os alunos. Nele, diariamente, são postadas uma bateria de exercícios para que os alunos possam fazê-los em casa.

“Nossos professores gravam a execução do exercício, utilizando materiais que têm na casa, como botijão de gás, balde cheio de água, pacotes de alimentos. Estamos adaptando as atividades para que nossos alunos possam, pelo menos, se manterem ativos durante a quarentena”, comentou.

O empresário reforça que a academia oferece todo o suporte e consultoria aos alunos para que, ao término do período de isolamento social, possa tê-los novamente como clientes, porém, sem qualquer custo.

“Tivemos uma preocupação com a parte financeira dos alunos. Entendi que não seria legal cobrar deles neste momento, visto que há muitos alunos nossos que correm o risco de continuarem na casa sem poder voltar a trabalhar”, declarou Mota.

Para possibilitar que a rotina de treinamentos fosse mantida, outra academia tatuiana de “crossfit”, orientada pelos professores Estevão Aleixo, Renato Oliveira e Bruno Ribeiro – decidiu disponibilizar os equipamentos, como pesos e cordas, para que cada um dos alunos pudesse levá-los e utilizá-los em casa.

Normalmente, a academia usa um aplicativo para publicar os treinamentos a serem aplicados em determinado dia. Conforme Aleixo, esse aplicativo continua disponível aos alunos para que eles mantenham os treinos.

“Com o aplicativo, podemos manter e estimular as capacidades físicas dos alunos com algumas adaptações de equipamentos e exercícios, assim como seria feito na academia”, indicou o professor.

Além disso, segundo Aleixo, foi criado um canal da academia no YouTube e um podcast no Spotify. Através da plataforma online de vídeo, os professores postam, diariamente, as demonstrações dos movimentos de cada treino, para que todos façam de maneira segura.

De acordo com o professor, a academia ainda elaborou uma campanha entre os alunos, denominada “#SpaceEmCasa”. Eles são estimulados a filmarem e postarem fotos e vídeos treinando na casa, e o aluno que se manter mais ativo deve ser premiado ao término da quarentena.

Aleixo contou que os professores ainda têm mantido contato com os alunos, via WhatsApp.

Ana Paula Campos Costa e Diego Luna Cabral, alunos de academia de crossfit, ressaltam que têm recebido suporte e incentivo para que não deixem de se exercitar durante a quarentena.

“Óbvio que eu preferiria treinar na academia, ao invés de em casa. Porém, a intenção é para que não fiquemos com os corpos ‘enferrujados’. Desta forma, quando a rotina for retomada, não voltaremos ‘do zero’”, reconhece Ana Paula.

“Os treinamentos auxiliam a manter a saúde mental. Ficar em casa, sem poder sair para fazer nada e impedido de fazer nossos hobbies é muito ruim, podendo gerar até uma crise de ansiedade”, complementa.

Segundo a aluna, a possibilidade de poder treinar com o namorado é benéfica para ela, pois Cabral a incentiva e lhe dá mais ânimo durante as atividades físicas. “Parece que treinar sozinho na casa acaba desmotivando um pouco”, reconhece Ana Paula.

Questionados sobre o que farão quando o período de reclusão terminar, tanto Ana Paula quanto Cabral sinalizaram o desejo de visitar os amigos e familiares, além de retomar à rotina de treinamentos.

Terceira idade

Por sua vez, a treinadora pessoal Luciana Gonçalves pede para que os sedentários – o público mais velho e em reabilitação, particularmente, além de pessoas que ainda não possuem “consciência corporal” -, tenham cuidado com os treinamentos em casa.

Segundo a treinadora, há três tipos de pessoas se exercitando neste período. Um dele são os alunos que frequentam as academias há determinado tempo e têm consciência corporal. “Porém, treinos na casa não serão muito eficientes para eles, pois estão acostumados com uma carga mais alta”.

Também existem as pessoas que vão às academias e não têm “consciência corporal sozinhas”, necessitando de um profissional junto, para orientá-las. E, ainda, segundo ela, há os sedentários, “que estão tentando tornar-se ‘fitness’ durante a quarentena”.

