Políticos que disputaram as eleições para a Câmara dos Deputados e tiveram mais votos em Tatuí consideraram a participação da população em manifestações contra o governo da presidente da República, Dilma Rousseff, como um recado das ruas. Dois dos cinco candidatos procurados por O Progresso comentaram sobre os protestos ocorridos neste mês.
No domingo retrasado, 13, cidadãos integraram iniciativas em diversos Estados. Tatuí teve representantes em São Paulo, em movimento na avenida Paulista.
Samuel Moreira, do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), esteve entre os participantes e afirmou que as manifestações pelo Brasil tomaram grande proporção. “Foi o maior evento da história do país”, iniciou.
O político, que se elegeu com 227.210 votos, sendo 16.222 somente em Tatuí, considerou os protestos uma demonstração de que “o Brasil não está mais dividido”.
Moreira destacou que uma ampla maioria está “verdadeiramente querendo a saída da presidente da República”. Conforme o parlamentar, Dilma não tem mais condições de governar. “É preciso entender o recado das ruas”.
Para ele, o reflexo da participação popular, em curto prazo, é a instalação do processo de impeachment; em médio, a votação; e, em longo, a decisão.
Moreira afirmou ser preciso “destravar o país” para a criação de um novo ambiente de geração de emprego, desenvolvimento econômico, oportunidade e investimentos.
“Nós precisamos da economia aquecida, de juros baixos, de credibilidade, isso é bom para o país e é bom para Tatuí. Enquanto o país vive esse momento de desemprego, Tatuí vive esse momento também”, argumentou o deputado.
Declaradamente favorável à abertura do processo de impeachment contra Dilma, Moreira argumentou que a iniciativa é necessária para que o país saia do impasse e possa “caminhar”. O deputado afirmou que a situação atual é “lamentável”.
Contrariando políticos ligados à legenda da presidente, o PT (Partido dos Trabalhadores), Moreira afirmou que o motivo para o impeachment é legal. Disse, ainda, que o processo está previsto no artigo 85 da Constituição Federal.
“A presidente Dilma cometeu crimes de responsabilidade ao pegar dinheiro de bancos públicos sem autorização legislativa, fora outros equívocos que a fizeram infringir a lei. Então, o processo precisa caminhar”, defendeu o deputado.
Moreira explicou que Dilma terá o direito de se defender e o parlamento vai decidir. A permanência da presidente, ou não, dependerá de apoio, segundo ele. “Se ela tiver votos, ela fica; se não tiver, terá que sair, e o Brasil começará um novo momento político”, apontou.
Segundo o deputado, a instabilidade política afeta diretamente a população do município, uma vez que cria um ambiente político ruim. Como consequência, há um “travamento” da economia, falta de investimento e empregos.
“Tatuí também sofre. O dinheiro circula menos quando a economia está desaquecida. E o dinheiro circulando menos, prejudica todos os municípios, inclusive, Tatuí”, argumentou.
De modo a minimizar esse efeito, o parlamentar afirmou que tem trabalhado em prol dos municípios. Para Tatuí, Moreira citou intervenções para obras como a duplicação de trecho urbano da rodovia Mário Batista Mori (SP-141).
Ele também destacou participação na vinda do Poupatempo, da Fatec (Faculdade de Tecnologia) e da maternidade da Santa Casa.
Para o deputado, os protestos deflagrados em todo o país também evidenciam a necessidade de criação de mecanismos para combate à corrupção. Moreira afirmou que tanto isso como a saída de Dilma do governo federal são fundamentais. “As duas coisas muito estão entrelaçadas”.
O parlamentar citou escândalos de corrupção envolvendo pessoas ligadas ao partido do governo. Moreira mencionou que eles tiveram repercussão mundial, sendo classificados como “um dos maiores do mundo”. O deputado referiu-se ao esquema de corrupção na Petrobras e ao episódio do mensalão.
“Percebe-se que esse é o método do governo de montar um esquema de manutenção de poder, usando dinheiro da corrupção para promover partido e eleger parlamentares, governadores e até o presidente da República. Então, tudo isso se revelou e está ligado à forma do PT de governar”, declarou.
Na visão do deputado, a saída da presidente representaria o “fim de um esquema fraudulento”. O resultado seria uma “melhora, com uma diminuição dos escândalos”.
“É importante que este governo se encerre, que ela saia, porque qualquer cidade – e Tatuí, também – quer um ambiente livre de corrupção, um ambiente limpo nesses aspectos. Mas, quer viver, também, em um ambiente onde o governo funcione, gere emprego, gere oportunidade, aqueça a economia, um ambiente próspero, que os serviços sejam eficientes”, concluiu.
Concorrente não eleito para a Câmara dos Deputados, Rogério Milagre, do PTC (Partido Trabalhista Cristão), recebeu 1.714 votos em Tatuí e 1.788 no total.
A O Progresso, ele classificou os movimentos contra o governo federal, o PT e o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, como “válidos”.
Milagre sustentou que a destituição da presidente é “a única maneira de o povo brasileiro tirar a corrupção do poder”. O tatuiano disse que o governo do PT “é corrupto e não pensa no povo”. Também declarou simpatia pelos movimentos já realizados pela população, “desde que pacíficos”.
Apesar de não ter participado de nenhum protesto, Milagre disse que os movimentos pelo país – apesar de opiniões divergentes – contribuem para o amadurecimento dos eleitores. “O povo vai votar mais consciente nas próximas eleições. Penso que muitas pessoas vão deixar de votar com o coração e optar pela razão. Aliás, esse é um dos grandes problemas do país”, afirmou.
Milagre afirmou que “os eleitores deixaram de se iludir com promessas e que estão cansados de corrupção”. Também citou que o país vive um momento econômico complicado por causa da “forma de pensar” dos governantes.
Segundo ele, os reflexos disso são sentidos em Tatuí. Milagre afirmou que o município sente a instabilidade do país, mas que é papel de todos os cidadãos criarem soluções. “Eu mesmo estou passando muitas orientações para o povo. Infelizmente, ainda há pessoas desinformadas”, comentou.
Para Milagre, a solução para o país depende de duas ações: a troca de comando da Presidência da República e a criação de mecanismos de combate à corrupção. “É preciso achar um ponto em comum, porque quem entrar, a oposição vai bater de frente, e o país continuará travado”, analisou.
Convidados a se manifestar, Marcos Rogério de Campos Camargo (Marcos Quadra), que concorreu pelo PRB (Partido Republicano Brasileiro), e os deputados eleitos Celso Russomanno, do mesmo partido, e Francisco Everardo Oliveira Silva (Tiririca), do PR (Partido da República), não responderam.
Segundo mais votado em Tatuí, Quadra obteve 6.349 votos. Russomanno contabilizou 2.975 votos no município e Tiririca foi a opção de 2.096 eleitores locais.
