Matador de leões





Existe um termo na área de comunicação, “share of mind”, que identifica, grosso modo, o grau de “lembrança” das marcas de produtos e empresas junto à população em geral. Um exemplo “clássico” é evidenciado quando se pergunta qual o primeiro refrigerante que vem à mente, cuja resposta é praticamente unânime: Coca-Cola.

Isto implica na constatação de que, no segmento de refrigerantes, essa bebida de origem norte-americana não é apenas líder absoluta, mas é líder absoluta também porque é sempre a primeira a ser lembrada – ainda que inconscientemente – quando o cidadão pensa em refrigerante. Uma coisa leva à outra, carregada pela propaganda.

A unanimidade, certamente, é a maior virtude que as empresas e seus produtos podem alcançar em seus segmentos, tanto no mercado quanto – melhor ainda – na rotina diária das pessoas.

Não por acaso, a unanimidade é algo quase impossível à grande maioria. Mas, para poucos, não. Um destes privilegiados foi o empresário tatuiano Jonas da Silva Teles, falecido neste domingo passado, 11 de janeiro.

Jonas era unanimidade, a Coca-Cola do empresariado tatuiano, tal sua Casa dos Presentes. Por mais de meio século, a resposta é uma só para a pergunta: qual a mais legítima, conhecida e confiável loja tatuiana? “A Casa dos Presentes”, certamente, responde a imensa maioria dos tatuianos nativos.

Da mesma forma, se a questão fosse acerca de quem seria “o” grande empreendedor da terra dos tatus, Jonas figuraria no topo, condição alcançada pela soma de virtudes que ainda hoje, inacreditavelmente, são ignoradas por boa parte dos comerciantes.

Ainda há, “em pleno século 21”, quem não saiba usar a publicidade – entre outros que sequer entendem a importância dela. Muito além de seu tempo, Jonas não só sabia dessa importância, como era mestre em marketing – sem qualquer estudo específico, apenas pelo “feeling”, pela perspicácia inata.

Sabia observar e, a partir disso, aproveitar as oportunidades, assim construindo uma história de sucesso profissional por si mesmo, sem os modernos “incentivos”. Com certeza, seu maior incentivo deveria ser o sincero prazer de “vender”, e vender “qualidade com preço justo”.

Com isso, deixa outro grande exemplo aos colegas contemporâneos: quer progredir? Atenda bem, com educação e respeito, ofereça produtos confiáveis e torne sua própria empresa digna de confiança.

A consequência desta simples receita – porém, tão rara na prática – é a conquista da fidelidade dos consumidores, dos clientes, dos “fregueses”.

Com isso, Jonas partiu de um pequeno bar para o topo do empreendedorismo local. Mais: vencendo desafio maior ainda, resistiu à vinda dos grandes magazines e seus carnês de grossura enciclopédica.

Sobreviveu porque, como sempre, sabia usar suas armas. Neste caso, “preço”. Bom preço! Há alguns anos, para lembrar uma destas passagens, Jonas telefonou ao editor deste jornal, a pretexto de trocar impressões sobre o que poderia fazer para evidenciar que, justamente, tinha melhor preço que a concorrência.

Ele argumentava não ver vantagem, para o consumidor, na aquisição de produtos à base de crédito extenso, senão extorsivo. A ideia era mostrar a vantagem de se economizar, ao invés de se endividar.

Com esse argumento, embora estivesse pedindo um mote de campanha publicitária, ele mesmo já a havia criado. Sugerimos, então, uma mensagem simples e direta, apontando a vantagem da Casa dos Presentes: “Não faça dívida: faça economia!”.

Jonas aprovou e manteve a chamada em sua publicidade por muito tempo, não apenas aqui em O Progresso, mas em outros veículos também.

E, assim, seguiu à frente de seu negócio, matando não apenas um, mas vários leões por dia, alguns deles enormes, desses que abocanham os consumidores de norte a sul do país, porém, sem qualquer vínculo ou sensibilidade com o “freguês” da comunidade em que mantêm suas lojas.

Jonas resistiu porque tinha essa sensibilidade, tanto como comerciante quanto como figura humana. Era, sim, um abatedor de leões e caçador de consumidores, mas com lealdade e respeito.

Só por isso, por chegar a ter gerado, em simultâneo, mais de 200 empregos junto a seus negócios, já seria digno de admiração. Mas, pelo que se diz – porque todo benemérito de verdade é discreto -, ainda ajudou muita gente e entidades assistenciais.

Num momento em que se cultua o “coitadismo”, em que o bacana é defender a esmola e não o trabalho e a Educação, em que ser empresário está se tornando sinônimo de canalha aos olhos da politicalha oportunista, talvez Jonas tenha partido em momento oportuno, ainda sem sofrer ofensa por ter ganhado dinheiro com muito esforço, ainda que honestamente.

Deixa saudade. No entanto, o que mais deixa como herança é seu exemplo. O de um empreendedor que conseguiu galgar o sucesso e se firmar na lembrança dos tatuianos como o maior empresário da história da cidade – hoje e sempre! Um brinde com Coca-Cola à sua eterna memória, Jonas da Silva Teles!