As três vítimas de chacina ocorrida na noite de domingo, 29 de março, receberam oito tiros e estavam “enfileiradas”. É o que consta em boletim de ocorrência divulgado pela Polícia Civil na tarde do dia seguinte ao crime e relatado pela Polícia Militar.
Conforme o documento, os corpos dos homens foram localizados na estrada vicinal que dá acesso ao Jardim Novo Horizonte, no bairro Água Branca. A PM recebeu a informação de que três pessoas estavam baleadas no local, no período da noite.
No ponto descrito, os militares encontraram o ajudante-geral Rafael Oliveira e Silva Campos, de 22 anos, o servente de pedreiro Cleiton Eduardo de Oliveira, 29, e o operário Samuel Fernando Tobias de Souza, 27, com perfurações.
Além da PM, o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e o Corpo de Bombeiros foram deslocados para atender à ocorrência. As vítimas não resistiram aos ferimentos e morreram no local. Segundo os militares, um médico da unidade avançada do Samu fez a verificação dos óbitos.
A Polícia Técnica de Itapetininga precisou isolar a área para realizar perícia. Os corpos seguiram para o IML (Instituto Médico Legal) da mesma cidade.
Conforme a PM, os corpos das vítimas estavam enfileirados – um ao lado do outro – no acostamento da estrada vicinal, todos com perfurações provocadas por arma de fogo de calibre indefinido.
No local onde estavam os corpos, tanto os militares quanto os policiais civis não conseguiram localizar “qualquer tipo de cápsula deflagrada” e que pudesse auxiliar na verificação do calibre utilizado pelos autores do triplo homicídio.
Conforme a PM, Campos levou dois tiros, sendo um atrás da orelha do lado direito da cabeça e outro nas costas; Souza morreu por conta de três tiros, todos eles na cabeça, desferidos na parte da nuca; Oliveira também foi alvejado por três disparos. Um deles atingiu a cabeça (pegando na nuca); o outro, o pescoço (próximo à orelha direita); e um terceiro, o antebraço direito.
A PC trata o caso como triplo homicídio, mas também considera as mortes como chacina. “As duas coisas, mais ou menos, se equivalem porque há várias vítimas”, disse, em entrevista, o delegado titular Francisco José Ferreira de Castilho.
Segundo ele, a partir de três mortes, o crime pode ser considerado como chacina. O titular enfatizou, porém, que a maior preocupação não é a nomenclatura.
“Precisamos ver o que está gerando isso (os assassinatos) no município. Nós tivemos vários delitos nesse mês (de março) de homicídio. E todos estão muito bem adiantados no quesito esclarecimento”, argumentou o delegado.
Castilho informou que dois dos três assassinados (Oliveira e Souza) tinham passagens pela polícia. Também eram investigados por dois crimes de homicídio, sendo um, uma tentativa. “O terceiro morto (Campos) eu não tenho informação concreta de participação dele em algum crime”, declarou o titular.
A tentativa de homicídio da qual os dois primeiros são suspeitos ocorreu no dia 20 de março, contra um homem de 36 anos. A vítima precisou subir no telhado de uma residência para escapar de três criminosos. A PM localizou-a depois de receber chamado de disparo de arma de fogo, no Jardim Santa Rita de Cássia.
De acordo com a corporação, o homem também teve o carro perfurado por tiros. O veículo dele, um Chevrolet Kadett, cinza, ano 1993 e com placas de Tatuí, estava estacionado a metros da residência usada pela vítima para se refugiar.
Uma testemunha acionou a PM depois de ouvir barulhos. A mulher, de 37 anos, disse que não viu quem efetuara os disparos. Contou, apenas, que percebeu que uma pessoa subira no telhado de uma residência para se proteger.
Os PMs localizaram a vítima “bastante ferida e com quatro perfurações aparentes”. O homem estava sobre o telhado do endereço fornecido pela testemunha, perto do veículo. O carro dele ficou parado no cruzamento das ruas Benedito Nunes com Osório de Campos, quase na entrada – ou saída – do Santa Rita.
A equipe notou que o veículo também apresentava perfurações e, no local, encontrou dois projéteis. Os militares fizeram, ainda, acompanhamento do socorro ao proprietário. O homem foi levado ao Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto” pelo Samu.
Uma segunda testemunha (não descrita em BO), contou aos policiais que viu quando duas motos passaram pelo local no momento dos disparos. No entanto, não soube precisar se cada um dos veículos era ocupado por uma ou mais pessoas.
Durante os primeiros-socorros, o homem conseguiu conversar com os policiais. Apesar de “fazer colocações desconexas”, prestou informações “relevantes”.
