905 pessoas faltam a consultas em janeiro

 

Consultas com clínicos gerais, pediatras e ginecologistas encabeçam o maior número de atendimentos registrados pela Secretaria Municipal de Saúde pela chamada “rede de atenção básica”. Essas três especialidades são, também, as que mais apontam falta de pacientes com consultas agendadas.

Pelo menos é o que aponta relatório divulgado pelo responsável pela pasta, enfermeiro Jerônimo Fernando Dias Simão. O levantamento da secretaria contém dados tabulados junto às UBSs (unidades básicas de saúde), PSF (Programa Saúde da Família) e Cemem (Centro Municipal de Especialidades Médicas) em dois períodos: todo o mês de janeiro e a primeira quinzena de fevereiro.

Em janeiro, a pasta contabilizou 3.853 agendamentos de consultas nos 11 postos do município, sendo sete na zona urbana e quatro na zona rural. Desse total, 2.353 com clínicos gerais, 962 com pediatrias e 534 com ginecologistas.

No período de 30 dias, 905 pessoas que haviam feito o agendamento deixaram de ir aos postos. Ao todo, 558 pacientes faltaram às consultas com clínicos gerais, 233 não passaram por avaliação de pediatras e 114, com ginecologistas.

Em compensação, a secretaria totalizou 551 encaixes, sendo 378 com médicos em clínica geral, 116 em pediatria e 57 em ginecologia. O atendimento foi prestado a pessoas que compareceram às unidades sem agendamento prévio.

As ausências de pacientes também abrangem os médicos generalistas, que atendem pelo PSF. Em Tatuí, o programa conta com nove equipes habilitadas pelo Ministério da Saúde.

Nos primeiros 30 dias do ano, o PSF contabilizou 1.490 agendamentos. Desse total, apenas 1.109 se concretizaram. Outras 381 consultas não aconteceram por falta dos pacientes.

No período, as equipes multiprofissionais conseguiram reduzir “os danos” provocados pelos faltantes. Elas registraram 198 encaixes, somando ocupação de vagas em aberto e via atendimento emergencial. Mesmo assim, o secretário informou que houve “perda” de 251 consultas pelo programa.

Apesar de registradas em praticamente todos os postos de saúde do município, as faltas são mais comuns – ou consideradas mais problemáticas – na vila Angélica. O bairro encabeça a lista de localidades com mais pacientes faltosos nas três especialidades e também no atendimento oferecido pelo PSF.

O dado é considerado preocupante pelo secretário, uma vez que a vila conta com um pronto atendimento funcionando das 17h às 22h. O espaço foi inaugurado em maio do ano passado. “O pior indicador que temos é lá”, ressaltou Simão.

Conforme ele, nos 15 primeiros dias deste mês, das 364 consultas agendadas para a unidade, 103 deixaram de acontecer por ausência dos pacientes. O posto de saúde do bairro também somou 276 faltas, o equivalente a 28,09% do total das 1.208 marcações agendadas com os profissionais do PSF.

O segundo pior desempenho ficou com o Jardim Gonzaga, onde 41 pessoas, das 171 que solicitaram atendimento multiprofissional, deixaram de comparecer.

Juntando com os dados registrados no Jardim Santa Rita de Cássia, Jardim Tóquio e CDHU (Conjunto de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) “Orlando Lisboa de Almeida”, o PSF chegou à marca de 22,08% de faltas sobre o total de consultas agendadas por pacientes atendidos pelas equipes multiprofissionais.

Considerando-se que as consultas são diárias, o secretário da Saúde avalia que as faltas geram prejuízos para os próprios pacientes. Também provocam um “efeito colateral”: a superlotação do Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”, unidade que realizou 10.374 atendimentos somente em janeiro.

As ausências são registradas pelas equipes de cada posto de saúde e repassadas ao secretário uma vez por semana. “Faço a consolidação dos dados e tabulo agendamentos, faltas e encaixes, para que tenhamos um diagnóstico”, declarou.

Simão explicou que os levantamentos de janeiro e fevereiro permitem não só a mensuração (avaliar o percentual de faltosos), mas verificar como as faltas impactam no atendimento da população.

As consultas com pediatras, por exemplo, estão entre as que mais registram ausência de pacientes em postos de saúde. O resultado é o aumento das consultas no ambulatório.

De acordo com o relatório divulgado pela secretaria, os pais, mães e responsáveis pelas crianças estão deixando de comparecer às unidades básicas de saúde. Este é o caso de moradores da vila São Cristóvão. Nos primeiros 15 dias deste mês, das 90 consultas agendadas, apenas 51 concretizaram-se.

O mesmo ocorre com clínicos gerais, cujos atendimentos são menores que os previstos no centro. Pelos levantamentos, o CS1 (Centro de Saúde) “Aniz Boneder” é o que teve o maior número de pacientes faltantes às consultas.

De acordo com o secretário, as ausências ocorrem em todos os horários de consultas e se repetem no Cemem. Em 15 dias, o centro teve 826 faltas de pacientes. No período, a secretaria somou 5.141 consultas agendadas com especialistas.

“É muito dinheiro jogado fora, porque o médico continua lá, estão agendadas as consultas. Se o paciente não aparece, há sempre perda”, avaliou Simão.

O centro oferece atendimentos em cardiologia, dermatologia, endocrinologia, fonoaudiologia, gastroenterologia (adulto e infantil), ginecologia (para atender gestantes de alto risco), nefrologia, neurologia, nutrologia, oftalmologia, ortopedia, otorrinolaringologia, pequenas cirurgias, psicologia, psiquiatria, reumatologia, urologia, angiologia e cirurgia vascular.

