Lixo poderá gerar energia elétrica na RMS

A prefeita Maria José Vieira de Camargo abriu a décima reunião do COnselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Sorocaba (foto: Brunno Vogah)

Resíduos sólidos da Região Metropolitana de Sorocaba poderão ser usados na geração de energia elétrica, através da captação de biometano em aterros sanitários e reaproveitados como combustível em altos fornos que preparam cimento.

A proposta foi apresentada pelo subsecretário estadual de energias renováveis, Antônio Celso de Abreu Junior, na reunião do Conselho de Desenvolvimento da RMS (Região Metropolitana de Sorocaba), na segunda-feira, 31 de julho, no teatro do Conservatório de Tatuí.

De acordo com Abreu, as duas possibilidades podem ser trabalhadas em conjunto e fazem parte do projeto de diversificação energética de São Paulo. Atualmente, 51% da matriz energética do Estado mais desenvolvido do país são fornecidos por fontes renováveis, como etanol, biometano e usinas hidrelétricas.

“Nós produzimos lixo desde que nascemos. Se os municípios se unirem – e isso pode se dar na modalidade de consórcios –, teremos uma economia de escala muito grande e transformaremos o lixo domiciliar em um novo modelo de negócios. É uma forma barata de resolver o problema dos resíduos sólidos urbanos”, declarou.

Atualmente, Tatuí produz 101 toneladas de resíduos sólidos por dia. Todo o material é enviado ao aterro sanitário da empresa Proposta Engenharia, no município de Cesário Lange. No total, o aterro recebe 261,94 toneladas/dia, de um volume de 1,5 mil toneladas de resíduos produzidos na RMS.

O local trata resíduos de Jumirim, Laranjal Paulista, Pereiras, Quadra e Itapetininga, além de Cesário Lange. O aterro recebeu nota dez no IQR (Índice de Qualidade de Resíduos), da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).

Além da formação de consórcio, o subsecretário informou que os municípios poderão fazer acordos em conjunto com uma empresa para a destinação dos resíduos para dar “economia de escala” no tratamento.

No modelo proposto pelo governo estadual, são necessárias 500 toneladas diárias para que a exploração comercial do lixo doméstico seja viável.

“O custo fica reduzido. A exploração pode dar-se por meio de consórcios ou por PPP (parceria público-privada). Com isso, o prefeito deixa a questão dos resíduos sólidos de lado e pode concentrar-se em outras preocupações, como saúde, transporte”, afirmou.

Um exemplo apontado por Abreu é a usina termelétrica de Caieiras. Os resíduos sólidos do município de São Paulo e daquela região metropolitana são enviados ao local, onde são depositados em aterros.

Um sistema de captação envia o gás metano produzido pela decomposição do lixo à usina. Com a queima do biogás, é gerada energia elétrica. A potência instalada da usina é de 29,5 MW (megawatts), abastecendo até 130 mil residências.

“Aqui na nossa região, podemos fortalecer a produção de CDR (combustível derivado de resíduo), que pode ser utilizado na queima em altos fornos da indústria, principalmente as consideradas eletrointensivas, como as fábricas de cimento e indústria cerâmica”, explicou.

O CDR é produzido a partir do lixo domiciliar. Os resíduos sólidos passam por preparação, com a separação de metais ferrosos e não ferrosos, recicláveis e matéria orgânica. O restante é triturado e vendido às indústrias como combustível para altos fornos.

Segundo o subsecretário, a queima do CDR faz com que o volume de resíduos sólidos depositados nos aterros seja menor, aumentando a vida útil dos espaços. Além disso, as indústrias economizam com a compra de combustível para combustão em fornos.

“Para ter-se uma ideia, várias indústrias estão elaborando planos para produção do próprio CDR. Hoje, a prática é conhecida no mundo como recuperação energética e altamente atrativa em termos econômicos e ambientais e pode, facilmente, atrair investimentos aos municípios”, declarou.

