Mediadores evitam confusões em escolas





Cleonice Alves dos Reis Silva

Alunos participam de projetos para evitar conflitos  na escola

 

Sete escolas estaduais de Tatuí contam com professores capacitados para criar ações preventivas de racismo, “bullying” e conflitos nas unidades de ensino.

Possuem esses profissionais as escolas “Altina Maynardes Araujo”, “Ary de Almeida Sinisgalli”, “Barão de Suruí”, “Chico Pereira”, “Fernando Guedes de Moraes”, “José Celso de Mello” e “Lienette Avalone Ribeiro”.

A capacitação, segundo a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, orienta docentes da rede a realizarem ações de mediação e mobilização junto aos alunos.

No Estado, 2.688 professores foram capacitados a prevenir conflitos, criando ações preventivas e “aproximando” a comunidade com as unidades de ensino, de acordo com a secretaria.

O projeto, criado em 2010, é chamado “Professor-Mediador”, pelo qual 1.778 docentes do interior capacitaram-se a orientar e prevenir alunos de conflitos referentes a racismo, “bullying”, discriminação e outros.

Na região de Itapetininga, segundo Fabrício Proença, gestor regional do sistema de proteção escolar, há 32 mediadores, divididos nas cidades de Tatuí, Itapetininga, São Miguel Arcanjo, Alambari, Guareí, Campina do Monte Alegre, Paranapanema e Angatuba.

Em Tatuí, há nove professores mediadores atuando nas escolas. Para unidades que quiserem integrar o projeto, é necessário que a diretoria entre em contato com o órgão central do Sistema de Proteção Escolar, solicitando mediador.

De acordo com a Secretaria da Educação, uma das funções do mediador é idealizar projetos que mobilizem a escola para proteger os alunos de fatores de risco e coibir comportamentos discriminatórios.

Os professores mediadores podem ser de qualquer disciplina, mas, segundo Proença, devem ter perfil de “conciliador, aberto ao diálogo, que não tenha visão punitiva, procure resolver os problemas com conversa e que seja dinâmico”.

“O professor deve buscar parcerias, ter boa relação com a comunidade escolar e habilidade para desenvolver projetos na escola. Antes de atuar como mediador, os professores são entrevistados pela Diretoria de Ensino (Derita)”, informou Proença.

Os professores passam por capacitação em que aprendem técnicas de justiça restaurativa, elaboram jogos, dinâmicas e rodas de conversa com temáticas sobre prevenção.

Ainda conforme a secretaria, racismo e “bullying” não são os únicos temas trabalhados. Os professores estão aptos a desenvolver projetos visando indisciplina, uso de álcool e drogas e gravidez na adolescência.

Segundo pesquisa feita pela secretaria, 90% de 2.445 unidades de ensino aprovam a interferência de mediadores.

Proença explicou que os professores que atuam em Tatuí passam por orientações técnicas em Itapetininga.

“Os professores são convocados seis vezes no ano para orientações na Derita (Diretoria de Ensino da Região de Itapetininga) e, depois, passam por outras, quando os professores coordenadores vão até a escola”, explicou Proença.

Proença disse que os professores mediadores devem auxiliar demais docentes das escolas para também trabalharem com o diálogo.

De acordo com Proença, os casos de violência dentro das unidades escolares, que contam com professores mediadores, estão diminuindo.

“Segundo relato dos professores, as escolas estão com um ‘olhar mais humano’ para os alunos, não estão mais com a visão punitiva. As escolas estão mudando o perfil para evitar a punição”, afirmou Proença.

A “Pmec” (professor mediador escolar e comunitário) da EE “Prof. José Celso de Mello”, Cleonice Alves dos Reis Silva, afirmou que houve bastante mudança na escola, principalmente pelo fato de ter uma pessoa responsável por tratar assuntos difíceis.

“Hoje, você vê o pai chegando, procurando professor mediador. Então, tenho esse papel dentro da escola. Os pais sabem que existe uma pessoa para cuidar desses assuntos”, argumentou Cleonice.

Ela afirmou que é muito importante a ajuda dos demais professores. Por isso, sempre pede para que eles fiquem atentos aos problemas em sala e conduzam os alunos para a mediação.

“Se o aluno está quieto demais ou inquieto, eu peço para os professores encaminharem até a mim, para eu conversar e saber se está tudo bem com ele”, afirmou.

Segundo Cleonice, trabalhar com a prevenção é essencial para evitar “traumas” futuros.

Maria Custódia Mariano Adão, Pmec da EE “Profª. Lienette Avalone Ribeiro”, também entende que prevenir é o ato mais importante.

“Eu trabalho mais com essa parte da prevenção. Além da conscientização, é a prevenção, a ideia é socorrer, prevenir e não punir o aluno. Então, eu chego à sala antes que o problema aconteça”.

Maria também disse que é necessária a ajuda dos outros professores, para evitar que aconteçam conflitos e para que ela possa agir antes.

Conforme as duas professoras, os projetos desenvolvidos pela escola foram decorrentes de problemas que alguns alunos tiveram, como drogas, gravidez, falta de “boas maneiras”, “bullying”, entre outros.

Na escola “Prof. José Celso de Mello”, o projeto de “boas maneiras” foi feito no ano passado, mas, de acordo com Cleonice, devido ao “sucesso” dele, foi estendido para mais este ano.

