Município ganhará centro de treinamento

Cristiano Mota

Secretário municipal da Indústria está captando equipamentos

Elaboração de planilhas específicas, treinamento em controle de fluxo de caixa e tarefas de automação. As possibilidades de curso são tão amplas quanto o tipo de público que poderá utilizar o futuro Centro de Treinamento do município.

O projeto é da Secretaria Municipal de Indústria, Desenvolvimento Econômico e Social e está prestes a ser implantado.

Chamado de laboratório de informática, o futuro espaço é fruto de parceria entre o poder público e a iniciativa privada. A Prefeitura entrará com o imóvel e as empresas – oito já foram contatadas –, com a cessão de equipamentos (mobiliário, computadores, impressoras etc.) e o pagamento de instrutores.

O projeto prevê que as empresas possam utilizar o laboratório para capacitação específica de funcionários. Amplia as possibilidades ao incluir cursos gratuitos à população que não é economicamente ativa.

A iniciativa de Tatuí é baseada na de Irati, no Estado do Paraná, onde existe um centro de formação. “O pessoal da Prefeitura de lá desativou o ginásio de esportes e fez um condomínio industrial”, contou o secretário municipal Ronaldo José da Mota.

Conforme ele, as empresas de Irati montaram minifábricas, em galpões, para oferecer treinamento a funcionários e à população. Frequentam o local trabalhadores e desempregados. “O tempo de permanência e as aulas que a pessoa assiste são opcionais. A pessoa é quem determina a hora que entra e sai”, disse Mota.

A partir da iniciativa, uma das empresas conseguiu aumentar o
quadro de funcionários. Passou de 300 para 1.600, com
investimento considerado mínimo: a manutenção de um instrutor.

Conforme o secretário, a indústria também reduziu o prazo de formação de novos empregados, que caiu de seis para dois meses. “Hoje, ela é a empresa que mais emprega em Irati”, comentou.

Nos mesmos moldes do Paraná, Tatuí quer recriar o projeto,
começando com um laboratório de informática. “Eu estou sonhando
alto, mas vamos partir desse espaço do qual as empresas e a população poderão se beneficiar”.

Mota explicou que a definição e a formatação dos cursos ficarão a cargo das empresas, indústrias, comércio e de outras instituições do município.

A ideia é permitir que esses agentes empregadores e formadores de mão de obra capacitada atendam a demanda exclusiva, que não possa ser suprida pelo mercado atual (escolas de informática que funcionam no município).

“Esse laboratório surge para oferecer espaço para que as empresas possam contratar um monitor para que ele possa capacitar os funcionários, ou treinar mão de obra futura”, disse Mota. O número máximo será de 25 alunos.

De acordo com o secretário, os planos da secretaria vão além do treinamento “fechado”. A intenção é permitir que o laboratório seja utilizado para cursos de automação, de qualificação na área de informática, por meio de parcerias. Uma delas, com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).

Mota afirmou que muitas das capacitações necessitam de equipamentos específicos para poderem ser disponibilizadas.
É o caso do curso de logística. “Tatuí (a Prefeitura) ainda não tem condições de oferecer capacitações como esta. Com esse laboratório, vamos corrigir essa questão”, citou.

Outra possibilidade é permitir que o comércio (lojistas de pequeno, médio e grande porte) utilize o espaço para treinar os funcionários.

A depender da demanda, caixas e outros empregados que façam uso de equipamento de informática poderão receber treinamentos específicos. “Queremos utilizar o laboratório para atender à demanda do próprio município”.

Mota destacou que o Executivo não pretende fazer frente às escolas de informática estabelecidas na cidade. “Não queremos ser concorrência, mas dar oportunidade de atender, de uma forma imediata, as necessidades de capacitação”, argumentou.

Por essa mesma razão, a pasta municipal deverá permitir que sejam ministrados, no futuro, somente cursos que não são oferecidos em escolas de informática.

Existe, porém, a possibilidade de que capacitações que o mercado formal ofereça possam ser ministradas. Isso deve acontecer no caso de não haver previsão de formação de nova turma nas escolas.

Como forma de reduzir os custos, a secretaria também permitirá que as capacitações sejam ministradas por funcionários
multiplicadores. A formatação ficará a critério de cada empresa, loja ou entidade que utilizar o laboratório.

No momento, a pasta municipal está estruturando o projeto. Das oito empresas contatadas, quatro já deram resposta positiva ao secretário.

Elas se comprometeram em doar ao município os equipamentos e mobiliários do centro de treinamento. “Nós fizemos contato com as empresas que entendemos que têm condições de contribuir com essa iniciativa”, comentou.

Como já tem aval de parte das empresas, Mota explicou que a secretaria está na dependência da cessão do espaço. O laboratório deverá funcionar em espaço cedido pelo Executivo. A Prefeitura arcará, também, com a manutenção do local.

“Nossa proposta é que as empresas gerem as necessidades delas”, frisou o titular da pasta. Conforme ele, a secretaria não vai gerar os cursos, nem o número de alunos que serão atendidos, mas ficará responsável pelo gerenciamento do espaço.

