Da reportagem
As obras do escritor e jornalista de Tatuí José Ortiz de Camargo Neto “Vida em Versos”, de crônicas e poesias, e “História Secreta do Brasil”, peça teatral baseada no livro de mesmo nome, de autoria da psicanalista Cláudia Bernhardt de Souza Pacheco, foram lançadas na tarde de sábado, 2, no Museu Histórico “Paulo Setúbal”.
De acordo com o autor, o local do lançamento foi escolhido devido à casa ser considerada por ele “o maior tesouro que existe em Tatuí”. “Aqui preserva a alma, os pertences, a obra, e tudo do Paulo Setúbal. E fico muito contente porque daqui ele continua instruindo as gerações de Tatuí”, apontou.
Com os olhos marejados, Neto Ortiz (como é conhecido) lembrou dos tempos em que vivera na cidade e definiu os momentos como os melhores dias da infância e juventude dele.
“Tatuí é tão bonita, que as gerações tatuianas das crianças e dos jovens têm contato com as obras desse gênio da literatura. E a arte é o fundamento da civilização. Primeiro, vem a arte e, depois, surge o resto”, argumentou.
Ele também sustentou que o povo de Tatuí possui o “privilégio de ter contato direto com a arte por meio dos artistas que a cidade cultiva”. “Com Paulo Setúbal; com a Cristina Siqueira, que escreve nos muros da cidade; e aqui ao lado (do museu) você encontra, também, uma homenagem a todos os músicos da cidade”, apontou.
O escritor também citou a paixão pela poesia por conta das aulas de geografia do professor Paulo Ribeiro. “Ele (o professor) me deixou apaixonado com o entusiasmo que ele falava da geografia como poesia”, emendou.
O autor, que também é responsável pela coluna “Aqui, Ali, Acolá”, do jornal O Progresso de Tatuí, e integrante da família fundadora do periódico centenário, conta ter iniciado o livro “Vida em Versos” a partir do artigo “Vereda Única”, publicado em janeiro deste ano neste jornal.
“Devido à boa aceitação que teve entre os leitores tatuianos, fiz uma coletânea. Eu só escrevo quando estou inspirado. De repente, vem uma inspiração, que não sei de onde, e eu escrevo”, contou.
Ele compartilhou que a inspiração “não vem frequentemente” e que, geralmente, escreve quando algo lhe chama a atenção. “Às vezes, vejo uma cena, uma criança na rua e, de repente, começam a surgir versos na minha cabeça e eu escrevo”, emendou.
Neto Ortiz ofereceu a obra poética aos amigos Norberto Keppe e Cláudia Pacheco e aos poetas Paulo Bomfim e Paulo Setúbal, dedicando um soneto a cada um.
“De acordo com o que dizia Paulo Setúbal, soneto é a poesia em traje de gala”, disse o escritor, durante as declamações aos homenageados.
Já a peça teatral, conforme Neto Ortiz, narra a “história não contada” do Brasil, conforme a qual ele não for descoberto por uma companhia marítima ocidental, uma indústria de comércio, mas, sim, pela Ordem de Cristo.
O escritor completa a narrativa dizendo ter sido um “projeto espiritual que veio para o Brasil para construir no país um novo cristianismo, o reino do Espírito Santo”.
“Vieram os jesuítas para cá, os franciscanos, e eles tiveram uma influência violenta no Brasil, e tudo aqui se deve a esses homens. Seria uma história espiritual do Brasil”, argumentou o escritor.
Para ele, o cultivo pela arte em um contexto geral está embasado em como o professor é orientado a disseminar a cultura na sala de aula. “Eu recomendo, não só para as gerações atuais, mas para os professores, que deem arte para os alunos, que vocês (os professores) irão formar gerações incríveis”, orientou.
Neto Ortiz ainda recomendou a leitura da obra “Confiteor”, de Paulo Setúbal, como “imprescindível para os jovens”. “Ele queria ajudar os seres humanos para não cometer os mesmos erros que ele cometeu”, pontuou.
