Morre Henrique Autran Dourado, ex-diretor do Conservatório de Tatuí

Músico, escritor e gestor cultural ficou por dez anos à frente da instituição

Henrique Autran Dourado (Arquivo O Progresso)
Da reportagem

O músico, escritor e gestor cultural Henrique Autran Dourado, ex-diretor do Conservatório de Tatuí por dez anos e colunista do jornal O Progresso de Tatuí, faleceu nesta segunda-feira, 3, em decorrência de problemas cardíacos.

O velório e o sepultamento devem acontecer na tarde desta quarta-feira, 5, a partir das 14h.

Na tarde desta terça-feira, aguardava-se a chegada de dois filhos do artista, que moram no exterior.

Autran Dourado deixou os filhos Marta Albright Autran, Lucas Dourado, Isabela Autran e Pedro Dourado; e dois netos: Thomas e Alice.

O ex-diretor do CDMCC, que nasceu em 1953, permaneceu por duas semanas internado em um hospital na região central da cidade.

Filho do escritor Autran Dourado, Henrique Autran, contrabaixista de formação, escritor, professor, mestre e doutor pela USP e pesquisador deu aulas no Conservatório de Tatuí entre 1984 e 1987 e, em 2008, retornou para ser diretor executivo da escola, posição que ocupou por dez anos.

Antes, estudou no Berklee College of Music e na New England, uma das três principais universidades norte-americanas. Consolidou a carreira internacional, mas acabou por voltar ao Brasil atraído por um convite tido por ele como “irrecusável”.

Pouco tempo depois, Autran Dourado já estava na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), trabalhando com o maestro Eleazar de Carvalho.

Em 1988, começou a lecionar na USP, onde cursou mestrado e doutorado, e desenvolveu um método para ensino de contrabaixo.

Ao mesmo tempo, era diretor da Escola de Música do Teatro Municipal. No relato que fez ao jornal O Progresso de Tatuí no final de 2022, disse que estava difícil conciliar as duas atividades e que ficou com uma perspectiva mais didática, na universidade.

Gestor cultural talentoso, deixou o Conservatório de Tatuí com avanços reconhecidos não somente na área trabalhista, mas também estrutural, pedagógica e artística. Seguiu residindo em Tatuí, mesmo após a saída da direção da escola de música.

Era apaixonado pelo cururu, tradição cultural que recebeu grande visibilidade durante sua gestão na escola de música.

Autran Dourado também desenvolveu trabalhos de difusão do universo da música clássica, assinando a curadoria de séries de concertos e exposições sobre orquestra sinfônica e o universo da ópera.

Lançou importantes livros, como “Dicionário de Termos e Expressões da Música”, “Uma Pequena Estória da Música”, “O Arco dos Instrumentos de Cordas” e, mais recentemente, “Memórias de Isolamento”, uma coletânea de textos escritos durante o período de isolamento da Covid-19.

Alguns deles foram, inclusive, publicados em sua coluna semanal em O Progresso de Tatuí. Suas obras eram vendidas no Brasil, França e Reino Unido.

Condecoração

No dia 29 de dezembro no ano passado, Autran Dourado foi premiado com o Diploma de Mérito “Eleazar de Carvalho”, da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB).

O responsável pelas condecorações foi o curador do prêmio e consultor da OMB, maestro Roberto Farias, que foi aluno e trabalhou com Eleazar de Carvalho, assim como Autran Dourado.

“Henrique Autran Dourado merece ser laureado pelo conjunto de sua obra. Não é só um músico; é um pensador, influenciador, provocador, faz com que a gente pense mais”, disse o maestro Farias no dia da premiação.

“Henrique faz parte das personalidades que mostram que a música no Brasil ainda vale a pena”, afirmou.

O músico começou no Rio de Janeiro, na então FeFieRJ, atualmente UniRio. De sua gestão no Conservatório de Tatuí, considerava, como importante, a organização fundamental de acordo com sua experiência no Brasil e no exterior. Ele buscou estruturar o CDMCC nos moldes da Europa e dos EUA.

A unidade dois, no antigo prédio do fórum, também era lembrança positiva, pois rendeu mais 44 salas à escola, tendo sido instalada “depois de uma epopeia com o governo do estado, em 2012”, contou.

Para ele, foi uma grande conquista. A O Progresso de Tatuí, lembrou que havia sete imóveis alugados pelo Conservatório, que oneravam demais o orçamento. Na unidade dois, desenvolve-se até hoje uma série de atividades.

Henrique Autran disse à época que, “dentro do possível, me entreguei de corpo e alma, como tudo na vida, por dez anos. Aí me aposentei”.

Também considera como importante “a organização fundamental lá dentro de acordo com minha experiência no Brasil e no exterior. Moldar um conservatório nos moldes Europa e EUA”.