Cristiano Mota
Roupas disponibilizadas para venda em bazar são principal fonte de renda da Litac
Mais de 120 pessoas que dependem da Litac (Liga Tatuiana de Assistência a Cancerosos) passaram a receber atendimentos em novo endereço. Uma das entidades mais respeitadas do município inaugurou, na manhã de quinta-feira, 26, sede própria. Ela está localizada na rua Santa Cruz, 526, no centro.
A entrega do prédio – um barracão – representa uma nova etapa para a instituição. O espaço concentrará não somente os atendimentos, mas o bazar permanente. Na opinião da direção e dos voluntários, ele garante mais profissionalismo ao trabalho da entidade que completa 28 anos de existência – ao todo, são 36, contando com o trabalho da antiga Rede Feminina.
Na quinta, a Litac fez a apresentação do prédio para os sócios e voluntários. A solenidade ficou a cargo da presidente Gilda Bertanha, com presença do padre Elcio Roberto de Goes, responsável pela Paróquia-Santuário Nossa Senhora da Conceição. O pároco abençoou o novo imóvel, aberto ao público na sexta, 27.
O barracão é fruto de um trabalho iniciado pela Litac há mais de uma década. Conforme a presidente, a sede própria surgiu a partir de uma vitória na Justiça. A entidade pleiteou um imóvel que pertencia à extinta Sociedade Italiana.
“Nós ganhamos a parte judicial e, depois, negociamos. Fizemos uma permuta do terreno onde existiu o clube e conseguimos esse barracão”, contou Gilda.
O terreno cedido para a instituição fica na rua 15 de Novembro. A partir da posse, a Litac decidiu demolir a construção. “O local não tinha condições de uso. Daí, nós montamos um estacionamento que ficou conosco por cinco anos”, disse.
É exatamente o estacionamento que a entidade negociou para trocar pela sede própria. Até então, a Litac tinha como endereço a residência da presidente.
Durante os cinco anos, a entidade explorou a atividade do estacionamento. Contudo, havia a necessidade de readequação dos trabalhos, em especial, do bazar. Gilda comentou que a ideia era realocar em um imóvel mais apropriado a iniciativa, de modo com que os voluntários também fossem beneficiados.
No novo endereço, a entidade alocou todos os serviços. A sede conta com espaço destinado ao registro de pessoas portadoras de câncer, para armazenamento e entrega de alimentos (cestas básicas) e de leite e para o bazar permanente. Ela tem, também, uma área destinada ao escritório e banheiros.
“Tudo que as pessoas precisarem da Litac, encontrarão aqui. Depois de anos, os serviço estão saindo da minha casa. Antes, era lá que eles ficavam”, disse Gilda.
A presidente destacou que além de permitir a centralização, o novo prédio vai dar melhores condições de trabalhos para os voluntários. “O espaço é mais amplo, mais claro, tem mais ventilação é bem maior e tem mais acomodação”, adicionou.
Com a inauguração, a Litac transferiu o bazar permanente que funcionava na rua 15 de Novembro, 843. Também conseguiu organizar melhor a venda de roupas. “Ainda não está tudo aqui. Temos muita coisa para colocar”, contou Gilda.
Quem for até o novo espaço poderá encontrar vários produtos. Além de roupas de frio e de calor, para crianças, jovens e adultos, a instituição comercializa outros produtos, como brinquedos e itens utilizados em decoração.
“Nós vendemos tudo a preço bem baixinho e tudo se reverte em 100% de lucro. Se o preço é R$ 1, nós ganhamos R$ 1, porque as peças são fruto de doações”, explicou a presidente.
O bazar funciona de segunda a sexta-feira, das 13h às 17h30. Nesse mesmo período e horários, a Litac atenderá a pacientes cadastrados e prestará os demais serviços. “Tudo acontece nesse horário, porque a nossa equipe é de voluntários. Esse é o horário que dá para que nós possamos contar com eles”, disse.
Ao todo, a entidade conta com colaboração de 62 pessoas, sendo 15 delas no bazar. Os voluntários se alternam em “rodízios” durante a semana. “E eles não faltam um dia sequer. Eles acham o salário muito bom”, brincou a presidente.
O advogado Sérgio Dantas Lopes é um dos que “gostam do salário”. Ele é voluntário da Litac há 15 anos e um dos responsáveis pela inauguração da nova sede. Lopes representou a instituição no processo judicial que deu posse do prédio da antiga Sociedade Italiana e que levou dez anos para ser concluído.
