Museu Paulo Setúbal: Modernizar, sim. Descaracterizar, jamais!

Por Luiz Gonzaga Vieira de Camargo – ex-prefeito de Tatuí e responsável pela municipalização e modernização do Museu Histórico Paulo Setúbal.

O Museu Histórico Paulo Setúbal não é apenas um prédio tombado, nem um simples espaço de exposições. Ele é a casa da memória tatuiana. É o guardião da nossa identidade, da nossa história, das nossas raízes. Cada objeto, cada documento, cada fotografia ali preservados nos conta quem somos e de onde viemos.

Por isso, quando, em 30 de abril de 2010, durante minha gestão como prefeito, realizamos a municipalização do Museu, antes sob gestão do Estado, assumimos também uma responsabilidade histórica: garantir que o espaço fosse modernizado, sim, mas sem jamais abrir mão da preservação da história e da memória do nosso povo. A gestão da instituição passou a ser da Prefeitura de Tatuí, por meio da Lei Municipal nº 4.345, de 30 de abril de 2010.

A expografia implantada foi fruto desse compromisso. Estruturamos um museu que contasse a formação da cidade, os movimentos populacionais, os primeiros habitantes, os colonizadores e os conflitos gerados por esse processo. Registramos também a presença dos tropeiros na região e a construção da nossa identidade cultural, que levou Tatuí a ser reconhecida como a Capital da Música.

O Museu passou a contar com uma sala dedicada exclusivamente à vida e obra do escritor e jornalista Paulo Setúbal, imortal da Academia Brasileira de Letras e patrono do Museu. Foram criados também o Gabinete de Leitura “Nilzo Vanni”, um auditório, além de espaços que preservam e destacam a participação de tatuianos em conflitos como a Revolução Constitucionalista de 1932 e a Segunda Guerra Mundial, além de curiosidades importantes do nosso acervo histórico.

O próprio entorno do museu traduz esse compromisso. Durante nossa gestão foi instalado o projeto do Monumento aos Seresteiros, concluído e inaugurado posteriormente, em 2013. O monumento homenageia sete grandes nomes que eternizaram a tradição musical tatuiana: Noel Rudi, Zé Fiuza, Ditinho Rolim, Joãozinho do Irineu, Osmil Martins, Raul Martins e Paulo Ribeiro, este último também poeta e ex-prefeito da cidade. Além disso, desde 1955, está em frente ao museu o busto de Getúlio Vargas, um símbolo da história nacional e do impacto de sua trajetória na sociedade tatuiana.

Agora, com a proposta de uma nova expografia, surge uma preocupação legítima: não podemos permitir que, em nome de uma modernização desconectada, a função essencial do museu seja esvaziada.

Museu não é casa de espetáculo. Não é parque temático. Não pode se transformar em um espaço de experiências genéricas, que poderiam estar em qualquer cidade, apagando os símbolos, as lutas, os fatos e os personagens que moldaram a nossa história.

Defendo, com absoluta convicção, que é possível — e necessário — modernizar, incorporar tecnologia, criar experiências sensoriais. Mas desde que isso esteja a serviço da memória, da história e da educação. Que a tecnologia seja meio, nunca fim.

Portanto, deixo aqui este artigo não como uma crítica destrutiva, mas como um alerta consciente e responsável, de quem conhece profundamente a história do museu, porque dela participou ativamente, e que carrega o compromisso com a preservação do nosso patrimônio material e imaterial.

Modernizar, sim. Descaracterizar, jamais.

O Museu Paulo Setúbal precisa continuar sendo a casa da nossa história.

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