Uma vez por mês – num total de cinco encontros – mães de alunos de três escolas do município são convidadas a se reunir. Os temas das plenárias não são o cotidiano do ensino, o comportamento dos estudantes, as notas ou o desenvolvimento escolar deles. Têm a ver com os direitos das mulheres.
Os debates, que incluem palestras e esclarecimentos de dúvidas, integram o projeto “Meninas Sabidas”. Trata-se de uma iniciativa realizada desde o ano passado. Ela é um dos resultados práticos do curso de PLP (Promotoras Legais Populares). Em Tatuí, o trabalho é encabeçado por Heloísa Saliba e Borges.
Criado com o intuito de fomentar a criação e adoção de políticas públicas voltadas aos direitos das mulheres, o “Meninas Sabidas” será ampliado. Conforme a idealizadora, ele será expandido para o Cras (Centro de Referência de Assistência Social) Sul. A unidade fica no Jardim Santa Rita de Cássia.
Heloísa explicou que ainda não há previsão do início das atividades. Entretanto, ela deverá envolver as novas participantes do PLP. O curso será retomado neste ano com a formação da quarta turma. As inscrições serão realizadas no dia da aula inaugural. Em 2016, a solenidade acontecerá em data especial.
A expectativa é de que o curso tenha início na noite do dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher. “Não estamos fazendo convites, mas cada aluna formanda deve indicar, pelo menos, duas mulheres para a capacitação”, explicou.
A quarta turma receberá a mesma formação que a terceira, com aulas focando direitos (trabalhista, familiar, entre outros), constituição, políticas públicas e programas de apoio. Também se buscará engajamento em ações coletivas como as desenvolvidas no ano passado. Entre elas, o Outubro Rosa.
Em 2016, Heloísa aguarda uma participação maior de mulheres que integram conselhos municipais. “No ano passado, poucas pessoas responderam aos convites, mas, neste ano, tenho a impressão que mais mulheres vão participar, porque 2016 é um ano especial”, avaliou.
A previsão está relacionada ao desenvolvimento de ações conjuntas entre as promotoras e outras entidades. Em 2015, o curso estabeleceu parceria com o Fundo Social de Solidariedade, comandado pela primeira-dama Ana Paula Cury Fiuza Coelho.
“Fomos para as fábricas falar com as mulheres. Fizemos ações em escolas para os pais, de forma diferente de como trabalha o Fundo. Trabalhamos no estilo do PLP”, disse Heloísa.
De acordo com ela, a experiência deve “abrir novas portas” entre as promotoras e o próprio Fundo Social. “Sentimos na primeira-dama uma abertura bem legal. Ela, inclusive, participou da formatura da terceira turma”, disse.
O evento de certificação aconteceu no dia 21 de janeiro, com participação das 14 formandas. “Essa é a média de participação. Neste ano, estamos esperando formar um pouco mais, por conta da conferência das mulheres”, estimou. O curso é desenvolvido, na cidade, em parceria com a Asseta (Associação de Ensino Tatuiense) e o Colégio Objetivo.
Para Heloísa, a adesão das mulheres varia e tem relação com “a cultura de participação”. Segundo ela, o aumento de presença feminina deve acontecer “naturalmente”. “Isso é algo que temos de desenvolver devagar”.
Em 2015, a capacitação teve como foco principal os assuntos jurídicos. “As meninas saíram com uma base maior a respeito dos direitos”, comentou. Exatamente por isso, Heloísa espera que as formandas possam vir a integrar novos grupos de ações, independentemente do “movimento feminista”.
“Eu torço para que as promotoras realizem ações, até porque o PLP não serve para a pessoa ficar parada, ou só para ela receber um certificado”, comentou.
Como exemplo, Heloísa citou o trabalho desenvolvido pelas formandas da segunda turma. Elas iniciaram, por conta própria e com apoio, ações para coibir a violência contra as mulheres. Também programam a criação de uma ONG (organização não governamental) voltada à defesa dos direitos das mulheres.
Elas também participam do “Meninas Sabidas”, cujo embrião surgiu, primeiro, nas escolas da cidade. “Esse é um projeto que o PLP desenvolve com as mães. Nós usamos os espaços das escolas, mas as reuniões não são para falar dos filhos, mas, sim, discutir sobre o que elas mais querem saber”, disse.
Os temas são selecionados com base em uma “votação”. As mães escolhem sobre quais assuntos querem obter mais conhecimento. “Normalmente, elas querem ouvir sobre a adolescência e os problemas decorrentes dela”, contou Heloísa.
