Aguardei certo espaço para ler publicações sobre o amigo que partiu para outra vida! Todas, revestidas de nobreza!
Ivo Mendes foi o advogado que vestia a camisa do cliente, contrariando a regra surrada e emitida pelo mundo jurídico, de que não se confunde a parte com o prestador de serviço, ou o médico com o paciente. Fui escolhido seu defensor e com muita honra, durante anos, desempenhei a função à sua vista, às vezes em sua presença. Mesmo durante pugna em política corporativa, mantive-o e fui mantido na sagrada atividade de defendê-lo. Pois aqui, quanto lá fora, também existe indignidade, coisa aferível na raça humana. Poupei-o disso, sem desvestir a beca, e ele entendeu com grandeza que o nutria espiritualmente. Afinal, foi um cidadão do mundo!
Cultivava a palavra do mestre dos mestres, do juiz dos juízes, pregando com rara perspicácia e sabendo que aquele foi a maior das vítimas do ser minúsculo.
Foi perseguido por autoridades prepotentes e arbitrárias, algumas até desumanas, cruéis mesmo.
Ivo era filósofo, dominava o vernáculo com maestria, às vezes e por vezes, se apresentava veemente nas adjetivações, o quanto bastava para se ver acossado. Cuidou dos pobres como ninguém, e dirigiu instituição carente com invejável abnegação. Seus detratores perseguiram-no até aí.
Escultor de poucas obras, mas reconhecido como tal por Mário Galego que o admirava e, posteriormente, Ivo Mendes veio retratar o mestre em estátua.
Deixou imenso saldo celeste e deve estar sacando agora, pois, materialmente, não amealhou fortuna. Sua riqueza era na rima a grandeza de sua alma. Criou filhos que não trouxe ao mundo, mas porfiava a natureza dessa geração como se tivessem advindo de suas entranhas.
Seu exercício profissional, sem exagero, e resguardadas as proporções, analogicamente foi um Chico Pereira, retratado por Paulo Setúbal em “Confiteor”. Atuava com pugnacidade incomum, e passou privações físicas terríveis durante sua vida terrícola. Mesmo com sofrimentos foi uma pessoa invejada!
Sensibilidade, mesmo que pela rama, mostra a sua dura luta temperada com boa música, tocou em grandes orquestras. Morreu rico esse advogado, esse homem pobre.
BAD Silva