Jheniffer Sodré
A coordenadora da maternidade de Tatuí, Maria Laura Matias, afirma que o parto humanizado já é realizado no município
Novas diretrizes do Sistema Única de Saúde (SUS), que oficializam recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde (MS), estabelecem que o bebê deve ser colocado em contato imediato com a mãe logo após o nascimento.
Assim como a primeira amamentação deve acontecer na primeira hora de vida e o clampeamento ou pinçamento do cordão umbilical, somente depois de ele parar de pulsar, cerca de três minutos após do parto.
Essas medidas entram em vigor neste mês e passam a valer para todas as unidades do SUS, garantindo o parto humanizado em toda a rede pública. Na maternidade de Tatuí, isso já acontece com frequência há algum tempo.
É importante lembrar que as medidas valem para os bebês que nascem saudáveis e com o ritmo respiratório normal, para que sejam colocados no abdômen ou tórax da mãe, em contato direto com a pele e de acordo com a vontade dela.
Conforme as novas regras, os procedimentos de rotina adotados após o nascimento do bebê, como exame físico, pesagem e limpeza, devem ser realizados somente após esses primeiros cuidados.
Já no caso dos recém-nascidos com respiração ausente ou irregular, por exemplo, as novas diretrizes estabelecem que o atendimento deverá seguir o fluxograma do Programa de Reanimação da Sociedade Brasileira de Pediatria, elaborado em 2011.
A médica obstetra e coordenadora da maternidade de Tatuí, Maria Laura Lavorato Matias, afirma que o parto humanizado vai além dessas medidas, incluindo diversas ferramentas não medicamentosas que podem aliviar as dores da mãe.
“Para que seja um parto humanizado, precisamos encontrar a melhor situação para a gestante, para que ela se sinta bem. Ela não pode se sentir à parte do que está acontecendo, ela tem que ser ativa e ajudar na hora do nascimento. E isso vai desde a escolha de um acompanhante até a posição em que o parto vai acontecer”.
Essas ferramentas comentadas por Maria Laura podem incluir exercícios com bola terapêutica, banhos quentes, massagens nas costas e na região do quadril. Segundo a médica, essas ações ajudam a diminuir o estresse e a dor e possibilitam uma boa evolução para a que gestante faça o parto natural, ou “normal”, como é conhecido.
“Usamos tudo o que temos a nosso favor para criar um ambiente acolhedor e adequado para que o nascimento ocorra e que seja da melhor forma possível. Todo o momento tem que ser voltado para o bem-estar da gestante e do bebê”, reforça.
Em alguns locais, os partos naturais são realizados em banheira, ou em uma pequena piscina aquecida, e na posição escolhida por cada gestante, podendo ser de cócoras, em cama normal ou na mesa ginecológica, por exemplo.
Na maternidade de Tatuí, ainda não existem banheiras instaladas, mas as gestantes já contam com massagens, exercícios nas bolas e banhos quentes para facilitar o trabalho de parto.
“Aos poucos, estamos nos estruturando para dar todo o suporte para as grávidas. Estamos longe do ideal e ainda não temos espaço suficiente para dar mais privacidade para as gestantes. Mas, já começamos e estamos implementando algumas coisas, na medida do possível”, explica Maria Laura.
Em relação ao clampeamento tardio do cordão umbilical, a médica explica que o maior benefício é fazer com que o recém-nascido receba o último sangue da placenta, o qual ajuda na proteção do bebê.
Já a colocação da criança em contato direto com a mãe estimula a parte respiratória e já faz com que ela procure pela amamentação. “Isso ajuda o bebê a respirar mais cedo e melhor, para não precisar ir para o berçário e ficar na incubadora”.
De acordo com a médica, o contato entre recém-nascido e mãe também auxilia na produção do hormônio ocitocina, por conta do estímulo emocional, o que ajuda na liberação do leite com mais rapidez.
Para o ministro da Saúde, Arthur Chioro, é preciso estimular a amamentação logo na primeira hora de vida do recém-nascido.
“Além de fornecer o primeiro aporte calórico para a vida do bebê, essa prática também acelera a descida do leite materno, aumentando a chance de sucesso no aleitamento, e diminui a chance de hemorragia uterina”, destaca.
O coordenador da Saúde da Criança do Ministério da Saúde, Paulo Bonilha, esclarece, ainda, que os benefícios dessas medidas afetam não só o aspecto psicológico, mas reduzem os riscos de anemia e desnutrição.
“Para o bebê que nasceu chorando, vigoroso, sem nenhum tipo de complicação, o papel principal dos profissionais da Saúde é proteger este momento sensível de apresentação da mãe a seu bebê e vice-versa. Isso vai ter repercussões para toda a vida”.
