Justiça começa julgamento de rede de tráfico de drogas local





A Comarca de Tatuí começou, na semana passada, o julgamento de 18 pessoas que teriam envolvimento com uma rede de tráfico de drogas que atuava na região do Jardim Rosa Garcia 2. A quadrilha teria laços com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e, supostamente, com servidores da Prefeitura.

Entre os réus, estão um homem apontado como o chefe da organização criminosa, dois advogados, um ex-policial militar e uma escrivã da Polícia Civil. Alguns dos acusados são suspeitos de atuarem como lobistas junto ao governo local.

Das 18 pessoas processadas, 13 estão presas e cinco aguardam julgamento em liberdade. No total, 14 homens e 4 mulheres respondem por associação criminosa e tráfico de entorpecentes. A suspeita de envolvimento de uma policial civil foi encaminhada à Corregedoria Auxiliar de Sorocaba. Ela é processada por corrupção passiva.

O julgamento teve início na segunda-feira retrasada, 6, e seguiu até a quinta-feira, 9. O juízo terá sequência no dia 10 de março, quando mais testemunhas e réus serão ouvidos. A expectativa é de que a sentença seja divulgada no fim do mês que vem. O processo tem mais de 3.500 páginas.

Ao todo, serão ouvidas, na primeira e na segunda parte do julgamento, 46 pessoas, entre réus, testemunhas de defesa e acusação. Na acusação, foram ouvidos delegados da Polícia Civil, investigadores, guardas civis municipais, policiais militares, funcionários públicos e escrivães.

Outras seis pessoas prestaram depoimentos por carta precatória. Elas são das cidades de Itu, Mairinque, Campinas e Franco da Rocha.

Segundo despacho da juíza da 1a Vara Criminal de Tatuí, Mariana Teixeira Salviano da Rocha, as interceptações autorizadas pela Justiça revelaram uma “extensa rede de criminalidade”, desde o “comando do tráfico de entorpecentes atuante na comarca até mesmo o envolvimento de indivíduos inseridos no âmbito do Poder Executivo municipal”.

Conforme o documento disponibilizado no “site” do TJ (Tribunal de Justiça) de São Paulo, as investigações evidenciaram um “poder paralelo da criminalidade, que usufruiu de gama considerável de membros e influência”.

De acordo com o processo, a quadrilha teria três núcleos principais: o “de comando”, que chefiaria a organização criminosa e teria os comandantes do tráfico de drogas no Jardim Rosa Garcia 2; o “gerencial”, responsável pela distribuição da droga em diferentes pontos e pela parte operacional; e o “de atuação da Prefeitura Municipal”, composto por servidores públicos e pessoas ligadas à administração. O processo é decorrente de investigações que começaram no ano de 2014.

O despacho da magistrada aponta que a associação criminosa, em tese existente, “mostrou-se um grande e fortalecido organismo cujos tentáculos percorrem setores públicos e serviços públicos na obtenção de favores e facilidades que de certa forma auxiliariam na continuidade da atividade criminosa”.

A instauração do inquérito policial foi deflagrada por requisição do Ministério Público de Tatuí, após termos de declarações colhidos na sede da Promotoria de Justiça local. O processo é conduzido pelo promotor criminal Jacques Marcel Abramovitch.

O pedido foi feito em 2014, e, desde então, policiais civis trabalharam na identificação de pessoas que fariam parte da organização criminosa.

No final de 2015, a Justiça autorizou a interceptação de 17 linhas de celulares, duas delas do litoral norte e uma da região de Campinas. Segundo os autos, as escutas se estenderam por mais de três meses, com sucessivas prorrogações.

Em março do ano passado, a Polícia Civil deflagrou operação que resultou na prisão de oito pessoas. A força-tarefa teve a colaboração de 40 policiais civis de distritos policiais de Itapetininga, Tatuí, da Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) e da DIG (Delegacia de Investigações Gerais). Dois dos presos foram detidos em Caraguatatuba.