Caminhoneiros realizaram protesto e interditaram parcialmente a rodovia Antonio Romano Schincariol (SP-127) na tarde de segunda-feira, 21, na altura do quilômetro 113, em Tatuí.
As carretas ficaram estacionadas no acostamento e em uma das pistas da rodovia. Os caminhões parados preencheram uma extensão de mais de dois quilômetros, nos dois sentidos da rodovia, segundo estimativa da Polícia Militar Rodoviária e dos manifestantes.
Somente eram autorizadas as passagens de carros, ambulâncias, ônibus e caminhões com animais e produtos perecíveis. A ação teve a participação do Sindicato dos Caminhoneiros de Tatuí.
Segundo o secretário da categoria, André Monzart da Silva Simão, a entidade aderiu à paralização nacional que tem como pauta de reivindicação o congelamento de preços dos combustíveis e a aplicação da lei 13.103/2015, que regulamenta a não cobrança do eixo erguido em veículos.
“Hoje, muitas rodovias vêm cobrando esse eixo suspenso por uma margem que a lei acabou deixando”, explicou Simão.
O secretário destacou que a ação é de iniciativa dos trabalhadores e que o sindicato se mobilizou para organizar o movimento e dar suporte à negociação. “Um ou outro caminhoneiro que não tem vontade de parar, após conversar com quem já está parado, acha, por bem, aderir à paralisação”, anunciou.
O protesto movimentou um grande efetivo da Polícia Militar Rodoviária, que precisou ficar em toda a extensão do trecho, a fim de dar segurança aos manifestantes e condutores de veículos, que passavam pelo local.
O capitão da PM Glauco Oliveira disse que 60 manifestantes iniciaram o protesto e acabaram forçando a parada de outros caminhoneiros. Segundo ele, os motoristas aguardavam a presença da imprensa, com a intenção de divulgar a ação realizada na cidade.
“Em princípio, está pacífico, só com resistência em obrigar alguns que não querem parar. Estamos negociando para liberar esses caminhões”, explicou o policial.
O caminhoneiro Sidnei Edson Toledo disse que a paralisação atrasou o dia de trabalho dele. Precisando carregar o caminhão para fazer as entregas de produtos encomendados por consumidores por meio da internet, o motorista contou que estava com a prestação do caminhão atrasada. Mesmo aderindo ao manifesto, ele se dizia descrente quanto aos resultados do movimento.
“Gastei, na sexta-feira, 200 reais de combustível; há 90 dias eu gastava 120. No fim, acho que está valendo (a paralisação), porque está precisando. Só acho que essa movimentação toda não vai adiantar nada. Está arriscado eu perder o frete e o diesel não vai baixar”, comentou.
O profissional contou ter sido “pressionado” a parar e que, quando tentou furar o bloqueio, foi ameaçado por colegas. “Se fosse para ajudar, até valeria a pena, a decisão tem que ser do outro lado. Os governantes têm que olhar mais para o transporte. Tudo o que se come e se faz depende do transporte”, opinou.
Toledo expôs que “a sociedade está pagando pelo rombo da Petrobras e que, indiretamente, estão cobrando por algo que não foi motivado pelos cidadãos”.
“Toda vez que eu vou abastecer meu caminhão, o preço aumentou. Quem tem que pagar por isso são as malas de dinheiro apreendidas, os bens que foram adquiridos com propina e tudo mais”, concluiu.
Diversos caminhoneiros, com medo de represálias, preferiram não dar entrevista a O Progresso. Muitos realizam o frete para empresas e não são afetados diretamente pela alta dos combustíveis.
“Fui obrigado a parar. Sou contratado para dirigir o caminhão e, independente do preço do óleo ou do pedágio, tenho que cumprir a minha carga de trabalho”, disse um dos motoristas, que não quis se identificar.
Já o motorista Wanderley Aparecido da Fonseca opinou que o preço do diesel não é o mais importante e pediu um novo governo para o Brasil. O manifestante criticou a ação da Polícia Rodoviária e acusou os policiais de incentivarem os caminhoneiros a prosseguirem a viagem.
“(A PM) está tentando vetar a nossa greve, tumultuando para o pessoal ‘quebrar’, o que está fazendo é instigar o povo a ter uma atitude”, protestou Fonseca.
O motorista disse que está impossível trabalhar com frete no Brasil e que estão trabalhando apenas para “pagar o governo, não sobrando nada para o sustento do trabalhador”.
Questionado sobre se o sindicato estaria obrigando os motoristas a aderirem à greve, Simão negou as ameaças e reforçou que os diretores estavam apenas convencendo os trabalhadores sobre a importância da paralisação.
“Nós estamos com cinco pessoas que representam o sindicato. Não temos esse poder de bloquear, estamos tentando conscientizar quem está participando da paralisação que não obrigue ninguém a ficar aqui”, disse Simão.
Um balanço divulgado na tarde de segunda-feira pela Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros) apontava que as manifestações ocorriam em 19 estados brasileiros.
Segundo a associação, o estado com maior número de paralisação era Minas Gerais, com 15, seguido da Bahia (13), Rio de Janeiro (11) e Santa Catarina (10).
De acordo com a CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos), foram registrados, na segunda-feira, 188 pontos de paralisação no país, sendo 7 no Norte, 38 no Centro-Oeste, 27 no Nordeste, 55 no Sul e 61 no Sudeste.
O Brasil registra um milhão de caminhoneiros autônomos, 600 mil representados pela Abcam.