Municí­pio pode ganhar mais uma ONG





Cristiano Mota

Formandas convocaram ex-alunas a integrarem novos trabalhos que estão sendo programados para o ano

 

Por conta da profissão, Adriana de Almeida Rosa desenvolve trabalhos comunitários no Conjunto Habitacional “Amaro Padilha”, onde reside. No Inocoop, como é mais conhecido o bairro, ela promove chás da tarde com mulheres para que elas possam receber orientações ou se mobilizar em prol de melhorias.

A partir deste ano, a assistente social deve estender essa – e outras ações que estão sendo planejadas – para todo o município. O grupo ao qual Adriana pertence, e que teve formatura na noite de quinta-feira, 22, está programando “algo maior”.

Trata-se da criação de uma ONG (organização não governamental). A instituição pode vir a ser constituída por “meninas” da 2a turma do Curso de Formação de Promotoras Legais Populares, ou PLP. Ao todo, são 15 mulheres que receberam certificação de conclusão do curso no Clube Renascer da 3a Idade.

O evento contou com a participação de palestrantes, familiares das formandas, da coordenadora Heloísa Saliba e Borges e da paraninfa da turma, a deputada federal Iara Bernardi (PT). A segunda formatura realizada em Tatuí teve início às 20h, trazendo discursos, execução dos hinos nacional e de Tatuí e marcando a instituição do juramento das promotoras.

“As meninas compuseram um texto de comprometimento. Para isso, eu chamei as formandas da primeira turma para que participassem desse momento”, contou Heloísa. A anfitriã da noite destacou que essa é a primeira vez – em todas as formaturas de PLPs pelo Brasil – que houve juramento.

Heloísa compôs mesa dos trabalhos ao lado da deputada federal e do coordenador do curso de produção fonográfica da Fatec (Faculdade de Tecnologia) “Professor Wilson Roberto Ribeiro”, Luis Antonio Galhego Fernandes. Também tiveram assento, a vereadora Rosana Nochele Pontes (Pros) e a secretária de Assistência e Desenvolvimento Social de Guareí, Tânia Mateo.

Em cumprimento ao cerimonial, as formandas entraram no recinto após serem chamadas. Na sequência, os componentes da mesa de trabalhos realizaram pronunciamentos. A abertura dos discursos ficou a cargo do professor da Fatec.

Fernandes disse estar honrado em participar da iniciativa e falou sobre o papel do curso. Também conceituou as palavras que formam a sigla e destacou que as alunas buscam a eficiência. Por fim, parabenizou todas as alunas.

O ineditismo do evento ficou por conta do juramento lido por Daniela Fogaça e acompanhado pelas promotoras. Com o braço direito levantado, as formandas se comprometeram a colocar em prática os conhecimentos adquiridos.

Por conta da iniciativa, Siradeis Apolinário – uma das 15 alunas do curso e responsável pelo cerimonial – convidou a equipe que se formou em 2014 (tendo aulas em 2013) para juntar-se ao grupo em ações que deverão ser contínuas.

“Nós não terminamos aqui. Temos propostas, projetos e acreditamos na força do grupo. Por isso, convidamos as meninas da primeira turma a se unir. Acreditamos que de nada vale o curso se nós não praticarmos”, afirmou.

Mantendo “o tom”, a secretária de Guareí afirmou que as formandas precisam continuar unidas. Também parabenizou as mulheres pela conclusão do curso e citou que é preciso maior propagação da iniciativa. “Quero dar os parabéns e dizer a todas aqui que não fraquejem nesse caminho”.

A paraninfa da turma também pediu engajamento às mulheres para a promoção e a garantia da igualdade de direitos. Nesse sentido, cobrou colaboração de todos os setores.

Iara também elogiou o trabalho desenvolvido por Heloísa na realização do curso em Tatuí e citou que vai batalhar pela instituição do juramento junto ao curso de formação. “Vamos tratar disso como uma tradição”, garantiu a deputada.

O curso trazido à Sorocaba deve ser estendido em 2016 para Salto. Atualmente, além de Tatuí, ele é oferecido gratuitamente a mulheres de Mairinque, Alumínio e Botucatu. “Ele é voltado para questões das mulheres”, resumiu Iara.

Conforme a deputada, ele tem como objetivos permitir que as alunas conheçam seus direitos. Também dá a elas a missão de multiplicar as informações.

Em Tatuí, a exemplo das formaturas realizadas em Sorocaba, a solenidade prestou “homenagem abrangente”. Iara destacou que era preciso evidenciar as conquistas de “feministas que colaboraram para o avanço da mulher na sociedade”.

“Esse curso é transformador. E tenho certeza que investir em mulher é o melhor negócio, porque a mulher transforma o ambiente e a comunidade onde vive”, disse.

A deputada citou o fato de que as políticas de investimento aplicadas em países pobres focam trabalhos com mulheres. Conforme ela, os dados são de pesquisas do Bando Mundial. Os trabalhos consistem em alfabetização e capacitação, mecanismos que permitem às mulheres mudar as realidades nas quais vivem.

