Para enriquecer a discussão do momento, devemos ir um pouco além das políticas e analisar o cenário de urgência demonstrado pelo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado no dia 8 de agosto. Para o estudo, foram reunidos mais de cem cientistas de 52 nações que, em uníssono, alertam para a questão da produção de alimentos que deverá saciar uma população projetada, para 2050, de 9,7 bilhões de pessoas, segundo a ONU.
O relatório analisa as relações das mudanças climáticas sob quatro pilares: redução do desmatamento florestal; produção sustentável de alimentos, com foco no cultivo das principais commodities agrícolas (soja, milho, trigo) e proteínas (carnes, leite e seus derivados); necessidade de se investir em reflorestamento para sequestro de carbono; e adoção aos biocombustíveis.
Quando o solo é degradado, por exemplo, ele se torna menos produtivo: a cada elevação de 1 grau na temperatura do planeta haverá a redução de 7,4% na produção do milho, 6% na de trigo, 3,2% na de arroz e 3,1% na de soja. As políticas e medidas de controle, além das escolhas que fazemos no que diz respeito ao consumo e produção podem auxiliar na mitigação desses impactos.
Com base nesses dados é que governantes irão se reunir com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, dia 23 de setembro, em Nova York, denominada de Cúpula de Ação Climática.
A nomenclatura não poderia ser mais acertada, pois traduz o recado que Guterres enviou direto aos governantes: ele pede que as iniciativas apresentadas sejam implementáveis, escaláveis e replicáveis. Atendendo ao chamado de Guterres, o Pacto Global desafiou CEOs de todo planeta a estabeleceram metas ainda mais ambiciosas para suas empresas: que estejam alinhadas ao relatório para que a temperatura da terra não ultrapasse 1,5º C até o ano 2100.
Ao longo da minha carreira, enquanto gestor público ou como presidente de uma escola de negócios, reconhecida internacionalmente por suas práticas sustentáveis, acredito no poder das organizações em sensibilizar, influenciar e engajar para o desenvolvimento sustentável nos negócios.
Assim como o governo, os empresários também devem assumir a posição de líderes na adoção de iniciativas e práticas inovadoras de sustentabilidade.
A integração do público e do privado para uma gestão mais sustentável é possível. Em Vancouver, no Canadá, temos um bom exemplo: a cidade de 600 mil habitantes tem metas ambiciosas para se tornar mais verde até 2020.
Assim como Vancouver, se olharmos com atenção, podemos notar vários exemplos de boas e inovadoras práticas em sustentabilidade ao redor do mundo: Zurique (Suíça), Singapura (República de Singapura), Estocolmo (Suécia) e Viena (Áustria).
Desta forma, o apelo do secretário-geral da ONU para que governantes apresentem soluções concretas nas próximas Cúpulas, é algo que só será possível com uma comunhão de interesses entre o público e privado. Não há mais tempo, o momento clama por proposições de planos concretos e realistas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Neste momento, uma educação voltada para que líderes sejam agentes de transformação é indispensável. Reforço que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) terão resultados mais alcançáveis se fizerem parte de uma ação clara e objetiva nas escolas de negócios e das universidades de todo planeta. Dessa maneira conseguiremos articular, engajar e formar líderes globalmente responsáveis, comprometidos com as ambiciosas metas para mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Esses líderes possuem o conhecimento para enriquecer os debates e auxiliar governantes e comunidades a traçarem objetivos estratégicos pautados em soluções implementáveis.
* Presidente do ISAE Escola de Negócios e Coordenador do Comitê de Sustentabilidade Empresarial da Associação Comercial do Paraná (ACP).