Tantos aspectos podem ser observados quanto a esta “crise sobre a crise” – ou seja, a da paralisação de caminhoneiros “cegonhada” na crise econômica – que se urgem critérios, partindo-se das possibilidades de calamidade até o outro extremo, o do risível.
Primeiro, é capital lembrar que toda crise acaba, uma hora ou outra; o que pode perdurar, no entanto, são as perdas irreparáveis, eventualmente sofridas enquanto os desafios são enfrentados.
Exemplo: a perda de vidas, sujeita quando os conflitos ganham maiores proporções e a segurança pública não consegue contê-los (algo nada incomum no país, como todos sabem).
Outro exemplo: a perda da democracia – coitadinha, tão pouco valorizada, tanto pelos sectários de esquerda quanto pelos de direita (posições conceituais que, aliás, pouco importam à população em geral, até porque cada vez mais difusas e desconectadas à realidade).
Neste engarrafamento de desinformações e radicalismos (claro, instigado irresponsável e maldosamente por meio das redes sociais), pode-se observar o animal que ainda existe em todos nós, lamentavelmente…
Há de tudo: gente que vibra vendo caminhões tombarem quando tentam passar por bloqueio; gente que torce para que isso aconteça só para tentar furtar a carga; há quem furta combustível e leite do vizinho, se assim tiver oportunidade…
Ainda, há quem, inacreditavelmente mesmo em seguida à CIA norte-americana ter tido documentos divulgados, comprovando que a ditadura brasileira prendia, torturava e matava pessoas, ainda vai a público defender um golpe de estado…
Parece algo assim: “Dane-se! Ninguém na minha casa sofreu mesmo… E o que me interessa é encher o tanque de gasolina, a cara de cerveja e torcer pro meu time do coração, essa coisa mais maravilhosa do mundo! O resto é que se exploda!”.
Outros, não menos em aparente estado de torpor insano, culpam (somente) o atual governo pela crise, como se ela não tivesse sido gestada na enorme pança de incompetência e demagogia do governo anterior.
Ambos os sectários, porém, ainda que em oposição ideológica, não estão tão distantes em várias peculiaridades, entre as quais: não valorizam a democracia, justamente porque buscam impor à força seus projetos de poder (de “poder”, não de “governo legítimo”, ressalte-se); e apostam na ignorância e falta de memória da população para atingirem o tal poder.
Interessante é que tanto o bloco dos novos fascistas quanto a galera do Lula é meu rei evocam o passado para defenderem seus projetinhos de poder.
Ambos querem fazer crer que, “antes”, tudo era uma beleza: havia segurança, dinheiro e empregos sobrando, saúde e educação de qualidade… E, claro: corrupção zero!
O mais doido, diante desse discurso só não mais mentiroso que hipócrita é o fato de ser aceito e “repercutido” por muitos… Provavelmente, por quem não vivenciou a história, ou, no mínimo, viveu em uma bolha de privilégios e indiferença.
Corrupção sempre houve, nem muito mais nem muito menos. A única diferença é que, “antes”, a Justiça e a imprensa não tinham a liberdade de hoje para denunciá-la.
E aqui um fato a justificar o pouco apresso à democracia pelos refestelantes candidatos a golpistas: essa liberdade só existe sob o regime democrático.
Submeter a Justiça e calar a imprensa, portanto, são instrumentos de fetiche dos extremistas, de esquerda e direita, a quem só interessa a liberdade de poderem fazer o que bem entendem, sem receio de punições e da opinião pública.
Por sua vez, a relativa bonança dos períodos passados – dos dois – é evidência de que, realmente, as crises vêm e vão. Contudo, ambas não aconteceram, necessariamente, por mérito dos governos de outrora.
Há momentos em que, por vários fatores, locais e internacionais, há interesse em se investir em determinado país, em certos setores. Então, com mais dinheiro circulando, melhor a qualidade de vida de todos.
Assim aconteceu durante o chamado “milagre econômico”, na década de 70, e, mais recentemente, em um período do governo Lula. Porém, não “graças” aos governos, mas, sim, “apesar” deles.
O resultado, não obstante, é que muitos creditam seus momentos mais abastados a esses governos e, por derradeiro, entendem que, se resgatarem o passado, também reconquistarão a possibilidade de comprar carro zero, viajar para a praia, comer mais vezes fora de casa…
Mas, como diriam os bandidos (os que assumem seus crimes in loco, não esses oportunistas de bastidores): “Perdeu, irmão!”. Ou, perdemos todos, irmãos brasileiros!
Não tem molusco nenhum, tampouco quem estudou para defender fronteira e, em última instância, matar os outros, que possua capacidade para fazer surgir, do nada, um novo milagre econômico no Brasil.
O que nos resta, pelo menos, é essa coitadinha, a democracia. Essa mesma que ainda permite sabermos o que está acontecendo dentro de nossas fronteiras, que está levando, sim, muita gente a ser presa por corrupção (como “nunca antes na história deste país”).
A democracia, que deveria ser defendida por meio das maiores e mais justificadas manifestações já vistas, é a prova maior de que, afinal, nem tudo piorou.
De resto, caros patriotas, é só aguardar um pouco, que os combustíveis e o leite já retornam e, além, as eleições estão próximas. Não há a mínima necessidade de buscar o fim deste governo, ainda que inábil e impopular.
Basta, na hora do voto, não se deixar enganar por discursos mentirosos de populistas. Essa será a segunda maior vitória dos brasileiros a curto prazo. A primeira? Ganhar a Copa? Há, há! A principal vitória dos brasileiros em 2018 será ainda ter eleições. Vamos torcer e levantar a bandeira por essa causa!