Mostra de Artes Cênicas tem peça com interpretação em Libras na quinta

Chiquita Bacana no Reino das Bananas, peça que será encenada na sexta-feira, 6 (foto: Ian Kovalski)
Da reportagem

Nesta quinta-feira, 5, o Conservatório de Tatuí promove a abertura da Mostra de Artes Cênicas, no teatro “Procópio Ferreira”, e, pela primeira vez na história do festival, os alunos apresentam uma peça inclusiva, com interpretação simultânea em Libras (Língua Brasileira de Sinais).

A iniciativa é dos estudantes do primeiro ano do curso de teatro adulto da instituição, que sobem ao palco, às 20h, com o espetáculo “História de Lenços e Ventos”, de Ilo Krugli. Eles serão acompanhados pela interprete Tilly Bertolaccini. A entrada é gratuita e a classificação, livre.

A atriz e professora de teatro Adriana Afonso Oliveira explica que a intenção é fazer com que o espetáculo seja inclusivo e acessível a todos os públicos. A montagem foi feita por atores adultos a partir de um conto infantil que aborda, entre diversos temas, a liberdade.

A diretora conta que a ideia de levar uma interprete de Libras para o palco surgiu a partir de reuniões com os atores sobre o público-alvo. “A gente começou a conversar sobre a questão da liberdade e quem a gente queria alcançar com a peça, e eu voltei para casa pensando nesta emergência”, contou a atriz.

Segundo ela, a ideia foi passada para a intérprete – que tem uma escola com cursos de Libras – e também foi ao encontro dos anseios de Tilly em poder levar o público com deficiência auditiva para o teatro.

“Eu queria alcançar a todos sem distinção. Quero que as pessoas possam olhar aquele espaço e saibam que podem entrar e assistir a um espetáculo sabendo que tanto faz de onde ele vem, quem ele é, ou o que ele possui de diferente ou de diferença”, destaca a diretora.

Adriana acentua que uma estimativa informal aponta que mais de 600 pessoas com deficiência auditiva vivem em Tatuí e quase não têm acesso a conteúdos culturais por falta de interpretação em linguagem acessível.

“Sabemos da necessidade de uma intérprete no teatro, e isso é urgente. Eu até me sinto atrasada uns 20 anos buscando isso só agora. Mas, este será o primeiro de muitos espetáculos inclusivos, pois também estamos pensando em outros meios para incluir as pessoas com deficiência visual”, observa a professora de teatro.

O aluno Ian Kovalski Marques França, responsável pela criação dos adereços do espetáculo, também enfatiza a necessidade da inclusão nos ambientes culturais. Ele é professor de filosofia na rede de ensino e afirma que ainda existe “um atraso muito grande nesta questão em todo o país”.

“As pessoas com deficiência quase não têm participação nos espaços culturais e poderiam ter uma interação muito maior. Tanto na questão educacional, quanto na artística e cultural, é uma falha, e é nosso dever rever isso. Se começar com os pequenos coletivos, talvez a gente consiga mudar essa realidade”, salienta o aluno.

A atriz Maria Jheiny dos Santos comenta que a ideia é incluir um projeto na instituição para ter uma interprete de Libras em todas as peças do Setor de Artes Cênicas. Contudo, em “História de Lenços e Ventos”, a interpretação é ainda mais necessária.

“A peça tem um conteúdo leve, poético, que mostra um pouco das particularidades de cada um dos lenços, e isso faz com que a gente tenha uma proximidade ainda maior com o público. Ali, cada um é de um jeito, mas todo mundo participa da brincadeira”, argumentou a aluna.

A diretora ainda sustenta que a iniciativa pode incentivar mais grupos a fazerem espetáculos com acesso a todos os públicos. “É um pontapé, eu estava pensando em fazer a mesma coisa que um monte de gente pensa, mas alguém tinha que começar a fazer”, observou Adriana.

“A gente pensa em diversas coisas dentro do Conservatório, e não é que isso tenha ficado de lado, é que são muitas coisas a se fazer e pensar. E, como eu estou com o pessoal adulto, decidi experimentar com meus alunos”, completou.

A apresentação ainda será uma homenagem ao autor argentino Ilo Krugli, que faleceu no dia 7 de setembro deste ano. O enredo acontece em um quintal com lenços em um varal.

“Ali, passam todos os ventos, voam todos os lenços, se estende a noite e brilha sol. Então, é uma grande brincadeira de criança feita por adultos, com poesia, música e liberdade”, apontou Adriana.

Fazem parte do elenco: Ercília Lauro, Juninho Plens, Felipe Santos, Giovani Bruno, Giovanna Panebiachi, Giovana Moreira, Heloise Comim, Higor Saroba, Ian Kovalski, Jéssica Jhully, Juliana Lorenço, Lorrane Suelen, Luana Huggler, Maria Eduarda Rodrigues, Maria Jheiny, Marília Pasqualotto, Murilo Juvêncio, Pedro Bueno Caresia, Vanuly Gonçalves, tom Adrac e Willian Corrêa.

A peça ainda conta com preparação vocal de Edmo Peradim; direção musical de Tiago Augusto Marcos; iluminação de Adriana Afonso e Kellen Faustinoni, sob a orientação de Tiago Leite; cenografia e maquiagem dos alunos; e os músicos Tiago Augusto Marcos (violão), Didier José Hirschberg (acordeom) e Ernandes Justino (clarinete).

A mostra é produzida pelo Setor de Artes Cênicas da instituição e segue até o dia 8. Ao todo, serão apresentados sete espetáculos integrados por alunos dos cursos de teatro juvenil, teatro adulto e aperfeiçoamento.

Sexta-feira

Na sexta-feira, 6, a mostra tem continuidade às 15h, com os alunos do primeiro ano do curso de teatro juvenil apresentando “Chiquita Bacana no Reino das Bananas”, texto de Reinaldo Maia.

A peça foi escrita em 1977 e coloca em cena o absurdo de uma menina que é acusada de ter comido uma banana no Reino das Bananas. O reino é comandado pelo rei Leonino e atravessa uma fase em que os animais estão perdendo suas funções sociais.

O que acontecerá no final só os espectadores poderão decidir. A direção geral é dos professores André Luiz Camargo e Fernanda Mendes; assistência de direção de Thiago Leite; e direção musical de Joseval Paes. A classificação é livre.

No mesmo dia, às 20h, alunos do curso de aperfeiçoamento em performance encenam “Perfoda-se”, com roteiro produzido coletivamente pela turma, sob a orientação do professor João Armando Fabbro.

A peça visa “a uma reflexão sobre a vaidade humana e a busca de uma boa aparência que esconda nossas fraquezas, num reflexo vazio da eterna procrastinação”. Com tema adulto, a peça é recomendada apenas para maiores de 18 anos e terá lotação máxima de cem pessoas na plateia.