A ação, segundo Cleonice, foi desenvolvida para “resgatar valores” dos alunos e mostrar quais consequências são geradas a partir de atitudes, boas ou ruins.

“Às vezes, você chega a uma violência por causa de uma má atitude de um aluno”, observou Cleonice.

Os professores e alunos da escola montaram “banners” com fotos dos estudantes em boas ações: respeito, amizade, diversão, companheirismo e outras.

De acordo com Cleonice, os “banners” ficam em exposição por toda a escola, para os alunos não se esquecerem de praticar boas ações e espalhar “valores” para a sociedade.

Na escola “Profª. Lienette Avalone Ribeiro”, Maria destacou o projeto contra o uso de cigarro por crianças e adolescentes.

“Nós fizemos o projeto porque, no ano passado, eles tinham o hábito de querer fumar. Então, nós corríamos atrás, e tínhamos que estar brigando o tempo todo”, contou.

Junto com outro mediador da escola, Maria escolheu um aluno representante em cada sala, para atuar como multiplicador.

De acordo com Maria, os multiplicadores foram responsáveis por confeccionar cartazes, montar palestras e vídeos sobre efeitos do uso do tabagismo e apresentaram aos colegas.

Conforme Maria, a resposta dos estudantes, sobre as palestras, foi muito positiva. Por isso, a escola chamou profissionais para conversar com os estudantes sobre o assunto.

De acordo com Cleonice, a mediação vai além de projetos. Ela disse que é necessário “prestar atenção” nos estudantes para saber o que eles estão precisando.

“Vamos supor que a criança não tem óculos e não está enxergando direito, a minha função é ir atrás disso também”.

“Se a criança quer trabalhar, a gente busca cursos com projetos sociais para habilitá-la a ter o primeiro emprego. Na área de esportes, também: se a criança está dando problema em sala, corremos atrás de incentivar o esporte”, afirmou Cleonice.

Maria lembrou que, além da mediação dentro da escola, ela tenta desenvolver papel de mediadora fora, indo à casa de alunos, que “aprontaram” ou faltaram muito às aulas, para conversar com pais, convocando reuniões com responsáveis, procurando parceiros para ajudar a instituição, entre outras atitudes.

Conforme Maria, a escola também está com um projeto em andamento que monta uma equipe de professores, alunos e pais para atuarem como mediadores e desenvolverem ações em benefício à unidade escolar.

As duas professoras mediadoras disseram que trabalham muito o diálogo com os alunos, que não desenvolvem somente projetos. Deixam o aluno livre para conversar com elas, pois o objetivo é levar paz às escolas, estudantes e familiares.

“O professor mediador não pode punir, nem aconselhar, é uma conversa para poder analisar e ver qual é o problema e descobrir em qual área será possível atuar para ajudar o aluno”, afirmou Cleonice.

A professora disse que, se percebe que um estudante está diferente e não procura ajuda, ela vai atrás de colegas para conseguir informações, pois, se for algo perigoso, precisa encontrar um jeito de auxiliar.

Segundo Cleonice, a escola também incentiva alunos que participam de projetos ou tiram médias altas, com premiações e medalhas de incentivo. Os prêmios vêm de iniciativas privadas que apoiam as ações.

De acordo com as professoras mediadoras, nas duas escolas, elas incentivam o aluno que errou a tomar a iniciativa de desenvolver uma maneira de reparar o que fez.

De acordo com Maria, se o estudante conseguir perceber que errou e pensar em uma forma de mudar a situação, vai ser mais fácil de ele não repetir a ação.

“Quando acontece uma briga entre alunos, nós os colocamos juntos e tentamos fazer, através do diálogo, com que eles se arrependam e tenham a postura de eles mesmos fazerem algum projeto em cima disso”, explicou Maria.

Maria acredita que o professor mediador é muito importante, pois “os alunos precisam ser ouvidos. Tem muitos alunos que entram na sala de aula e acabam passando despercebidos, e, hoje, eles sabem que tem alguém para ouvi-los”.

Justiça Restaurativa

Os professores mediadores também participaram de um curso na Derita, ministrado por Mônica Maria Ribeiro Mumme, com o tema “Justiça Restaurativa”.

Tatuí tem uma parceria com o Poder Judiciário em um projeto chamado “Justiça Restaurativa”, que é o ato de criar círculos de conversação quando há casos de violência na escola.

Segundo Proença, esse projeto é interessante porque os alunos envolvidos em confusão têm uma alternativa no lugar de fazer boletins de ocorrência e abrir processos.

“Com o processo restaurativo, nós vamos ao foco para descobrir o que ocasionou o problema, não damos uma punição por simples punição, porque, muitas vezes, a pessoa está sendo punida sem saber o motivo”, explicou.

De acordo com Proença, quando ocorrer problemas de violência física nas escolas, os professores devem chamar os envolvidos junto com pais ou responsáveis e tentar resolver a situação com diálogo.

“É montado um círculo onde todas as pessoas participantes têm corresponsabilização, todos se veem responsáveis pela situação. O agressor não é punido e nem visto como o único culpado”, afirmou o gestor.

Proença explicou que a intenção é descobrir, através de diálogo, como o conflito começou, e, ao final do círculo, os professores propõem projeto ou curso que o autor terá que executar para se redimir da briga que causou.

“Quarenta dias depois do primeiro círculo, as pessoas são chamadas novamente para ver como o projeto está sendo desenvolvido na escola e qual a situação dos envolvidos”, finalizou Proença.