“A responsável por tudo é a dona Gilda. Eu só instrumentalizei a questão”, comentou o defensor. Lopes disse que o processo foi trabalhoso e que contribui com a instituição porque acredita que todas as pessoas têm o dever de fazer o mesmo. “Não existe motivação. Existe a vontade de tentar ajudar e de ajudar”, disse.
Além de advogar em causa da entidade, Lopes colabora com a Litac por meio de doações e de mobilização de novos voluntários. “Só não participo da administração, mas ajudo no que for preciso e no que pedem”, acrescentou.
Para o advogado, é fundamental que a população conheça a importância do trabalho desenvolvido pela Litac. Conforme ele, as pessoas “deveriam procurar saber um pouco mais a respeito da iniciativa dela e o resultado que traz para as pessoas que passam por uma dificuldade momentânea e terrível”.
De acordo com o advogado, o processo envolvendo a Sociedade Italiana demorou “o tempo necessário da Justiça”. “Não teve muito contratempo”, informou. A Litac ingressou com ação declaratória, uma vez que o estatuto da instituição italiana que possuía o imóvel o qual estava sendo pleiteado previa a cessão dele para uma entidade assistencial da cidade em caso de distinção.
Lopes informou que nenhuma outra entidade apresentou o pedido na Justiça. “Pode ser que nós chegamos primeiro, mas havia a previsão, a instituição tinha que se habilitar, a Litac se habilitou e conseguiu”, descreveu.
A inauguração da sede própria também é resultado de soma de esforços de mais pessoas. Pedro Dias da Rosa, por exemplo, já perdeu as contas de quanto tempo integra o conselho fiscal da instituição.
“O trabalho é muito bom. A entidade ajuda muitas pessoas. São mais de 120 que dependem tanto de alimento como de remédio. E é uma ajuda que se estende até para o amor, com o acompanhamento de psicólogos”, comentou.
Rosa afirmou que a participação dos voluntários e da sociedade são importantíssimos para a continuidade dos trabalhos. Conforme ele, é preciso que as pessoas contribuam com a instituição para que “ela dure a vida toda”.
“E hoje é um dia maravilhoso, porque estamos num prédio próprio. Antes, nós sempre trabalhamos em situações precárias, atualmente, graças a intervenção de várias pessoas, nós adquirimos um imóvel que se transformou nisso, um prédio pronto com bastante conforto para os voluntários”, disse.
O membro do conselho fiscal disse que, até então, quem trabalhava para a entidade considerava como luxo o fato de ir ao banheiro. “Agora, não. Todos vão ficar num imóvel completo e que vai atender melhor ao público”, falou.
Rosa ingressou na Litac por influência da esposa, Piedade Dante da Rosa. Ele disse que gostou do trabalho da instituição depois de acompanhar as atividades da mulher. “Vendo que a coisa era boa e que a entidade é seríssima, eu decidi ajudar minha colega Gilda que é muito capacitada”, adicionou.
O prédio considerado um divisor de águas na história da Litac começou a ser pensado com o fim da contenda judicial envolvendo a Sociedade Italiana. Como a entidade não tinha condições próprias de construir um imóvel do zero, uma vez que tinha optado por demolir o anterior para fazer o estacionamento, a diretoria pensou em fazer a troca do terreno por um barracão.
“Isso vinha sendo discutido desde que nós pegamos o imóvel da rua 15 de Novembro. Desde lá, já existia essa ideia, mas precisávamos de um trabalho muito grande para poder arrumar uma verba para construir. Mesmo com o estudo de várias pessoas, a ideia não saiu do papel”, contou Rosa.
O objetivo da entidade era melhorar a renda para ampliar os atendimentos prestados à população. Até então, ela “empatava” o dinheiro obtido com o estacionamento para pagar o aluguel do prédio do bazar que funcionava na 15 de Novembro.
“‘Matava’, mas não sobrava nada. E como nós precisamos de recursos para manter o atendimento, nós verificamos essa possibilidade de troca. E pegamos um prédio pronto, que vai abrigar melhor as pessoas e os voluntários”, disse.
O espaço é considerado ideal pelo membro do conselho fiscal também para que o público do bazar seja bem atendido. Rosa considera a sociedade fundamental para a existência da Litac, já que “sem a compra, não há lucros”.
O bazar é considerado o “braço direito” da instituição e garante o pagamento de 75% do valor do gasto mensal. Os outros 25% são obtidos por meio de eventos, doações, com ajuda de sócios e mediante arrecadações.