Pouco difundido, o Dia Internacional da África é realizado por todo o país com intensidade a depender da região do país. Em Tatuí, o NAF (Núcleo Afro-Feminino) – grupo formado por dez mulheres – quer corrigir esta distorção. Para isso, promove, neste sábado, 27, série de atividades na Praça da Matriz.
A mostra é composta por apresentações de ritmos musicais, oficina de fabricação de bonecas abayomi e penteados afros. As atrações começam às 15h30, são gratuitas e destacam o tema “África – Berço da Humanidade”.
O objetivo é não só evidenciar as heranças africanas na cultura brasileira, mas exaltar a importância do negro na formação do país, como contam as integrantes do núcleo. A professora Elaine Cristina Almeida Pires explicou que o grupo decidiu “apropriar-se” da data em função do significado.
“Somos descendentes de africanos, e toda a nossa cultura recebeu influências africanas, na música, na culinária. Tudo tem a África. Então, achamos por bem comemorar justamente como referência aos nossos ancestrais”, disse.
Instituído em 1963 e comemorado no dia 25 de maio, o Dia Internacional da África é resultado de movimento que originou a criação da OUA (Organização da Unidade Africana).
Na ocasião, ela buscou oficializar a luta do continente contra o colonialismo e o apartheid (regime de segregação racial adotado de 1948 a 1994 na África do Sul). Atualmente, a entidade é denominada de UA (União Africana).
Em Tatuí, a data já foi lembrada em eventos anteriores, promovidos pelo CMICN (Conselho Municipal dos Interesses do Cidadão Negro).
Desta vez, as mulheres do NAF querem expandir as possibilidades. Para isso, elegeram a Praça da Matriz para as atividades de conscientização.
No ano passado, o grupo optou por uma explanação do assunto. Em 2017, com apoio da Prefeitura – por meio da Secretaria Municipal de Esporte, Cultura, Turismo, Lazer e Juventude –, as integrantes decidiram dar à comemoração proporções maiores, visando mais engajamento.
Marisa Estela Silva explicou que as integrantes se reuniram para definir quais datas seriam mais significativas para o núcleo. “Na conversa, o dia internacional foi mencionado. Ele é uma das principais datas para o NAF. Por isso, resolvemos que iríamos celebrá-la”, contou.
Para Marisa, ao evidenciar as heranças africanas na cultura brasileira, o núcleo instiga a conscientização das pessoas. Neste caso, tanto da comunidade negra – para que possa lutar por direitos – como das pessoas de todas as etnias, no sentido de atingirem a promoção da igualdade.
O grupo de mulheres tem feito uso da lei 10.639 como instrumento para gerar maior mobilização e difundir cada vez mais a data. Sancionada em 9 de janeiro de 2003, a legislação alterou as diretrizes e bases da educação nacional para incluir, no currículo oficial da rede de ensino, a obrigatoriedade do tema “História e Cultura Afro-Brasileira”.
Como a legislação coloca o assunto em evidência nas escolas, o grupo tem sentido menos resistência. Prova disso é que professores do município – mesmo sem ter currículo próprio para a discussão da temática –, por iniciativa própria, estão trabalhando o conteúdo em sala de aula, na tentativa de conscientizar a população negra e não negra a discutir a respeito de discriminação.
As atividades deste sábado têm abertura com uma explicação a respeito do dia 25 de maio. Na sequência, há apresentação de ritmos africanos, como maculelê e maracatu. “Nós reproduziremos os ritmos que são chamados de afro-brasileiros, mas que têm raízes nos ritmos africanos”, citou Marisa.
Conforme ela, a música é uma das maiores contribuições dos africanos para a cultura brasileira. A influência deve-se, em partes, a ritmos como o jongo e o batuque de umbigada, falados e utilizados pelos negros brasileiros no período da escravidão. “Era como eles se comunicavam”, comentaram as integrantes do NAF.
Alguns dos ritmos são praticados na região, ainda que não do “modo original” devido à miscigenação. Em Tietê, por exemplo, o batuque de umbigada é dançado com a barriga. Em Piracicaba, Marisa contou haver uma variação. Ao invés de encostarem as barrigas uns nos outros, os praticantes usam varetas.
Na Matriz, as militantes promovem oficina de fabricação de bonecas abayomi. “São brinquedos que surgiram nos navios negreiros, feitos com trapos das roupas das mulheres que vieram da África na condição de escravas”, citou Elaine. A professora resgatou o processo de fabricação há mais de dois anos.
As mulheres que passarem pelo espaço também poderão se sentar em estandes de embelezamento. O grupo pretende ensinar as mulheres a amarrarem turbantes e disponibilizar atendimento para confecções de tranças.
Para realizar o evento, o grupo “adicionou” mais 20 pessoas aos trabalhos. A organização conta com a ajuda de voluntários, totalizando 30 colaboradores.
Esta não é a primeira iniciativa do NAF no município. Desde o ano passado, as militantes promoveram três eventos no CEU (Centro de Artes e Esportes Unificados) “Fotógrafo Victor Hugo da Costa Pires”, sendo a “estreia” em março de 2016.
Na ocasião, as mulheres realizaram a primeira edição da oficina de bonecas, promoveram sarau de poesias e roda de conversa. Por meio desta última, debateram com os participantes sobre a discriminação e o papel do negro na sociedade.
Na segunda iniciativa, denominada “Somos Todos Dandaras”, o grupo propôs reflexão sobre a mulher negra no mercado de trabalho.
Ainda em 2016, o grupo participou do Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro.
Conforme a professora, o tema ainda passa despercebido pela maioria da população. Entretanto, tem ganhado cada vez mais atenção da sociedade e dos meios de comunicação. “Estamos tendo um bom acolhimento”, encerrou.