“Há pessoas que não costumam se exercitar e estão querendo começar isso na casa, porém, elas não têm consciência corporal, pois isso é algo que se adquire com o tempo”, indicou. “Se a pessoa tentar fazer algo em que o corpo não está preparado, pode acabar se machucando”, alerta Luciana.

Além da falta de potência corporal, a profissional aponta que, sem a estrutura existente em uma academia, a pessoa “com sedentarismo” não possui espelho para observar quais movimentos devem ser corrigidos.

“Sem a consciência corporal e o cotidiano da pessoa que está ensinando no vídeo, o sedentário não conseguirá fazer igual. Ou ele irá desistir ou se machucar”, argumentou.

Luciana contou que fez vídeos para os alunos dela, mas, por estarem longe de aparelhos, dos quais estão familiarizados, alguns tiveram dificuldades. “Uma aluna minha, acostumada a se exercitar na academia, me disse que seguiu os exercícios e ficou com uma dor na perna que ela não tinha antes”, revela.

“Mesmo sendo especialista em musculação, tenho dificuldades para realizar exercícios de pilates, por exemplo, quem dirá as pessoas que iniciaram na atividade agora. Nós temos que motivar o movimento, mas até o ponto em que ele é seguro”, reforça Luciana.

A treinadora física ainda destaca que os treinos coletivos servem para as pessoas já acostumadas com a atividade e que possuem certo condicionamento físico.

“É preciso fazer um treino individual para cada pessoa, pois não é todo mundo que tem uma estrutura física que aguente realizar todos os tipos de exercício”, observa Luciana.

Ana Paula e Diego, ressaltam que têm recebido suporte e incentivo para que não deixem de se exercitar (Arquivo pessoal)

Imunidade

O fisioterapeuta Leonardo Vieira de Oliveira reconhece a importância dos exercícios físicos para a saúde. Como benefício, ele destaca a liberação de hormônios, sendo a endorfina um deles, responsável pelo bem-estar do ser humano.

Até o momento, segundo o profissional, não foi realizado nenhum estudo evidenciando a prática de atividades físicas como prevenção ao Covid-19. No entanto, Oliveira informa existirem pesquisas publicadas comparando os benefícios dos exercícios em relação ao sistema imunológico.

Um estudo publicado na Revista Brasileira de Medicina do Esporte, em 2012, por Rodrigo Terra e colaboradores, concluiu que a atividade física é benéfica, porém, deve haver cuidado na intensidade e volume. Assim como Luciana, o fisioterapeuta recomenda os exercícios de moderada intensidade.

“Os exercícios de alta intensidade podem aumentar a possibilidade de infecções, pelo fato de ocorrer a liberação de citocinas anti-inflamatórias, substâncias que reduzem os danos no tecido muscular que foram lesionados”, justifica Leonardo.

Em 2016, um estudo publicado por Diego Patrick Soares Lopes na Revista Saúde e Pesquisa, com o objetivo de identificar o exercício e a imunomodulação nos impactos de infecções das vias aéreas, concluiu o quão fundamental é a atividade física de moderada intensidade.

“Portanto, a continuidade da atividade física ou dar início à mesma é de grande valia para a saúde, tendo grandes benefícios, inclusive relacionados à nossa imunidade”, salienta o fisioterapeuta.

De acordo com o psicólogo clínico Lucas Bianchi Macedo, durante a quarentena, é muito importante para, além do corpo, manter a mente saudável. “Os exercícios acabam sendo bem-vindos, afinal, a vida continua após a quarentena, sendo essencial, em qualquer situação, ter ambos bem, para uma melhor qualidade de vida”, defende.

Para Macedo, outro benefício que os treinos podem permitir é em relação ao direcionamento de energia da pessoa. “É recomendado, para quem está se sentindo ansioso, ter uma maneira saudável de dissipar a energia. Diferente de depositar essa intensidade na comida e acabar comendo mais que o normal”, exemplificou.

Ainda de acordo com ele, apesar de ser difícil de começar ou manter a rotina de se exercitar, o planejamento do dia colabora com a atual fase de não poder sair da casa.

“O planejamento traz uma estabilidade para não acabar desamparado neste período em que há tanto tempo. Mas, deve ser gasto dentro de casa”, finaliza o psicólogo.