Ser brusco, quando a sensibilidade era necessária; tornar grave uma conversa que poderia ser leve, usar uma “mão pesada” quando a situação exigia um leve toque…
Estamos falando sobre empatia, que é a capacidade de compreender o sentimento ou a reação da outra pessoa, imaginando-se nas mesmas circunstâncias. A empatia sempre foi considerada um componente essencial na Saúde. Pesquisas recentes têm mostrado que seus benefícios vão muito além da sala de exames. Maior empatia por parte do médico tem sido associada com menos erros médicos, melhores resultados para os pacientes e pacientes mais satisfeitos. Ela também resulta em menos reclamações de negligência e em médicos mais felizes.
Mas a pergunta essencial é se as pessoas, e, em especial os médicos, podem aprender a serem mais empáticos? Um estudo revela que sim.
No mesmo sentido, uma iniciativa do departamento de psiquiatria do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, também reforça essa ideia. O hospital criou uma série de “módulos de formação” em empatia para os médicos. As ferramentas são projetadas para ensinar métodos de reconhecimento de sinais não verbais e expressões faciais em pacientes, bem como estratégias para lidar com as próprias respostas fisiológicas resultantes de um encontro altamente emocional.
Em uma aula, por exemplo, os médicos assistem a um vídeo de uma interação tensa numa sala de exames, enquanto uma barra lateral gráfica registra a condutância elétrica da pele do paciente e do médico, revelando os pontos incompatíveis e o pico de frustração de cada pessoa. Os médicos também são ensinados a reconhecer, por meio de uma série de imagens, expressões faciais do paciente que expressam raiva, desprezo, felicidade, medo, surpresa, desgosto ou tristeza.
Para testar a eficácia do curso, os organizadores solicitaram aos pacientes dos colegas inscritos no treinamento que avaliassem a empatia de seus médicos, com base na capacidade do profissional em deixá-los relaxados, em suas demonstrações de cuidado e compaixão e na compreensão plena das preocupações do paciente. Metade dos médicos, em seguida, participou de três sessões de treinamento de empatia de uma hora.
Dois meses depois, os pesquisadores pediram a um segundo grupo de pacientes para avaliarem todos os médicos novamente. Eles descobriram que os médicos que tinham participado do curso de empatia mostraram melhorias significativas em seu comportamento compreensivo. Em comparação com os seus pares, os médicos que passaram pelo curso de empatia interromperam menos seus pacientes, mantiveram melhor contato visual e foram capazes de manter a serenidade, mesmo quando o paciente demonstrava raiva, frustração ou chateação.
As respostas a esta iniciativa até agora têm sido entusiásticas porque este é o primeiro estudo a contar com avaliações de empatia feitas pelos pacientes ao invés da autoavaliação do médico.
As pessoas tendem a acreditar que você nasce ou não com empatia e a achar que todos os médicos são empáticos. No entanto, isso não é verdade. Empatia pode ser ensinada. Todos podem desenvolvê-la plenamente.
Pense nisso na próxima vez que estiver na frente de um paciente, tome um cuidado extra para se sentar de frente para seus pacientes e não para a tela do computador, para observar a mudança de expressões em seus rostos e tomar nota dos gestos sutis e modulações de voz. O exercício pode ser difícil, em meio à correria da agenda de atendimentos, onde o médico é compelido a fazer o diagnóstico e o plano de tratamento em cinco minutos, mas é recompensador e pode se tornar um forte diferencial competitivo nos dias de hoje.
* Jornalista, consultora especializada em “Health Care”. Está à frente da MW-Consultoria de Comunicação & Marketing em Saúde.