Maio deixou de ser o mês preferido pelas noivas, mas ainda faz sucesso





Jheniffer Sodré

Maria José Pedroso resolveu casar em maio porque gosta da tradição do ‘mês das noivas’

 

Tradicionalmente, maio é conhecido como o “mês das noivas”, mas esta época do ano já não tem sido tão procurada pelos que decidem se casar. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dezembro é o mês preferido pelas noivas.

Estudo do Sistema Estadual de Análises de Dados (Seade), divulgado no final do ano passado, mostra que setembro, outubro, novembro e dezembro são os meses mais escolhidos pelos casais.

Esses quatro últimos meses do ano concentraram 41,8% do total de casamentos no Estado de São Paulo. Dezembro é o mês que registra maior frequência de casamentos, enquanto maio ocupa a quinta colocação, de acordo com dados do Seade.

Segundo dados do Cartório de Registro Civil de Tatuí, maio costuma ter uma média de 60 casamentos. Já o mês de dezembro ultrapassa a marca dos cem.

E por que maio ficou conhecido como o “mês das noivas”? Existem muitas versões que tentam explicar o motivo. Uma delas diz que a tradição foi importada dos países do hemisfério norte, como os europeus.

Isso porque maio é o ápice da primavera nesses lugares, fazendo com que seja um mês bastante florido e “romântico”. Há, também, uma explicação religiosa, que lembra que, nesta época do ano, se comemora os dias das Mães e de Maria.

Para os especialistas em organização de casamentos, maio é um bom período para se casar no Brasil, pois as temperaturas são mais amenas e não há grandes comemorações como o Natal, para ofuscar o “grande dia”.

A empresária Ana Paula de Oliveira Bueno está envolvida com o universo das noivas há 19 anos e confirma a preferência dos casais pelos meses de novembro e dezembro. “Na loja em que sou sócia, já faz uns quatro anos que maio deixou de ser o preferido”.

Na opinião dela, o final do ano é o mais escolhido para a realização dos casamentos, pois há o 13o salário e as férias. “Em dezembro, nós temos, normalmente, dez casamentos por sábado, o que dá uma média de 40. Já em maio, esse número varia de cinco a sete, somando cerca de 20 casamentos”, informa Ana Paula.

Ela conta que o perfil das noivas está bem dividido entre jovens e mulheres mais velhas, e que o vestido branco do modelo “tomara que caia” é o mais pedido, independentemente da idade e da religião.

“Não tem jeito: o ‘tomara que caia’ é o que predomina. Toda noiva quer, mesmo as que são evangélicas usam esse modelo de vestido e colocam um bolero. E a cor branca também é a preferida. Já tivemos noivas de vermelho e com a cor ‘champanhe’, mas elas são a minoria”, relata.

Ana Paula revela que, entre as mulheres atendidas na loja dela, o famoso “vestidão” de noiva deixou de ser o mais procurado. Atualmente, segundo ela, as noivas estão escolhendo vestidos mais justos, nos modelos “sereia” e “evasê”. Modelos rendados também são muito procurados, e a cauda longa deu espaço para o véu longo.

“Hoje, as mulheres estão preferindo o véu comprido, ao invés da cauda do vestido, pois o véu longo é o que está na moda. Mas, mesmo assim, ainda têm aquelas que gostam da versão mais tradicional”.

Ela conta que, geralmente, as futuras noivas ficam uma hora no quarto de vestidos para escolher a roupa do “grande dia”. Uma estratégia usada por Ana Paula é traçar um breve perfil da mulher, para saber ao certo que tipo de vestido ela procura.

Na loja em que Ana Paula é sócia, há vestidos importados e aqueles que são de confecção própria, utilizados nos requisitados “primeiro aluguel”.

“As mulheres podem vir até aqui e pedir para fazermos o vestido como ela quiser. A gente procura na internet, vê cada detalhe que ela deseja e monta da forma como a noiva pedir”.

Os buquês são peças-chave na composição das noivas. Segundo informações da empresária, as flores mais utilizadas são: rosas, lírios e gérberas, também conhecidas como margarida africana. As tulipas são menos comuns, por serem muito frágeis.

“Hoje em dia, a moda é combinar o buquê com o calçado. Se as flores são vermelhas, o sapato é vermelho. Se o buquê é amarelo, o sapato também vai ser”, comenta Ana Paula.

Outra coisa que tem sido bastante comum entre as noivas atendidas pela empresária são os casamentos em chácaras e salões de festa. Isso porque, segundo ela, os casais não são mais como “antigamente”. Muitos já têm filhos, estão no segundo relacionamento e não querem casar na igreja.

“Existe, também, uma diversidade de religião entre as famílias do noivo e da noiva. Por isso, os casamentos fora da igreja têm sido muito procurados. Alguns escolhem levar o civil até o local da festa, ou pedem para que um pastor neutro faça o religioso com efeito civil”, comenta Ana Paula.

