Da reportagem
Marcando o fim do tratamento contra a leucemia, a menina Júlia Abrame de Oliveira, de nove anos, tocou o “sino da esperança” do Gpaci (Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil), em Sorocaba, na quinta-feira da semana passada, 1º.
O Gpaci promove o ato quando o paciente finaliza as sessões de quimioterapia e radioterapia, para marcar o fim da etapa “mais difícil” do tratamento contra o câncer. Após isso, é necessário passar por acompanhamento médico até a alta.
De acordo com Adriana Cristina Delaroli Abrame de Oliveira, mãe da Júlia, a menina fez questão do ato. Ela esteve no hospital para uma consulta de rotina e questionou os médicos sobre o motivo de ainda não ter tocado o sino.
“A Júlia já não faz o tratamento desde o transplante, ocorrido em março de 2018. Na época, não tinha o sino no Gpaci. Depois, eles instalaram, mas nos passou despercebido. Um dia, ela viu um vídeo na internet, com alguém tocando o sino, e me questionou por que ela ainda não tinha tocado e, no dia da consulta, perguntou para os médicos”, mencionou Adriana.
Os médicos autorizaram, Júlia conversou com a psicóloga e, como os exames estavam sem alterações, a menina tocou o sino no dia da consulta ontológica. “Ela ficou muito feliz. Tocar o sino, representa o fim do tratamento, é um grande passo na luta contra o câncer”, acentuou a mãe da menina.
Mesmo com a alta, a mãe conta ainda ser necessário continuar indo ao hospital para o acompanhamento. Segundo Adriana, a alta do paciente com câncer ocorre após cinco anos sem nenhum tratamento.
“Agora, as consultas estão ficando cada vez mais espaçadas. A última foi com três meses; a próxima vez será daqui quatro meses; e assim por diante, até que seja uma vez no ano e, finalmente, ela esteja verdadeiramente de alta”, contou a mãe.
Adriana compartilhou o momento com uma postagem nas redes sociais. Um vídeo registrou o momento em que Júlia toca o sino, ao lado da família, e comemora o fim do tratamento contra a doença.
Na postagem, Adriana escreveu: “Foram cinco anos de tratamento com muitos remédios, quimioterapia, radioterapia e, inevitavelmente, o transplante. Mas, tivemos uma mão forte e poderosa nos sustentando em meio a tantas dificuldades, foram muitos os livramentos. É incrível o agir de Deus quando descansamos nele”.
Júlia recebeu o diagnóstico de leucemia linfoide aguda no dia 7 de abril de 2013, com apenas dois anos de vida. Desde então, começou a fazer o tratamento e os pais foram informados de que precisaria ser feito o transplante para a filha poder continuar com as sessões de quimioterapia e radioterapia.
A busca por uma medula compatível mobilizou toda a cidade. Em outubro do ano passado, uma campanha de coleta do material recebeu mais de 1.600 pessoas interessadas em ajudar a garota.
Mesmo com a ação para o cadastro de novos doadores, os médicos não localizaram, no banco de dados, alguém totalmente coadunável com a menina e sugeriram aos pais que eles autorizassem o procedimento com alguém da família que fosse 50% compatível.
O procedimento aconteceu no dia 15 de março de 2018, no Hospital Santa Marcelina, em São Paulo. Ela recebeu a medula óssea do pai, Antônio Sérgio de Oliveira, por meio de transplante de medula haploidêntico, feito com alguém metade compatível.
“Posso afirmar: a Júlia é um milagre! Deus nos deu a oportunidade de tê-la de novo, de vê-la crescer com saúde e como uma criança, como qualquer outra. Isso é um privilégio! Eu vi muita mãe perdendo filhos, e vi muita criança indo embora devido à doença”, disse Adriana.
“Tudo isso foi muito sofrido porque a gente sabia que compartilhava do mesmo barco. Mas, ver a Júlia bem, recuperada, curada e sem tomar medicamento, é uma alegria. E, quando ela tocou aquele sino dizendo que terminou, acabou, foi muito emocionante”, concluiu.