A pequena história de Tatuí­





Hoje estou filosofando sobre a História e fazendo comparações. Quando se observa uma paisagem, geralmente se vê o geral, não atentando aos detalhes. Mas a paisagem é feita de inúmeros pequenos detalhes que formam o todo. Assim é também a própria história. Ela é composta de pequenos acontecimentos, os detalhes, uns menos, outros mais importantes. A história que nós estudamos nas escolas é a “oficial”. A História com letras maiúsculas. Aquela que os historiadores pesquisaram ou simplesmente ajustaram conforme os interesses oficiais de cada ocasião.

Entretanto, os acontecimentos de todos os dias, que na maioria das vezes não são registradas em lugar algum, fazem parte da história que nós vivenciamos, participamos. São histórias pessoais, de família, de amigos, de grupos sociais, de bairros, cidades, regiões, etc.

Grande parte dos “Casos Tatuianos” é feita de pedacinhos da história de Tatuí, não registrados em livros, mas guardados na memória das pessoas, que, vez por outra, os relembram.

A inspiração para contar os nossos “casos tatuianos” surgiu ainda na década de 1970, quando Euchário Holtz, em uma das conversas na Praça da Matriz, falava da necessidade de contar com esse registro, pois há fatos e acontecimentos aqui ocorridos que não têm paralelo em lugar algum. Já contei aqui alguns eventos em que ele participou, todos recheados com um pouco de seu bom humor.

Uma destas semanas que passou, escrevi sobre as lembranças que os tatuianos publicaram no Facebook a partir de uma ideia de um internauta tatuiano (Carlinhos Mendes) no grupo “Olá Sou Tatuiano”. São quase mil postagens relembrando situações pequenas ou grandes, importantes ou insignificantes, mas que fizeram parte do cotidiano da cidade em diferentes épocas. Sou velho de Tatuí se… e cada um colocou suas lembranças. Por isto chamei de “pequena história”, por não ser a oficial, mas sim aquela que vivenciamos.

Enquanto pensava nisso, recebi um e-mail de dona Wilma Braga, que de vez em quando se lembra de um acontecimento na cidade, e me escreve contando. Ela contou a respeito de uma historinha, como definiu, que lhe foi contada por minha prima Deise Felizarda Zani Vieira há alguns anos.

Isso que a Deise contou ocorreu em campanha eleitoral para prefeito nos idos de 1950 ou 1960, quando se votava através de cédulas de papel, que eram colocadas nas urnas depois de anotados os nomes dos candidatos escolhidos.

Esse sistema não mais existe, substituído pela urna eletrônica, que acabou com a possibilidade do verdadeiro voto de protesto. Hoje é impossível, mas, nos anos 60, os cariocas, revoltados com a situação da cidade do Rio de Janeiro, descarregaram seus votos de protesto no Cacareco, um rinoceronte do zoológico local, “elegendo-o” como vereador mais votado. Claro que não passou de um protesto, e Cacareco continuou com sua rotina no zoológico.

Hoje, os votos de protesto continuam, mas, como não há uma cédula para registrar alguma bobagem, surgem candidatos como o Tiririca, que canalizam centenas de milhares de votos (mais de um milhão, neste caso específico), com a agravante que estes cacarecos são realmente eleitos e empossados. E o pior de tudo isso é que o Tiririca não é o pior deles!!!

Eis então mais um pedacinho da história não contada de Tatuí: naquela campanha para a prefeitura, Rita, a empregada da Deise, uma mulher simples, com pouca instrução, vendo a quantidade de modelos de cédulas jogados pelas ruas, como era costume, com os nomes dos candidatos e um quadradinho na frente, para assinalar com um X, exemplificando aos eleitores como votar e que trazia escrito em letras de caixa alta “CÉDULA”, foi contar para sua patroa o seguinte:

– A dona Cédula vai ser prefeita de Tatuí. Todos os papéis que vi na rua levavam o nome dela…! – ingenuamente, Rita acreditou.