O Estado de São Paulo gera 70 MW de eletricidade a partir do biogás captados em aterros sanitários. Se o potencial nacional de geração de energia a partir do lixo fosse totalmente aproveitado, seria suficiente para abastecer 30% da demanda de energia elétrica atual do país.

“A nossa obrigação é ampliar o fornecimento de energia em locais próximos aos centros de carga. Grande parte da energia produzida no país é consumida em São Paulo. Como temos o potencial hidrelétrico pequeno no Estado, temos que buscar alternativas para a segurança energética”, declarou.

O subsecretário apontou que a geração regional de energia a partir do lixo garantirá economia aos consumidores, uma vez que parte dos custos da eletricidade vem da distribuição. Com centros de geração próximos aos mercados consumidores, o custo deverá ser menor.

“Isso está virando um grande negócio no mundo. Recebemos sempre prefeitos para discutir projetos. Todavia, o planejamento esbarra na questão da escala. Esse tipo de negócio fica economicamente inviável em usinas pequenas, pela tecnologia empregada”, salientou.

O plano energético do governo do Estado inclui a interligação de usinas de processamento de cana-de-açúcar à rede de gasodutos que passam por São Paulo.

Um levantamento da Subsecretaria de Energias Renováveis aponta que 66 usinas do Estado estão a menos de 20 quilômetros de distância de gasodutos.

Elas poderiam gerar biometano através da vinhaça, resíduo do processamento da cana, atualmente usado como fertilizante nos canaviais, e “injetá-lo” na rede de distribuição de gás natural.

“Trabalhamos em um projeto de caminhões canavieiros “flex”. Eles utilizam gás natural e diesel. A tecnologia já existe, e, se usássemos em larga escala no nosso Estado, economizaríamos um bilhão de litros de diesel por ano”, afirmou.

Para tornar o projeto de produção de CDR e biogás a partir do lixo viável, os prefeitos da RMS solicitaram estudos sobre a composição do lixo à secretaria estadual. O poder de queima do CDR está atrelado à quantidade de matéria orgânica presente nos resíduos urbanos.

“Muitos estudos falam do lixo europeu, americano ou asiático, e a composição dos nossos resíduos é diferente. Para escolhermos a melhor tecnologia, precisamos entender melhor a composição do nosso material”, relatou.

A proposta apresentada pelo subsecretário agradou os representantes das cidades da RMS. A prefeita Maria José Vieira de Camargo elogiou a ideia e disse esperar que a reunião tenha efeitos práticos na região.

“Hoje, contratamos uma empresa para fazer a disposição final dos nossos resíduos sólidos. Creio que a proposta é vantajosa para a gente, tanto em termos ambientais quanto econômicos”, apontou.

O prefeito de Itu e presidente do Conselho de Desenvolvimento da RMS, Guilherme Gazolla, disse que os trabalhos em conjunto da região começam a “tomar forma”.

Ele afirmou que a região pode trabalhar a pauta dos resíduos sólidos em conjunto com o Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio Sorocaba e Médio Tietê.

“O nosso comitê abrange 34 municípios e a região metropolitana tem 27 cidades. Nós buscamos trabalhar em conjunto, e isso mostra que estamos em franca atividade na elaboração do PDUI (Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado) ”, relatou.

Para o deputado federal Vitor Lippi (PSDB), os municípios precisam buscar uma saída em conjunto para a questão dos resíduos sólidos urbanos. O tratamento beneficiará os municípios menores, segundo o parlamentar.

“Imagine cada município ter o seu aterro sanitário. É um péssimo negócio para todo mundo, pois a manutenção exige equipamentos, caminhões, funcionários e dinheiro, mesmo depois de encerrados. É um custo injustificado que pode ficar menor se todos decidirem dar um destino mais inteligente para o lixo”, opinou.

A próxima reunião do conselho será em 18 de setembro, no município de Itapetininga. A pauta do encontro será a saúde nas cidades da região metropolitana.