No início, os militares informaram que o homem não conseguia dizer o nome. A equipe levantou a identidade da vítima depois de encontrar, com ela, um “Cartão Cidadão”. Pelo nome, os PMs conseguiram os demais dados do homem.
Antes de ser hospitalizada, a vítima disse que os tiros foram disparados por três pessoas e que elas ocupavam duas motos. Porém, não soube descrever os modelos dos veículos, nem dar outra informação que pudesse ajudar na identificação.
O homem baleado relatou, ainda, que um dos bandidos é conhecido pelo apelido de “Seco”. Ele precisou ser internado e o veículo, recolhido para exame pericial.
Nas ruas próximas aos disparos, os PMS encontraram duas cápsulas de projéteis. Uma de calibre 380, deflagrada, e outra, de chumbo, aparentando ser do mesmo calibre.
Seco é o apelido de Oliveira, uma das três vítimas da chacina de domingo. Ele seria um dos envolvidos na tentativa de assassinato contra o homem de 36 anos.
“Ele e o outro (apelidado de Samuca) eram os suspeitos que nós estávamos apurando. Já havíamos pedido mandados de busca e de prisão, mas não deu tempo de eles serem analisados pela Justiça e de a PC cumpri-los”, afirmou Castilho.
Investigação
A PC está na segunda etapa de investigações, que é a apuração de informações repassadas por denúncia. O titular explicou que o trabalho de esclarecimento tem início logo nos primeiros momentos da comunicação dos crimes.
“A primeira etapa é ir ao local, pegar pequenos indícios que possam dar um norte para as investigações, porque homicídio é um crime que qualquer um de nós está sujeito a ser vítima, infelizmente. E, também, de cometer”, argumentou.
O delegado enfatizou que as mortes podem ser originadas por vários fatores e que, mesmo em casa, as pessoas não estão imunes. Conforme ele, uma briga entre marido e mulher pode acabar em homicídio, dependendo das condições emocionais dos envolvidos e das circunstâncias dos desentendimentos.
Prova disso é que, em 2014, alguns dos homicídios tiveram relação com desavenças familiares. “Nós tivemos alguns deles com essa característica”, lembrou.
Castilho afirmou que a PC já tem uma linha de investigação para o triplo homicídio. Entretanto, não a divulgou para não atrapalhar o rumo das investigações.
“Já temos algumas denúncias e informações que estão sendo checadas no momento. Nossa equipe está nas ruas, confirmando dados”, enfatizou o delegado.
O esclarecimento do caso envolve toda a equipe do SIG (Setor de Investigações Gerais) e de esclarecimento de homicídio da Polícia Civil. No momento, os investigadores não descartam a hipótese de “acerto de contas”.
Em princípio, a PC acredita que houve execução, uma vez que uma das vítimas estava com as mãos na nuca. “Vamos partir do princípio de três indivíduos, num local ermo, com tiros na região da cabeça e pelas costas, em posição que não daria a eles poder de reação. Tudo leva a crer nisso”, disse o titular.
O delegado afirmou, ainda, que não é possível concluir que o crime tenha sido cometido por alguém que “sabia o que estava fazendo”.
Castilho refuta, até o momento, a possibilidade de os envolvidos serem “profissionais”, somente por conta de não haver projéteis de cápsulas no local.
O principal argumento é de que a PC ainda não sabe qual o calibre dos tiros desferidos. De acordo com o titular, um revólver calibre 38 não deixa rastros.
“Além de o projétil ficar no corpo das vítimas, a cápsula não sai do armamento. Ela não é expelida, como em uma pistola semiautomática”, declarou.
Para o titular, fazer qualquer tipo de projeção seria exercício de “futurologia”. De momento, a PC aguarda resultado de laudo necroscópico. Os exames vão determinar qual é o calibre dos tiros desferidos.
Conforme Castilho, os resultados devem sair em aproximadamente 30 dias. No entanto, o IML poderá antecipar a conclusão, por conta do número de vítimas, em função da gravidade da ocorrência e da “comoção social” que ela gerou.
“É algo que assusta. Tatuí é uma cidade pacata, boa, progressista. E, sermos acordados com três pessoas mortas, não é nada positivo”, disse o delegado.
O titular informou, também, que a PC ainda não ouviu testemunhas. Para o esclarecimento, os investigadores estão cruzando informações repassadas por denúncia anônima e pela Polícia Militar.
“Nós já temos dados de possíveis autores e estamos trabalhando em cima disso. Mas, eu prefiro não falar mais, porque é prematuro e atrapalharia”, concluiu.
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