Morte do veterinário Vicente Júnior é ‘reconstituída’ a pedido do MP

Carro da vítima é levado ao local dos fatos para a simulação (foto: arquivo da família)
Da reportagem

A partir de solicitação do Ministério Público, aconteceu uma nova reconstituição da morte do veterinário Vicente Antônio Elias Júnior, baleado em suposta troca de tiros com policiais civis em dezembro de 2018.

A ação, que tem o nome técnico de “reprodução simulada dos fatos”, foi realizada pelo IC (Instituto de Criminalística) de Itapetininga, na manhã de sexta-feira, 20, na vicinal que liga Tatuí ao município de Alambari, local da morte.

Participaram da ação um delegado da corregedoria da Polícia Civil, os advogados da família da vítima e os advogados de defesa dos policiais apontados como envolvidos na morte do empresário.

De acordo com um dos advogados da família da vítima, a Justiça determinou a retomada da investigação para novas perícias sobre o caso. A reconstituição foi requisitada pelo Ministério Público, por meio de mandado de segurança, para simular a ação pelo “ângulo da vítima”.

“O carro foi levado no local dos fatos e, desta vez, tombado para saber a visão da vítima”, informou a defesa da família de Júnior.

A reprodução contribuirá para se esclarecer as circunstâncias em que o veterinário foi baleado. O empresário – que teria completado 33 anos no dia 1o de abril deste ano – estava em frente à porteira do sítio da família, acompanhado de um funcionário e um adolescente (na época com 16 anos de idade), quando foi abordado e morto.

Em abril do ano passado, ocorreram duas fases de simulações do caso. A primeira, com a participação de testemunhas e a segunda, com os policiais envolvidos no caso. Ambas foram acompanhas pelos advogados de defesa dos acusados e da família do empresário.

Em novembro de 2019, o inquérito que investiga a morte não indiciou os suspeitos e o documento acabou encaminhado ao Ministério Público. Os advogados da família questionaram o MP sobre a maneira como a reconstituição do caso fora feita e a Justiça determinou a retomada das investigações.

Além do processo criminal, um procedimento administrativo ainda está em andamento no Núcleo Corregedor da Delegacia Seccional de Itapetininga. O setor investiga a conduta dos policiais civis envolvidos na ocorrência para apurar se houve, ou não, infração disciplinar.

Após a conclusão, a apuração deve ser encaminhada à corregedoria auxiliar. A Secretaria de Segurança Pública informou que as investigações são realizadas em segredo de Justiça.

O caso

Conforme constado em boletim de ocorrência pela Polícia Civil, seis policiais à paisana (sendo quatro investigadores e dois delegados), distribuídos em três viaturas descaracterizadas, realizavam uma operação, a partir de suspeitas de que o local seria usado para receptação de caminhões e carga roubada, quando encontraram o carro da vítima na estrada.

De acordo com a polícia, os agentes teriam se identificado e um deles desceu para falar com os homens. Contudo, o motorista do veículo teria atirado contra a equipe. Com isso, no BO, é descrito ter ocorrido troca de tiros.

Ainda segundo o boletim de ocorrência, durante a ação, o motorista tentou fugir. Ao acionar a marcha à ré, ele teria atingido uma das viaturas descaracterizadas e, após outra manobra, acabou capotando o carro.

Segundo a polícia, mesmo após o acidente, a vítima teria continuado os disparos de dentro do veículo, permanecendo parcialmente com os membros inferiores para fora, ocasião em que os agentes teriam revidado, efetuando disparos.

Por sua vez, diferentemente da versão dos policiais, a irmã da vítima, Mariah Roberta Camargo Elias, sustentou à imprensa que o irmão não havia atirado.

Segundo ela, o veterinário estava indo ao sítio do pai para tratar do gado, como fazia costumeiramente. Naquela oportunidade, decidiu levar junto o funcionário da família e o adolescente.

No caminho da propriedade, a vítima teria percebido três carros atrás dele na estrada, mas continuou o trajeto. As testemunhas sustentaram que os veículos seguiram atrás da vítima até o sítio, abordando-os na entrada do local.

Mariah ainda contesta a informação de que os policiais se identificaram durante a abordagem. Segundo ela, as testemunhas garantem que nenhum dos agentes teria se identificado. Por isso, ela acredita que o irmão se assustou e tentou fugir.

Na data da morte, a corregedoria e a perícia técnica estiveram no local. As armas utilizadas pelos policiais e pela vítima foram apreendidas e um boletim de ocorrência de homicídio em legítima defesa acabou sendo registrado.