A sinfonia dos números





Para instituto de pesquisa, índice de satisfação dos alunos é de 93,5%

Respeitando cláusula do plano de trabalho celebrado entre o Conservatório de Tatuí e o Executivo estadual, foi realizada pelo Ipeso, instituto independente de pesquisas, um levantamento por amostragem de 405 pessoas, entre público, pais e alunos. O Ipeso tem, entre seus clientes, empresas como Brasilprev (do Banco do Brasil), Adidas e Adria. É por meio de pesquisas que as instituições avaliam suas carências, necessidades e sucessos. Como o Conservatório de Tatuí é uma organização social do Estado, não é possível repassar benefícios como bônus, apenas convertê-los em agradecimento pelo trabalho árduo realizado.

Assim como na música, cujas notas não falam por si, os números de uma pesquisa precisam ser interpretados. Um universo de 405 pessoas entrevistadas é bastante representativo, haja vista que recentes pesquisas de institutos consagrados na área eleitoral para presidente da República, por exemplo, abrangem números infinitamente menores proporcionalmente: mil ou 2.000 pessoas, para o país inteiro. Vamos aos resultados: 93,5% dos alunos acham a qualidade de ensino ótima ou boa – o que, com relação a pesquisa similar feita em 2009, demonstra um aumento bastante significativo. Esses percentuais são simples indicadores, e no caso abrangem os cursos e a avaliação qualitativa de professores. Além disso, deve-se levar em conta outros fatores, que se relacionam diretamente com o crescimento apontado nos resultados. O índice de “totalmente satisfeitos” e “satisfeitos” chega a ser superlativo: 93,5%! Para o Ipeso, esse percentual entra na faixa que eles chamam de público “encantado”. Deve-se traduzir esse estado de espírito de entusiasmo ao lado do índice dos que recomendariam o Conservatório de Tatuí “com certeza”, 97,8%. (Consequência, também, claro, da avaliação dos professores, de 83,3% para “ótimos”, e 14,5 para “bons” – um total de estimulantes 97,8%!)

Outro perfil dos alunos do Conservatório surpreende: 63,8% afirmam não residirem em Tatuí e viajam para a cidade apenas nos dias de aulas. Em relação mais estreita com a cidade, 30,4% mudaram-se para Tatuí por causa da escola, o que vem a confirmar matérias veiculadas na imprensa escrita e na TV sobre a participação do público da escola no comércio local e nos setores imobiliários e de serviços: no total, 94,2% são alunos “de fora” (além dos locais) frequentando, adquirindo e consumindo. Por outro lado, chama a atenção o número de alunos que declararam sempre ter morado na cidade: apenas 5,8%. Dada a localização central do Conservatório, e todo o investimento com concertos didáticos, formação de público, etc., conclui-se que é preciso multiplicar essas ações, e buscar que os pais da cidade compreendam música e artes cênicas ou luteria como parte fundamental da educação dos seus filhos. Ampliar o acesso aos concertos, shows e apresentações teatrais, instigar o público local, entre diversas outras iniciativas, são diretrizes primordiais que deverão ser perseguidas. A escola é pública e gratuita, assim como as universidades, e seu público transcende a cidade-sede, sendo aberta a todos, conforme a legislação. Parece-me, então, que essa fatia (tatuianos) deve ser objeto de exame cuidadoso, para que analisando esse índice se extraia o caminho a ser seguido para estimular alunos em potencial no próprio município. Por fim, quanto aos pais, 84% declaram-se “totalmente satisfeitos”, e 6% “parcialmente satisfeitos”, totalizando 90% de satisfação. No quesito “você recomendaria o Conservatório?”, 98% responderam positivamente, 2% não sabem e nenhum entrevistado disse “não recomendaria”. Os 98% que afirmaram “com certeza” soam afinados com a opinião dos alunos – 97,8%, ou seja, estatisticamente a mesma opção.

É claro que, além de atender às exigências do Executivo estadual, a pesquisa vem colaborar conosco positivamente quanto às correções de rumo a serem empreendidas para o futuro, estimulando ainda mais o que foi apontado como positivo em padrões muito acima da média de quaisquer empreendimentos comerciais ou públicos. Como o Conservatório busca essencialmente formar profissionais nas áreas de música, artes cênicas e luteria, os que pretendem seguir carreira profissional somam 76,1%, e os que optam por lecionar, 25,4%. Ter a arte como hobby é opção de 5,1%, o que é perfeito, desde que o estudante corresponda em pé de igualdade com os demais às exigências crescentes dos cursos. Entre os pontos negativos citados, há os que podem ser atendidos e desde já entrarão em processo licitatório, como a cantina, e os de impossível atendimento, seja em qualquer escola do Brasil ou do exterior: salas para estudo para os alunos da instituição. Alocar salas para mais de 2.500 (ou parte que seja) alunos do Conservatório exigiria instalações gigantescas. Mesmo no exterior, há corridas às salas logo no pós-horário, verdadeiras maratonas por limitado número de cubículos, como acontece e sempre aconteceu na New England Conservatory e na Berklee College (EUA). Para finalizar, é a partir dos resultados dessa pesquisa – nossas “notas musicais” – que deveremos elaborar a partitura a ser seguida daqui por diante, corrigindo sempre que necessário aqui e ali, sempre evitando achar que se chegou ao “topo” (ou à sombra dele, que seja). O caminho é longo. Dizia o velho maestro Eleazar de Carvalho: “O que não muda, não se move. E o que não se move está morto”. Sábio.