Quem vê Thyago Vieira andando por Tatuí, atualmente, não imagina por quantos lugares ele passou. Também nem consegue adivinhar os anos que gastou persistindo em um sonho e as dificuldades enfrentadas por ele ao longo da carreira.
Jogador de beisebol, Vieira é um dos representantes de destaque de uma geração de meninos tatuianos que aprendeu a dominar bem cedo as regras complicadas do esporte popular nos Estados Unidos.
“Sou da última geração da equipe de beisebol que treinava no antigo campo da Cooperativa Agrícola da Região de Tatuí. Fui da última safra”, declarou, orgulhoso.
Vieira pisou pela primeira vez em um campo de beisebol quando tinha nove anos, em 2002. Permaneceu treinando no mesmo espaço até 2005, quando completou 12 anos. “Depois, o time acabou e eu parei de jogar”, recordou.
Entre 2006 e 2007, ele continuou a praticar esporte, migrando para o futebol. Competiu pelos mantos do XI de Agosto, Clube de Campo e da então empresa Delmar. Antes de trocar um gramado pelo outro, Vieira representou Tatuí em competições de beisebol em Marília, Presidente Prudente e Ibiúna.
Como despontou muito cedo na atividade, chegou a jogar em São Paulo, onde integrou elenco do Gecebs (Grêmio Assistencial e Cultural), que tem base no Arujá. Entretanto, os treinos aconteciam somente aos finais de semana.
Na época, Vieira permanecia em Tatuí de segunda-feira a quinta-feira. Às sextas, ele viajava para São Paulo. “Ia junto com mais alguns atletas daqui”.
Ele permaneceu nos treinos por um bom tempo até que, em 2010, foi para o campo de treinamento em Ibiúna. Daquele ano em diante, as rotinas seriam mais pesadas.
No CT (centro de treinamento) daquela cidade, passou a dedicar mais tempo ao aprimoramento das técnicas e à melhoria do condicionamento físico.
“O pessoal de São Paulo começou a bancar os meus treinos. Eu evoluí bastante, e a equipe que me ajuda, no Brasil, iniciou a divulgação do meu trabalho”, descreve.
Os “coaches” enviaram vídeos do jogador a olheiros e representantes de outros clubes. Nos materiais, Vieira aparecia fazendo arremessos (ele é arremessador).
Os vídeos chamaram a atenção de quatro times, o mais importante deles, o Seattle Mariners, dos Estados Unidos. Foi então que, aos 17 anos, Vieira assinou o primeiro contrato profissional. A negociação aconteceu em prazo de cinco meses. “Foi muito rápido, e até me disseram que isso era raro”, comenta.
Com a contratação, Vieira precisou passar por uma fase de adaptação, realizada na Venezuela. Por ter ingressado na categoria de base, foi enviado ao país vizinho para “pegar mais experiência”. Permaneceu lá por dois anos.
“Aí, destaquei-me e fui promovido para jogar nos Estados Unidos, no ano de 2013. Foi lá onde tudo começou para a minha carreira profissional”, explica.
Já nos Estados Unidos, apesar da empolgação, Vieira registrou altos e baixos. A fase ruim ocorreu entre 2014 e 2015, quando sofreu contusão. Em 2016, quase voltou para casa. “Queriam me mandar embora”, confessa.
Desafiado a mostrar o que sabia fazer, Vieira resolveu “arrebentar”. Ele virou o jogo no fim de 2016 e atravessou, no sentido figurado, 2017 em excelente fase.
Na Venezuela, o atleta teve o primeiro contato com o “mundo profissional”. Vieira conta que todo jogador precisa passar por sete níveis, para ingressar no último estágio. Os contratados pelo Seattle iniciam o treinamento na Venezuela ou na República Dominicana, países nos quais os norte-americanos mantêm bases.
Só depois que os jogadores atingem um “bom nível” é que são enviados para competir nos Estados Unidos. A promoção se dá por bom desempenho, demonstrado pelo tatuiano no período em que permaneceu na Venezuela, mas não repetido em 2014. “Nesse ano, tive uma contusão e decaí”, relata.
A situação de Vieira complicou-se em 2016, quando chegou a ser notificado pela equipe norte-americana sobre um possível desligamento. “Eles iam me mandar embora, pelo fato de ter trocado a direção da equipe por três vezes. Então, firmei o meu propósito com Deus e passei a trabalhar mais”.
Naquele mesmo ano, o tatuiano começou a “mostrar resultado”. “Foi o meu melhor ano. Arrebentei e, depois, tive o privilégio de participar de uma classificatória com o time da seleção brasileira, em Nova Iorque”, descreve.
Ainda em 2016, Vieira disputou, no Estado do Arizona, o Winter Leagues: Arizona Fall League, competição que reúne os melhores jogadores da temporada.
“Mandei bem e chamei a atenção da imprensa especializada e dos olheiros. E isso me fez ser adicionado ainda em 2016 na lista dos profissionais”, conta.
Vieira teve o nome incluído em novembro de 2016 e voltou a vê-lo neste ano. Em 2017, ele subiu para o triple A (AAA) e, após participar de uma partida em Miami, pelo jogo das futuras estrelas, foi selecionado para a MLB (Major League Baseball), a liga norte-americana da modalidade e “última instância”.
A façanha fez dele o quarto brasileiro a chegar à MLB e, posteriormente, a integrar o elenco do CWS (Chicago White Sox). A equipe comprou o passe dele, do Seattle Mariners, por não querer “troca de jogadores”. “O time fez a oferta quando eu estava de férias e o Seattle aceitou. Agora, eu sou do Chicago”, informa.
Casado e com uma filha, o jogador driblou as primeiras dificuldades com o inglês por conta do espanhol, que aprendeu na Venezuela. Atualmente, ele joga em posição específica. Vieira é o chamado “closer”, o jogador que entra em campo para finalizar uma partida ou segurar o resultado favorável.
Em férias, ele permanece em Tatuí até fevereiro, quando volta aos Estados Unidos. Na “casa nova”, deve passar pelas mesmas fases de adaptação e ambientação.