José Renato Nalini *
E muito melhores. Quando fica difícil encontrar vultos brasileiros da atualidade que mereçam encômios, admiração e reverência, nada como voltar ao passado. E pensar em brasileiros como André Rebouças (1838-1898). Engenheiro, cientista, inventor, botânico, ambientalista, professor de inúmeras disciplinas, abolicionista, monarquista.
Figura respeitada no mundo. Estudou na Europa. Falava fluentemente várias línguas. Mas era um verdadeiro patriota. Coisa que até perdeu significado na mediocridade reinante.
Extraio de uma carta que ele escreveu ao Visconde de Taunay em 10.6.1896, algo que deveria inspirar nossas crianças e jovens, aos quais não soubemos legar o orgulho de ser brasileiro, recolhidos na nossa imediatista luta pela sobrevivência e cuidando do próprio umbigo.
“O patriotismo, o bom patriotismo é o amor da Pátria; o nativismo, o mau patriotismo é egoísmo nacional. O patriotismo prova-se e manifesta-se por atos de amor, dedicação, devotamento, sacrifício e abnegação; o nativismo exibe-se por atos de egoísmo, de malquerença, de ciúme, de inveja e de ódio contra os outros. Quando se aplica às divisões e subdivisões do território nacional, o nativismo toma as denominações especiais de ‘provincialismo’ e ‘bairrismo’… A Pátria é um grande lar doméstico; a nação é uma grande família formada pela agremiação de milhares de famílias. O bom patriotismo demonstra-se pela dedicação a esse grande lar e a essa grande família. É exatamente como o amor da própria família, que se prova por atos de trabalho, devoção e abnegação em favor dos pais, dos irmãos e dos parentes mais longínquos. Seria considerado insensato e ridículo o indivíduo que pretendesse que fossem reputados, como provas de amor à sua família, os atos de malevolência que praticasse contra as famílias alheias. Assim é que o jacobinismo nativista dogmatiza que para ser brasileiro é preciso principiar por ter ódio a um certo número de nações, exatamente aquelas a quem mais devemos respeito e gratidão”.
Esta última frase faz lembrar as recentes ofensas à França, à Alemanha e a quem mais viesse assumir posição de defesa de uma floresta tropical que estamos destruindo.
A lição de André Rebouças é atualíssima, embora proferida no século 19: “Para os entes comuns e para as almas perversas é mais fácil odiar que amar. Daí vem que o nativismo, que é ódio, é muito mais frequente do que o patriotismo, que é amor. É também por isso que o grito ‘morte ao estrangeiro’ (ou ao adversário político) encontra sempre eco e executores na população rude e sem educação; no ‘profanum vulgum’. Desgraçadamente, é mais fácil reunir cem celerados para um linchamento do que três homens probos e bons para um ato de caridade”.
É de respeito pelo outro e, se possível, de uma postura amorável, em relação à humanidade e à natureza, que o Brasil está a necessitar. Com urgência urgentíssima, porque as evidências de uma corrosão patológica na sociedade que parece ter perdido polidez e ternura, não prenunciam dias gloriosos para a Terra de Santa Cruz.
* Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras – 2019-2020.