Também são debatidos assuntos como DST (doenças sexualmente transmissíveis), gravidez na adolescência, drogas e políticas públicas para os adolescentes. Os tópicos são abordados com as mães num total de cinco encontros.
Dentro esse período, as promotoras buscam orientar as mães a respeito de leis trabalhistas, direito familiar, pensão e outros temas do cotidiano. “Eu não diria que é um curso PLP, mas uma extensão dele”, analisou a idealizadora.
O projeto é realizado aos finais de semana, dentro do horário reservado para o PEF (Programa Escola da Família). Ele funciona, atualmente, nas Emefs (escolas municipais de ensino fundamental) “Lígia Vieira de Camargo Del Fiol”, na vila Angélica, e “Eunice Pereira de Camargo”, no Jardins de Tatuí, e na Escola Estadual “Fernando Guedes de Moraes”, no Jardim Lucila.
Neste ano, ele será ampliado para o Cras Sul, que tem sede na rua Osmil Martins, 305. O prédio abrigou, anteriormente, o Cosc (Centro de Orientação e Serviço da Comunidade). Esta última entidade passou por reestruturação.
A meta é tornar o projeto “mais independente” da disponibilidade das escolas e, também, de possibilitar a participação de mais mulheres e não apenas mães de estudantes.
Por isso, a preocupação em desvincular a imagem do projeto ao das unidades escolares. Também há a expectativa de envolver as jovens (meninas e adolescentes) que vivem em áreas próximas ao Cras.
“As escolas acabam limitando a participação para as mães e excluindo as mulheres das comunidades. Por mais que você as convide, elas acabam não comparecendo, e isso limita muito a sequência do projeto de orientação”, disse Heloísa.
Outra questão que pode interferir na participação das convidadas é o fato de que as mães, em geral, pensam que os assuntos serão relacionados ao desenvolvimento dos alunos. “Levar o projeto ao Cras Sul vai ser bastante interessante. Não vamos precisar ficar presos ao calendário do PEF”.
O projeto teve início no segundo semestre de 2015, com um café da manhã destinado às mães. A reunião incluiu um sorteio de brindes, seguida por conversas sobre os assuntos escolhidos pelas próprias convidadas.
“Nós queremos que elas (as participantes) sejam referência nos bairros em que vivem, que busquem união para resolução dos problemas”, incluiu Heloísa.
Em outra frente, as promotoras devem continuar com atividades dedicadas à luta pelos direitos das mulheres. Uma delas é o movimento promovido pelas integrantes do curso em novembro do ano passado em reunião da Câmara Municipal.
A ação aconteceu por conta do Dia Internacional da não Violência contra a Mulher (25 de novembro). Na ocasião, as promotoras pediram a criação de uma comissão de vereadores para estudar casos de violência contra mulheres em Tatuí.
O movimento ativista encerrou o ciclo de atividades de 2015 e contou com participação da idealizadora. Heloísa fez uso da tribuna livre para expor a “situação das mulheres” e propor a abertura da comissão, com participação de três parlamentares.
“É uma comissão suprapartidária para discutir políticas públicas para a mulher contra a violência. Chega de varrer para debaixo do tapete o problema”, disse. “Tatuí é uma cidade violenta e machista”, acrescentou.
Heloísa citou, ainda, que as mulheres precisam unir forças para evitar que os problemas, principalmente de violência doméstica, “fiquem entre quatro paredes”. “Precisamos garantir que as mulheres tenham respaldo”, comentou.
Para isso, Heloísa está convocando representantes de diversos setores para debates. Entre eles, o juiz de direito Marcelo Nalesso Salmaso, membros do Ministério Público, da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), do Conselho Municipal da Mulher e da Secretaria Municipal de Saúde.
As metas serão debatidas na aula inaugural da nova turma do curso PLP. Interessadas devem comparecer ao local, à rua Professor Oracy Gomes, 665, na vila Primavera. Ao final do evento, elas poderão preencher ficha de inscrição.
Heloísa explicou que esse formato – adotado pela primeira vez no ano passado – será mantido neste ano. O motivo é que muitas mulheres realizavam as inscrições, mas mudavam de ideia após tomar conhecimento de como ele acontecia.
“Isso ocorria, principalmente, quando entrávamos na parte da política, dos três poderes e da história dos direitos humanos”, comentou.
Com essa alteração, Heloísa mantém as alunas que realmente estão interessadas. Também maximiza o uso dos recursos, uma vez que os cafés servidos para elas e todos os custos com a capacitação ficam a cargo da idealizadora.