62 cursos não me ensinaram sobre gestão

Parece muito surreal o título desse artigo, certo?

Eu escrevo ele em absoluta abertura e vulnerabilidade sobre tudo que ando vivendo.

Mas principalmente escrevo este artigo como um alerta para mulheres que, como eu, acham que sempre precisam de mais um curso, de mais uma especialização, de mais um título para estarem aptas a ter o sucesso que lá no fundo sabem que merecem.

Fui executiva na Bolsa de Valores por muitos anos e, depois de ter uma reviravolta na minha vida, decidi sair do mundo corporativo para ajudar mulheres a acreditarem em quão boas elas são e não viverem as coisas que eu vivi.

No último ano meu marido e eu decidimos mudar a nossa vida. Ele estava infeliz na carreira dele e decidiu que queria abrir um restaurante em Portugal. Eu, mais do que depressa, disse sim e nos mudamos para Lisboa.

O restaurante abriu em fevereiro deste ano e, desde então, os aprendizados têm sido constantes.

No mês de maio, por uma conjuntura de fatores, eu precisei largar todas as minhas atividades na minha empresa para ir ajudá-lo.

Foram feitas algumas contratações e entramos na fase de treinamento e reorganização da equipe.

Com todo o meu amor e toda a bagagem que havia adquirido nos últimos três anos, comecei a aconselhá-lo e a orientar as pessoas.

E depois de 20 dias, em uma sexta-feira, tudo desmoronou. Uma funcionária da cozinha saiu andando no meio do turno do almoço e a outra teve uma discussão muito grande com o meu marido na cozinha e foi desligada no final do dia.

Nesta hora a minha vontade era simplesmente chorar. Sim, chorar! E hoje escrevo sobre essa vontade em paz porque estou absolutamente tranquila que isso não muda a profissional que eu sou e está totalmente relacionada com a pessoa que eu sou e usando todos os meus recursos.

Enquanto meu marido era atendido por uma pessoa muito querida por mim para reestabelecer as energias dele, eu chorava e me questionava.

Que merda de líder eu sou? Como que eu, com 62 cursos, não consegui ajudar o meu marido a gerir duas pessoas em um restaurante? Onde foi que eu tinha errado?

E dias depois eu percebi onde eu errei.

Eu errei porque não respeitei os desejos dele, eu errei porque eu não consegui lidar com os meus traumas de mundo corporativo e permitir que ele cometesse os erros dele como gestor.

Eu errei em julgar as coisas e achar que o que eu fazia é que era o correto.

Eu errei em aceitar uma responsabilidade que eu não queria. Que o restaurante era meu e dele.

Não, o restaurante não é meu. É dele! Eu estou ajudando-o.

Isso não muda a importância, a seriedade e o comprometimento que eu tenho com o meu marido ou com o restaurante, muito pelo contrário. Me coloca no ponto onde eu devo estar e como eu devo agir.

E em meio a tudo isso eu quero compartilhar aqui três aprendizados importantes.

Aprendizado 1: se você é gestor, seja o exemplo daquilo que você quer que a sua equipe seja.

Isso não significa que será fácil, mas as pessoas estão se espelhando em você, por isso esteja atento ao que faz e ao que fala.

Aprendizado 2: roupa suja se lava em casa!

Se você não está satisfeita com as coisas que vêm acontecendo, é seu dever procurar uma hora e um local apropriado para conversar.

Não espere que o seu líder entenda o que se passa na sua cabeça.

Uma comunicação assertiva pode mudar o rumo da sua trajetória profissional.

Aprendizado 3: defina quais são os seus limites.

A verdade é que é muito fácil abrir exceções, falar que é só uma fase.

Atender ao que a empresa está precisando e esquecer quem você é, mas qual é o preço disso?

Eu já cedi tanto que terminei com depressão e síndrome do pânico.

Só você sabe a delicinha e o desafio de ser quem você é, como dizia a minha coach.

* Estrategista e desenvolvedora de carreiras.