Os empresários Gobino Ojeda e Katarina Paulino estão envolvidos com o universo das noivas há mais de 30 anos, dos quais 24 à frente de três lojas de aluguel de vestidos na cidade do Rio de Janeiro e seis em uma loja em Tatuí.

O estabelecimento do casal é especializado em modelos maiores, chamados de “plus size”, com tamanhos como o número 70, por exemplo.

Ojeda conta que 60% das noivas que vão até a loja dele são mulheres mais velhas, que já estão no segundo casamento. “E elas ainda querem o ‘vestidão bolo de noiva”, branco e com cauda longa. Eu diria que 90% dos pedidos são de vestidos tradicionais”.

“Não adianta, as noivas querem chamar a atenção quando entram na igreja. Então, o vestido com cauda longa ainda é o mais pedido. Em alguns casos, tem cauda de até três metros”, comenta Katarina.

Embora a cor branca ainda seja a mais escolhida pelas clientes do casal, a cor pérola também é bastante solicitada. “Acho que os vestidos pérolas têm uma boa saída, pois algumas mulheres que casam pela segunda vez não querem usar branco de novo”, supõe Ojeda.

Assim como Ana Paula, Katarina afirma que não existe mais a tradição de se casar no mês de maio. “É claro que algumas noivas ainda têm preferência por essa época do ano, mas os meses de julho, outubro e dezembro são os mais movimentados na nossa loja”.

Para Ojeda, maio deixou de ser o mês preferido para os casamentos por ser uma data ruim financeiramente. “No início do ano, se gasta muito, e algumas pessoas acabam ficando apertadas. Afinal de contas, um casamento não é nada barato”.

Katarina acha difícil traçar perfil das noivas que ela atende e dizer o que é preferência entre elas. “Os pedidos são bem diversos, pois cada mulher tem seu gosto. Já tive até noiva casando com vestido curto, mas percebo que a tradição ainda prevalece e o branco não sai de moda para casamentos”, finaliza.

Tradição

O casal Maria José Pedroso, 51, e José Gentil de Campos, 78, optou por manter a tradição e escolheu o mês de maio para o “dia do sim”. O casamento dos dois será no dia 30, sexta-feira, na forma de jantar para familiares e amigos.

“Escolhemos casar neste mês, pois gostamos muito de maio e, principalmente, porque é considerado o mês das noivas. Mesmo que a tradição não esteja mais tão forte, nós decidimos escolher o tradicional”, explica Maria.

Ela conta que a data é muito especial para os dois, já que ambos estão viúvos há bastante tempo. “Ele foi casado durante 54 anos e eu já estou viúva há mais de 20. Vamos para o segundo casamento, e estamos felizes com a decisão”.

Maria e Gentil estão juntos há cinco meses e, segundo a noiva, acabaram se conhecendo por acaso. “Eu sou católica e ele é evangélico, mas Deus prepara tudo para a gente. Uma amiga me chamou para ir à igreja e eu comecei a participar dos cultos, foi quando conheci Gentil”.

Ela reforça que nenhum dos dois estava procurando pelo segundo casamento. “Aos poucos, fomos nos conhecendo e vimos que temos muitas coisas em comum. Então, resolvemos partir para um relacionamento mais sério”.

Maria não esconde que está ansiosa para o “grande dia”. “Não importa quantas vezes você case, todas vão ser especiais e trarão muito emoção. Eu ‘estou a mil’, supernervosa, mas é uma ansiedade e um nervosismo bons. Sei que vai dar tudo certo, pois é um desejo nosso e de Deus”.

Mesmo sendo o segundo casamento, ela conta que fez questão de escolher um vestido branco. “Não vai ser aquele ‘vestidão’ armado com cauda, mas é branco e tem todos os detalhes que uma noiva merece”, descontrai.

Faltando pouco mais de 15 dias para o “dia do sim”, o casal está na correria para organizar todos os preparativos. Maria relata que o noivo está ajudando em tudo e que os dois dividem as tarefas desde o momento em que decidiram se casar.

Em relação à diferença religiosa, ela afirma que não será um problema e que já decidiu deixar a religião católica para ficar ao lado do futuro marido, que é pastor evangélico.

“Se vamos ser companheiros e viver juntos, não podemos ficar divididos na religião. Ele quer uma companheira e eu quero um companheiro, e só na mesma igreja é que isso é possível. Por isso, agora frequento a igreja evangélica”.

Os filhos do casal também aprovaram o casamento e, segundo Maria, todos estão felizes com a união da família. “Não existe idade para casar, e tudo acontece no tempo certo. Eu não esperava mais por um casamento, mas a sensação é maravilhosa”.

Como “ditam as regras” tradicionais, Maria e Gentil só vão morar junto depois que a união estiver oficializada. “Queremos fazer tudo certinho”, ela reforça.

A viagem de lua de mel, de acordo com a noiva, vai ficar para o final do ano. “Estamos procurando um lugar bem tranquilo, que tenha a cara do casal”, finaliza Maria.