Dessas especialidades, a ortopedia teve o maior número de ausências. Foram 854 faltas na primeira quinzena deste ano. A oftalmologia aparece em segundo lugar, com 92 faltas de pacientes, dos 358 que solicitaram agendamento de consultas. “Lembrando que temos uma demanda de 3.200 pessoas que estão aguardando para passar pelos oftalmologistas”, atentou Simão.

O relatório cedido pelo secretário inclui, ainda, o número de atendimentos feitos pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e ações da equipe de combate à dengue, que é ligada à VE (Vigilância Epidemiológica).

Simão também divulgou o total de exames realizados neste mês pela secretaria. Até o dia 15, a pasta municipal registrou 2.486 atendimentos, entre exames de endoscopia, colonoscopia, raio-X, ultrassom, ressonância magnética, tomografia e mamografia e consultas com especialidades não ofertadas em Tatuí.

Foram 2.165 procedimentos na cidade e 321 fora dela. Os encaminhamentos são agendados por meio da Cross (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde).

No caso de atendimentos fora de Tatuí, os pacientes locais são enviados para os Ames (ambulatórios médicos de especialidades) de quatro cidades da região: Itu, Salto, Sorocaba e Itapetininga.

“Se analisarmos os números, podemos ver que já conseguimos reorganizar a Saúde do município”, afirmou o secretário. O próximo desafio da pasta será promover a “reeducação” da população para que utilize o pronto-socorro somente em caso de necessidade.

Simão afirmou que os pacientes do município precisam voltar a frequentar as unidades básicas de saúde e deixar de ocupar o ambulatório quando a situação não for de urgência e emergência. Como exemplo, citou que, neste mês, das 5.726 consultas registradas no PS, apenas 665 deveriam ser feitas lá.

“Pelos dados que estamos mostrando para a população, é possível ver que a secretaria oferta consultas e serviços de saúde, mas as pessoas insistem em continuar faltando às UBSs e procurando o pronto-socorro”, argumentou.

No período de 15 dias deste mês, o maior número de pessoas que se consultou no ambulatório era do centro da cidade (952). Na sequência, estão moradores do Rosa Garcia (534) e do Santa Rita (373).

Medida paliativa

Ainda que o pronto-socorro represente atendimento “mais rápido” (por ter consulta no mesmo dia) em comparação com as unidades básicas de saúde, o secretário afirmou que ele representa uma “medida paliativa” de saúde. Isso porque, o ambulatório não fornece tratamento para os problemas dos pacientes.

“Os médicos do PS fazem um atendimento para cessar dor, mas encaminham para as unidades para que elas deem continuidade aos tratamentos. Ocorre que as pessoas não vão aos postos porque deixaram de ter, momentaneamente, um incômodo. Aí, vão embora e não buscam as UBSs”, apontou.

Na tentativa de “disciplinar” os pacientes, a secretaria resolveu mudar o protocolo de atendimento do pronto-socorro. Quem vai ao ambulatório sai de lá com uma guia de referência para atendimento nos postos.

“Então, os médicos estão parando de pedir raios-X e medicar, fazendo com que as pessoas busquem as UBSs para que tenham tratamento adequado”, contou Simão.

Entretanto, o secretário afirmou que os procedimentos variam conforme os casos. Pacientes em estado mais grave realizam exames, recebem medicamentos e permanecem em observação. Se o quadro piorar, eles são internados.

De acordo com o secretário, apesar de necessária, a mudança não tem sido bem aceita pela população. “As pessoas estão começando a ficar revoltadas, porque estamos fazendo uma reeducação. Casos que não são de PS têm guias de referência indicando que um médico de UBS seja procurado”, reforçou.

Preparando-se para voltar a receber o público, a secretaria promoveu ajustes nas unidades básicas de saúde. O mais importante deles diz respeito ao horário de funcionamento dos postos. A secretaria ampliou o expediente de 10 das 11 unidades.

Com isso, apenas a UBS do Santa Cruz não atende das 7h às 18h. “Ela fecha na hora do almoço, porque não tem demanda que justifique ficar aberta à tarde”, alegou.

Simão disse, ainda, que a secretaria está buscando entendimento com os médicos das unidades para que realizem consultas também no período da tarde.

Atualmente, a maioria deles opta por atender pela manhã. A expectativa é de que a secretaria possa ofertar consultas “em período integral” a partir de março.

O secretário ressaltou que a municipalidade tem se esforçado em ampliar a gama de serviços nas UBSs de modo a incentivar os pacientes a frequentá-las. Por essa razão, a Prefeitura aumentou o número de vagas com especialistas.

O Rosa Garcia, por exemplo, disponibiliza cem vagas de consultas por semana em pediatria. Pacientes atendidos pela unidade do bairro têm 40 vagas distribuídas nas manhãs de quintas e sextas e 60 nas tardes de segundas, quartas e sextas.

“Isso mostra que a população está bem atendida, mas as faltas demonstram que ela não está procurando os postos como deveria”, defendeu.

A oferta de vagas também deve aumentar no PSF. Simão pretende ampliar para 1.500 o número de consultas com os profissionais do programa. Atualmente, a secretaria oferece 453 atendimentos por semana com os “médicos da família”.

“É muita consulta que estamos ofertando. A única coisa que queremos é a conscientização das pessoas para que procurem os postos e não o PS”, reforçou o secretário.

Quem não puder, ou não tiver condições de comparecer às consultas nas datas agendadas, deve se dirigir às unidades antes para solicitar a alteração. Simão afirmou que cada posto conta com um enfermeiro responsável, encarregado de resolver as questões relacionadas ao atendimento dos pacientes.

Os profissionais também podem classificar a prioridade do atendimento, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde, ou acionar o Samu, em caso de emergência para atendimento ou encaminhamento ao “Erasmo Peixoto”.