MIS de Tatuí: espaço turístico e educativo

Na manhã de terça-feira desta semana, 4, no Centro Cultural, o Comitê Consultivo do Museu da Imagem e do Som, o MIS de Tatuí, teve encontro em que houve a primeira apresentação do projeto do plano museológico do espaço cultural, marcada pela atenção a dois aspectos de grande potencial, além do histórico, naturalmente.

Em síntese, como esperado, o novo museu vai priorizar as riquezas locais, com ênfase na música, na cultura regional e em patrimônios diversos, que podem somar tanto peças de família (como instrumentos musicais) até depoimentos de personalidades significativas para o município, gravados em vídeo.

Outros diversos atrativos integram o projeto inicial (reportagem nesta edição), entretanto, em todos, observa-se o potencial de dois aspectos de extrema pertinência: o turístico e o apelo educativo.

O novo MIS, além de informar a própria população sobre a história da cidade – em especial, como deve ser, por imagens -, ainda promete ser um espaço muito interessante a turistas e, para completar, algo inusitado e dinâmico para estudantes. Possui, portanto, condições para logo tornar-se um novo centro de cultura e propagador de conhecimento.

Estiveram presentes na apresentação, entre outros: a arquiteta, especialista em museografia e sócia-proprietária da empresa Arquiprom, responsável pelo projeto da expografia do museu, Sílvia Landa; o historiador e pesquisador Roney Cytrynowicz; o secretário municipal do Esporte, Cultura, Turismo e Lazer, Douglas Dalmatti Alves Lima (Buko); e o diretor municipal da Cultura, Rogério Vianna.

Sílvia lembrou que o projeto vinha sendo trabalhado havia mais de um ano pela empresa, que também fez a expografia do Museu “Paulo Setúbal”. Agora, chegou-se ao ponto da definição, em detalhes, de todos os espaços a serem abrigados pelo museu, tal como seu conteúdo expositivo permanente.

Contudo, a especialista reforçou que, mesmo neste ponto, ainda novidades podem surgir, logo ou mesmo nos próximos anos, considerando-se a premissa, correta, de que “museus não são lugares de coisas velhas” (jamais); pelo contrário, devem ser dinâmicos e abertos não apenas à comunidade, mas às oportunidades apresentadas pelos próprios munícipes.

Desde o primeiro encontro, inclusive, em outubro de 2022, quando houve já uma apresentação preliminar do plano museológico do MIS, foi evidenciada a importância da participação popular no projeto, por meio do diálogo e de representações.

Na oportunidade, descreveu-se o plano como “um documento de reconhecimento jurídico e uma ferramenta de planejamento estratégico, que compreende os níveis tático e operacional, iniciado pelo planejamento conceitual por meio da definição da missão, da visão, dos valores, dos objetivos e do diagnóstico da instituição e que alinha os seus programas, projetos e ações, de forma global e integrada”.

“É importante destacar o entendimento dos museus como práticas e processos socioculturais colocados a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, politicamente comprometidos com a gestão democrática e participativa e museologicamente voltados para as ações de investigação e interpretação, registro e preservação cultural acerca da realidade brasileira”, ainda conforme divulgado no encontro.

A museóloga Cecília Machado, responsável pelo plano do MIS, então destacou que “a pesquisa em museus visa compreender que a instituição, com acervo e temática específicos, é uma fonte de conhecimento, de informações geradas pela equipe técnica e disponibilizada para seus públicos”.

Estes, por sua vez, detalhou ela, “variam desde estudantes, turistas, comunidade local, pessoas em busca de lazer e cultura, até um público mais especializado, com interesse voltado para a pesquisa científica, que também pode se apropriar do acervo e temática do museu para suas pesquisas e encontrar neles uma rica fonte documental e de reflexão”.

“Além da pesquisa de conteúdo relacionada ao acervo museológico e à temática específica, também é importante que o museu realize pesquisa sobre seu público e sobre o seu não público, formado por aqueles grupos de pessoas que não o visitam”, mencionou Cecília.

“Para nós, quando percebemos que a comunidade, de modo geral, está presente na construção deste diálogo de memória, a instituição museológica se torna mais significativa para Tatuí”, enfatizou.

Para ela, o MIS, além de representativo e permanente, se tornará um lugar em que as pessoas irão muitas vezes. “Isso é uma forma de compartilhamento de sua história e, também, de sentir-se representado e orgulhoso de sua cultura”, acrescentou Cecília.

Na atual reunião, foram confirmados aspectos anteriormente anunciados, como os croquis da expografia feitos pela equipe da Arquiprom. Neles, constam diversos registros históricos orais, pesquisas em acervos do Museu Histórico “Paulo Setúbal” e junto a memorialistas da cidade.

Por exemplo, está confirmado, para compor o MIS, o espaço destinado aos “memorialistas”, com imagens em fotografias e filmes de Tatuí, registradas por quem as produziram ou as preservaram. “Graças a estes pioneiros, podemos contar com uma memória visual e sonora da cidade”, sustentou a arquiteta.

Já com relação à cultura musical, também foi confirmado o acervo com foco e “ouvidos” para o cururu, seresta, fandango, Cordão dos Bichos, outras expressões da cultura da música popular, a cronologia do Conservatório de Tatuí e referências ao título de Capital da Música.

“Tatuí sempre manteve uma tradição de bailes em clubes e salões, animados por conjuntos, bandas e orquestras variadas, das jazz bands aos grupos de rock”, lembrou Silvia. E esse tema também deve possuir um espaço próprio no MIS.

No setor de teatro, o foco será nas atividades da área, desde a fundação da Sociedade Recreio Dramático, em 1871, que construiu o Teatro São João, até a história do prédio do “Teatrão”, que ficava na praça Martinho Guedes, onde atualmente é a praça de alimentação.

Na expografia relacionada a cinema, rádio e televisão, além de um trabalho cronológico – com destaques para a atriz Vera Holtz e o jornalista Maurício Loureiro Gama -, está programado um estúdio interativo, algo que já se pode prever como de franco interesse do público em geral, não apenas dos estudantes.

“Tatuí esteve sempre inserida neste circuito. Maurício Loureiro Gama, nascido na cidade, tornou-se o primeiro apresentador de um telejornal na TV brasileira”, lembrou-se já no encontro anterior. Gama, aos 16 anos, começou a escrever no jornal O Progresso de Tatuí.

A “cadeia produtiva” da música no município também estará presente, por meio do curso de luteria do Conservatório e do de produção fonográfica da Fatec (Faculdade de Tecnologia).

Finalmente, a história do “Matadouro”, onde se encontra o museu, ilustrará a parte externa do prédio. Lá, o público verá referências iconográficas, valorizando o edifício que deu origem ao MIS.

Silvia relatou que o complexo prevê mais dois lugares interativos: o “Anexo do MIS”, composto por uma sala multiuso para atendimento do educativo; e o “Teatro de Arena”, instalado no gramado em frente à edificação, para receber apresentações artísticas.

Benefícios ao município serão vários a partir da abertura do MIS, que levará, com justiça, o nome do historiador Renato Ferreira de Camargo, o qual, ao lado de Erasmo Peixoto, tanto reivindicou e trabalhou pelo “sonho” de Tatuí possuir um museu da imagem e do som.

Que agora, portanto, o trabalho e a memória deles – e de toda a comunidade – sejam oportunamente resgatados e preservados para sempre em mais esse bem-vindo e “necessário” espaço cultural e de turismo!