Para a única representante mulher na Câmara Municipal de Tatuí, o curso faz uma “grande diferença na sociedade”. Rosana afirmou que por meio dele, as promotoras podem levar conhecimentos para as pessoas assistidas e, com isso, garantir direitos. Por fim, colocou o mandato à disposição da coordenação.

Considerado um momento especial, a entrega dos certificados marcou o término de um ciclo de trabalho na carreira de Heloísa. Para ela, a formatura representou um “momento especial”. A coordenadora destacou, ainda, que a segunda turma tem um diferencial: está comprometida a dar continuidade às ações voluntárias e que visam à divulgação dos direitos dos cidadãos.

“Estou com muita esperança nessa turma. Elas estão comprometidas com a causa da mulher. Tanto que, na semana que vem, vão se reunir para discutir ações”, antecipou.

Por ter as expectativas superadas e por conseguir mudar a realidade de mulheres, Adriana será uma das promotoras a integrar os novos projetos previstos para este ano. A assistente social contou que o curso somou ao trabalho desenvolvido por ela na comunidade onde vive e poderá ser aplicado para mudar a realidade de muitas outras.

Ela também citou que a formação proporciona conhecimento para quem a frequenta. “Com o grupo, você consegue saber que existem formas de ajudar o próximo e de resolver coisas que pareciam tão difíceis à primeira vista”, disse.

Além de disposição, as alunas do curso têm de ter comprometimento para conseguir se formar. De março a dezembro, elas recebem instruções em forma de palestras e têm de realizar ações voluntárias (visitas, eventos e outras iniciativas). Essas últimas, contam como horas de estágio obrigatórias.

“Essa é a principal parte. Além de tempo, tem que ter um lado voluntário. Como nossa turma se identificou com isso, nesse ano, a cidade vai ouvir falar muito das PLPs de 2014. Estamos preparando projetos grandes”, antecipou.

Entre os trabalhos que devem ser colocados em prática, está uma campanha de orientações às mulheres a respeito de direitos e deveres. Adriana disse que essa é uma das frentes que o grupo pretende focar e que carecem de iniciativas.

“Muitas coisas deixam de ser resolvidas dentro de casa ou na própria comunidade por falta de informação. E nós vamos fazer isso, falar de legislação, de forma simplificada, usando a linguagem das comunidades”, contou.

Mirna Iazzetti Grando também engrossa a lista das mulheres que atuarão em “nova frente” a partir da formatura. As alunas começaram o curso em março.

“Ele é fantástico. Entramos sem saber muito bem o que vai acontecer, mas aos poucos, ele vai abrindo portas e mostrando o que é e quais são os direitos”, citou.

A partir do conhecimento, Mirna destacou que as alunas passam a ter noções que as ajudam a se defenderem e a mudarem a realidade de outras pessoas. Também esclarece para as mulheres de quais maneiras elas podem buscar a igualdade e incentivam a defesa contra a violência e a desigualdade.

O curso é composto por encontros semanais. Cada turma – com limite de 40 mulheres – escolhe em qual dia da semana quer assistir palestras. Os conteúdos são ministrados por convidados, das 19h às 21h, no auditório do Colégio Objetivo.

A equipe que ministra palestra vem “de todos os segmentos”. No evento de formatura, o destaque ficou para o apoio oferecido pelo juiz Marcelo Nalesso Salmaso. Por conta de compromissos anteriores, o magistrado não pôde comparecer à formatura. Entretanto, enviou carta de agradecimento pessoal.

“Ele (o juiz) abre toda a parte legal. Deixou o fórum à nossa disposição para que pudéssemos assistir audiências, participar da Justiça Restaurativa”, contou Mirna.

Segundo ela, as atividades auxiliam as participantes a entender como funcionam os órgãos, de quais maneiras as pessoas são assistidas e incentivam o protagonismo. “Elas ensinam as pessoas a se fortaleceram para buscarem a ação. Isso faz com que o curso se torne extremamente interessante”.

Por conta do “entrosamento” e do envolvimento nas iniciativas realizadas ao longo de 2014, Mirna antecipou que o grupo pretende montar uma ONG. Em princípio, a instituição deverá atuar na defesa dos direitos das mulheres.

“O curso foca na violência doméstica, tanto que foi criado para isso, mas hoje ele se abriu. Prevê ações em todos os sentidos da violência, seja da mulher, seja da criança, seja do idoso. Só que para isso, é preciso haver um local”, disse.

A intenção das mulheres é conseguir um espaço, ou trazer para o município, um programa que permita dar atendimento mais efetivo às vítimas de violência.

Em Sorocaba, a assistência é oferecida por meio do Plenu – Instituto Plena Cidadania. “Eles têm um local no qual as PLPs atendem e é tudo gratuito”, disse.

Mirna afirmou que a pretensão é de desenvolver um trabalho semelhante em Tatuí. “São orientações muito sérias. Existe uma sequência de acompanhamento e que representam alternativas ao que é oferecido”, concluiu.