Mais sobre a febre do Mayaro

De onde surgiu o nome ‘Mayaro’?

Nas ilhas de Trinidad e Tobago, existe uma cidade chamada Mayaro, onde o vírus foi isolado pela primeira vez, na década de 50. Foi daí que surgiu o nome da doença.

O que é a febre do Mayaro

A febre do Mayaro é causada por um arbovírus da família do vírus que transmite a febre chikungunya, por isso, a semelhança dos sintomas nas duas doenças. O vírus Mayaro (MAYV) é um arbovírus (nome que recebem os vírus transmitidos por artrópodes, ou seja, por mosquitos, aranhas ou carrapatos, por exemplo).

Ele pertence ao gênero Alphavirus da família dos Togavirus (Togaviridae), a mesma que transmite a febre chikungunya. O Mayaro é um vírus originário das Américas. Foi isolado, pela primeira vez, em 1954, em trabalhadores rurais que viviam em Trinidad e Tobago, ilhas na região do Caribe.

No Brasil, a identificação ocorreu no ano seguinte, durante o surto de uma doença febril aguda que acometeu uma comunidade rural próxima a Belém do Pará. Atualmente, o vírus Mayaro é endêmico na Amazônia, especialmente nos estados das regiões Norte (Pará e Tocantins) e Centro-Oeste.

Goiás concentra o maior número de casos confirmados da doença em pessoas que foram infectadas na zona rural ou da mata. Embora os estudos sejam escassos, parece que a presença do vírus estava restrita às áreas cobertas pelas florestas tropicais úmidas da América do Sul.

No entanto, ele foi isolado também em primatas não humanos (PNH) e em aves migratórias nos Estados Unidos. Posteriormente, pesquisadores da Universidade da Flórida (EUA) identificaram o vírus Mayaro no Haiti, em um garoto com febre e dores abdominais, que apresentou resultados negativos para testes específicos para chikungunya e zika.

Esse achado sugere que o Mayaro pode estar se espalhando pelo continente americano. Pesquisadores do Instituto Osvaldo Cruz registraram evidências de sua presença no Pantanal do Mato Grosso do Sul, sinal de que ele pode ter passado por um processo de adaptação e vir a alcançar outras regiões do país.

Em maio de 2019, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) detectou que alguns casos de chikungunya no Rio, na verdade, tratavam-se de febre de Mayaro diagnosticado erroneamente. Ainda assim, o vírus é considerado silvestre, ou seja, não circula normalmente em ambiente urbano.

Transmissão

A febre do Mayaro é uma doença silvestre transmitida por mosquitos, especialmente pelas picadas do Haemagogus janthinomys, que também transmite a febre amarela. De hábitos diurnos (o período de maior atividade é entre 9h e 16h), ele habita a copa das árvores e a vegetação de áreas úmidas próximas aos rios.

Possivelmente, os macacos sejam o principal reservatório do vírus Mayaro, que já foi encontrado em cavalos, répteis, roedores e aves, por exemplo. Acredita-se que os primatas não humanos funcionam como hospedeiros amplificadores do vírus.

Quando o mosquito pica um animal infectado, adquire o vírus que completa seu ciclo de evolução no organismo do inseto, e é transmitido na saliva do mosquito quando ataca animais ou seres humanos sadios.

Ensaios em laboratório já demonstraram que os mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus podem ser vetores do Mayaro. Além disso, as pesquisas indicam que outros gêneros de mosquitos (culex – pernilongo comum) podem espalhar esse vírus entre os habitantes de cidades, atualmente fora da área de risco. Até o momento, não foram registrados casos de transmissão urbana do vírus.

Sintomas

Os sintomas aparecem poucos dias depois de a pessoa ter sido infectada. As queixas são: febre de início abrupto (mas de curta duração, de dois ou três dias), calafrios, dor de cabeça (cefaleia), manchas vermelhas na pele (exantema), dores musculares (mialgia), linfonodos inguinais, fotofobia, náuseas e tontura.

As dores nas articulações (artralgia), associadas ou não a inchaço (edema), podem persistir por meses e tornarem-se incapacitantes. Encefalite (inflamação do cérebro) é uma complicação que pode ocorrer nos casos graves da doença. A febre do Mayaro, no entanto, é uma doença autolimitada.

Diagnóstico

Embora o Mayaro seja um vírus conhecido há bastante tempo, nem sempre a doença é diagnosticada e a notificação às entidades públicas de saúde deixa de ser realizada.

Prevenção

Não existem vacinas contra a infecção causada por um arbovírus e transmitida pelo mosquito Haemagogus janthinomys. A prevenção restringe-se a dois cuidados básicos: evitar frequentar as áreas de maior risco nos períodos em que os vetores silvestres estão mais ativos, ou seja, nos meses da primavera e verão, que são os mais quentes e úmidos do ano; diminuir ao máximo a exposição do corpo (uso de repelentes e de roupas compridas, por exemplo) às picadas do mosquito. Os repelentes estão indicados.

Tratamento

O tratamento da febre do Mayaro é sintomático. O paciente deve permanecer em repouso, manter-se bem hidratado e ingerir alimentos saudáveis.

Recomendações

Estudos recentes sugerem a possibilidade de o vírus Mayaro invadir as regiões urbanas. Para tanto, pesam alguns fatores, tais como a transmissão do vírus nas áreas de floresta degradada da Amazônia em virtude do desmatamento; o aparecimento de novos vetores nas áreas urbanas de que são exemplos os pernilongos e os mosquitos Aedes aegypti e albopictus, assim como o surgimento de hospedeiros amplificadores nas grandes cidades.

Num país das dimensões do Brasil, com chuvas e calor praticamente o ano inteiro, é muito difícil, quase impossível, erradicar completamente os mosquitos vetores. Portanto, é fundamental manter vigilância constante contra a proliferação dos mosquitos, o que não é fácil.

O Aedes e o culex podem se transformar em vetores do vírus Mayaro. Para evitar que isso aconteça, é preciso redobrar os cuidados, e cada um de nós deve fazer a sua parte.

Fonte: site do Dr. Dráuzio Varella

* Médico pediatra com título de especialista pela AMB e SBP