O centro de treinamento será aberto não só às empresas “consorciadas”, mas a todas as que estejam estabelecidas no município. “É um benefício para a própria cidade. Quem estiver instalado aqui poderá usufruir dele”.

Como os treinamentos ficarão a cargo das empresas, o secretário explicou que não existe número definido de aulas. Também não é fixo o número de alunos que frequentarão as capacitações. “As empresas vão determinar tudo isso”.

A secretaria divulgará a formatação quando os cursos forem gerados a partir de entidades como o Senai e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Nesses casos, até mesmo o processo de inscrição será divulgado. Isso porque as capacitações serão abertas à população.

“Nós temos um mesmo espaço destinado para vários usos, mas que tem como potencial fomentar o desenvolvimento e a capacitação da mão de obra”, avaliou Mota.

O laboratório deverá ser utilizado para aprimoramento de quem já atua no mercado de trabalho e na colocação de quem está em busca de emprego. “Esta é uma demanda que estamos encontrando à frente da secretaria”.

Num terceiro momento, Mota afirmou que o projeto abrirá espaço para atender aos alunos da “Patrulha Mirim”. Os meninos matriculados no projeto iniciarão atividades neste mês e frequentarão cursos de informática.

A capacitação, neste caso, deverá ser feita por professores alocados pela Prefeitura. Mota afirmou que esses instrutores poderão ser contratados, ou incorporados de modo voluntário.
Eles deverão instruir os menores a utilizar o computador em ambiente de trabalho e oferecer conhecimento sobre programas.

Além da manutenção do espaço, a secretaria vai mediar o uso do laboratório. Mota disse que as empresas precisarão fazer solicitação de maneira antecipada, para permitir que haja organização do uso dos equipamentos.

Com esses dados, a pasta criará uma agenda de cursos – com previsão de horas por dia e de tempo de duração. A partir daí, deve abrir para uso das entidades e dos lojistas que estejam estabelecidos no município.

“O que estamos precisando, no momento, é a participação da iniciativa privada”, citou o secretário. Em outras palavras, a secretaria está recebendo equipamentos para permitir que as 25 estações de trabalho sejam montadas e utilizadas.

Essa é a média de alunos por curso que a pasta municipal entende como necessária para a realização das capacitações de mão de obra.

Em paralelo a esse trabalho, a secretaria está definindo quais tipos de programas serão necessários. De acordo com o secretário, a Prefeitura deverá priorizar o uso de software livre (os chamados “open source” – código aberto). Também poderá utilizar versões “trial” de testes, ou “genéricas”.

O motivo é o valor da licença dos programas comerciais. Segundo Mota, os voltados à editoração, ou modelagem 3D, por exemplo, podem chegar a custar até R$ 9.000 por estação.

Como existem soluções menos onerosas, a ideia da pasta é que, em havendo necessidade, o custo fique a cargo de quem utilizará o espaço.

“Se a empresa tem um programa específico e tem a licença, pode direcionar para o laboratório de forma a dar treinamento. Depois, ela pode desinstalar. Tudo isso, ainda, faz parte do projeto que nós estamos alinhando”.

As definições serão feitas “em comum acordo” entre os departamentos de TI (tecnologia da informação) da Prefeitura e das empresas que irão utilizar os computadores.

“Vamos buscar recursos que sejam livres, até porque, quanto menos onerarmos as duas partes (Executivo e empresas), melhor”, disse Mota.

Até esta semana, a secretaria havia conseguido captar dez computadores. Restam outros 15 para completar o número projetado como ideal para o laboratório.

“Estamos na fase de fechamento. A primeira demanda são os equipamentos; a segunda, a localização. Definido isso, vamos iniciar”.

O projeto, no entanto, deverá passar pelo crivo da Câmara Municipal. Os vereadores precisam aprovar o recebimento dos equipamentos em forma de doação.

“É a Câmara que tem de autorizar o município a receber os computadores, mesas, equipamentos eletrônicos. Esse processo precisa ser feito pelos parlamentares porque a doação passa a ser patrimônio público”, explicou Mota.

Também conforme ele, a implantação do projeto sai a custo zero para o município. A Prefeitura terá gastos, apenas, com a manutenção do laboratório.

O secretário afirmou que priorizou a iniciativa porque quer dar condições aos trabalhadores de manterem seus empregos, ou de conseguirem novas colocações.

Segundo ele, o projeto facilitará a absorção dos profissionais e a disseminação dos projetos de inclusão social. Poderá, também, dar subsídios para que a secretaria tenha ideia da demanda de capacitação.

A estrutura também permitirá que o município receba novos programas. Conforme Mota, a existência de um laboratório auxilia a secretaria a trazer para o município novas ações de qualificação de mão de obra para dar suporte à população.

“Na maioria das empresas, há máquinas automatizadas. Se a pessoa não tem conhecimento básico de informática, não vai conseguir emprego. Isso, infelizmente, já é um critério de corte no processo de contratação”, encerrou.