“Então, é um livro que o jovem tem que ler para saber quais foram os erros que Paulo Setúbal cometeu e que o autor fala para não os cometer, porque estragam a vida”, acrescentou.
Entre os convidados do lançamento literário, estavam dois dos amigos “poetas” de Neto Ortiz, do então do Instituto Educacional “Barão de Suruí”.
Um dele é José Vicente da Cruz (Zé Vi), que definiu a presença dele no lançamento do amigo como de “muita responsabilidade”, por conta de o escritor ser considerado por ele uma “pessoa fora do normal”.
“Desde que eu o conheci, há 50 anos, percebi que o Ortiz era uma pessoa diferente. Então, para mim, é uma alegria imensa, uma responsabilidade e também uma honra poder estar aqui”, declarou.
Considerado por ele próprio como “meio poeta”, Zé Vi descreveu a poesia como sendo o “amor que faz parte da essência da pessoa”.
“A poesia está dentro da gente. Às vezes, acordo às três da manhã com a inspiração, e o celular já fica do lado devido a esses momentos”, contou.
Cristina Siqueira, também escritora e amiga de Neto Ortiz, falou sobre os “momentos áureos” vividos por eles e descreveu a fase como uma “memória feliz”.
“Percebi, também, o quanto nós somos diferentes (referindo-se aos colegas de classe do “Barão”). Mas, o que nos une? Uma raiz, uma escola, a cidade. Então, esse é um momento raro e oportuno de nós nos encontrarmos e vermos o rumo que cada um tomou”, avaliou.
Ela também comentou sobre a geração que acabou formando três poetas em uma só turma. “Alguma coisa aconteceu naquele momento, com os professores, em como nós estudamos a língua portuguesa”, apontou.
“Isso tudo foi um fundamento para que nós nos interessássemos em sermos escritores, além da referência de Paulo Setúbal na nossa educação”, emendou.
O violonista Thomaz Sampaio – primeiro colocado no 31º Concurso Latino-Americano de Violão Rosa Mística – entoou as melodias da tarde literária e contou que, a pedido do escritor, o repertório deveria conter uma mescla entre música nacional e repertório tradicional de canções românticas.
Com o pedido aceito, os presentes puderam acompanhar a junção de melodias por meio de canções de Antônio Govira, Villa-Lobos e João Pernambuco.
Sampaio comentou ser uma “honra estar presente em mais um lançamento de livro do professor Ortiz”, com quem mantém, ainda, parceria na composição de canções.
“Eu o conheço como meu professor de pós-graduação, e a nossa experiência une essa parte artística da poesia com a música”, contou.
O ex-locutor da Rádio Bandeirantes Celso Andrade declamou, durante o encontro, três poemas selecionados da obra do escritor, e também disse ser uma honra participar do lançamento dos livros.
“Eu me considero um aluno, e poder estar aqui, nesse lugar, e o que ele representa, é uma honra que eu nem mereço”, declarou.
Na visão do escritor, “é o amor e não a tristeza que o inspira na escrita de suas obras”. E é com base nesse fundamento de “inspiração” que ele orienta os alunos dele a expressarem os sentimentos por meio das letras.
“Escrevemos melhor quando a gente sente afeto e amor. O amor é a base do raciocínio. Dei aula de redação e pedi aos meus alunos para que escrevessem cartas de amor a pessoas que eles amam, ou cartas de agradecimento, e eles choravam escrevendo e deslanchavam a escrever, cinco ou seis páginas”, comentou.
Neto Ortiz completou sustentando que, atualmente, o método dele está sendo usado em outras escolas e “dando muitos resultados”. “As pessoas soltando os sentimentos delas, elas soltam essa luta”, concluiu o escritor.
A aposentada Heloísa Castro Lima Reali disse ter ido ao evento para comprar um dos livros do escritor e que já havia lido a obra que inspirara a peça teatral “História Secreta do Brasil”. “Gosto de ler obras místicas, e gostei muito do livro (que inspirou a peça teatral)”, concluiu.
Após a divulgação oficial das obras em Tatuí, o escritor fará lançamento na cidade de São Paulo, onde reside atualmente.