Natural x cesárea
O parto humanizado, segundo a coordenadora da maternidade de Tatuí, vale tanto para as cesarianas quanto para os naturais – embora os normais sejam mais incentivados pelos profissionais da Saúde, de uma forma geral.
Para ela, a discussão entre qual dos dois é melhor e mais saudável nem deveria existir. “O parto natural, como o próprio nome já sugere, é o mais natural. A cesárea é um tratamento para um problema, esse tipo de parto só deveria ser feito em casos que não é possível fazer o natural, como por questões de risco para a mãe e o bebê”.
Maria Laura reforça que uma das premissas do parto humanizado é a paciente escolher que tipo de parto ela quer fazer. “A gente incentiva as mulheres a fazerem o natural, mas algumas não querem nem pensar nessa possibilidade por terem medo, por exemplo”.
Nos casos dos atendimentos feitos pelo SUS, a médica explica que, por questões de saúde pública, há a prática de esperar até o final da gestação para ver se é possível o parto natural.
“O ideal é que a paciente sempre entre em trabalho de parto, até mesmo quando será feita uma cesariana, pois isso diminui os riscos de uma hemorragia ou de o bebê ter problemas respiratórios”.
De acordo com ela, as cesáreas são mais comuns entre as mulheres atendidas pelos convênios médicos. Na maternidade de Tatuí, onde há atendimento público e particular, 55% dos partos são naturais.
“O número ainda é alto de cesáreas, pois atendemos diversos casos de gravidez de alto risco, já que somos o único hospital da cidade que realiza partos. Para a Organização Mundial da Saúde, o número de cesarianas não deve ultrapassar os 30%”.
A médica lembra que a cesárea é uma cirurgia como outra qualquer e que pode ser considerada de médio a grande porte. Por causa disso, há riscos de hemorragia, infecções e abertura dos pontos.
“Por essas questões, é preciso pensar bem e ver o que é melhor. Para mim, as cesáreas só deveriam ser feitas em casos que há algum problema, ou que há riscos para o bebê e a mãe”.
Mesmo assim, Maria Laura reforça que a cirurgia é uma opção segura e que, atualmente, não se veem muitos casos de morte por conta de cesarianas. “Quando há óbito, é porque já havia algum problema na gravidez, como pressão alta e diabetes”, explica.
Em relação à temida dor do parto natural, a médica explica que tudo depende do corpo da mulher e, principalmente, do preparo emocional de cada uma.
“Existe uma diferença muito grande entre aquela que planejou e deseja a gravidez e aquela que foi pega de surpresa em uma hora que não era a ideal. Não dá para mentir e dizer que não dói, mas quem está preparada psicologicamente para ter o bebê acaba sofrendo menos, porque fica menos tensa e sem preocupação”.
Um parto natural leva, em média, de 8 a 12 horas, mas pode ter duração de até dois dias, dependendo de cada situação.
“Nós evitamos internações na fase em que a dilatação é lenta e as contrações, irregulares, justamente para evitar expectativas de que vai nascer logo. Só internamos quando já há franco trabalho de parto”, destaca Maria Laura.
Em abril, a maternidade de Tatuí bateu recorde e registrou 211 nascimentos. De acordo com a médica, esse número não costumava passar de 180 por mês.
Pré-natal
Os exames do pré-natal, de acordo com a coordenadora da maternidade de Tatuí, são fundamentais para garantir a saúde da mãe e do bebê, além de diagnosticar patologias que podem prejudicar a gravidez, como HIV, sífilis, pressão alta, aneurisma e diabetes.
Segundo informações do Ministério da Saúde, um pré-natal de qualidade pode reduzir as taxas de recém-nascidos prematuros. Só em 2012, foram realizadas 18,2 milhões de consultas pré-natais pelo SUS e mais de 1,6 milhão de mulheres fizeram, no mínimo, sete consultas, de acordo com o ministério.
Maria Laura informa que existe uma parcela cada vez maior de mulheres que desenvolvem patologias durante a gravidez, principalmente porque elas estão deixando para engravidar cada vez mais tarde.
“Hoje, a idade média das gestantes é acima dos 30 anos, pois elas fazem faculdade, trabalham e só depois pensam em constituir família”. Segundo a médica, até os 35 anos, a gravidez não é considerada de risco, mas acima disso já é, pois aumentam as chances de o bebê ter síndrome de Down e outras doenças.
Além disso, ela lembra que, nesses casos, é preciso ter acompanhamento maior e ser feito o pré-natal de alto risco. “Depois dos 35, o aparelho reprodutivo da mulher já está mais velho e pode haver, também, dificuldades para engravidar”.
No município, as mulheres que estiveram com suspeita de gravidez podem ir ao posto de saúde mais próximo e pedir um teste. No dia seguinte, de acordo com Maria Laura, o exame já é feito e, caso dê positivo, a mulher já pode dar início ao pré-natal.