Marco Camelo *
Enquanto em países da Europa o trem é um dos mais populares meios de transporte de pessoas e de carga, no Brasil o setor ferroviário ainda é um modal pouco utilizado, com muito espaço para crescer além dos serviços para os segmentos de mineração e agronegócio.
Estudo da CNI (Confederação Nacional da Indústria) revela que mais de 30% da malha ferroviária está inutilizada e 23% sem condições operacionais.
Pelo restante das linhas, são transportadas anualmente a maior parte das cerca de 500 milhões de toneladas que movimentam o setor, em sua maioria minério de ferro (73% do total) e soja em grãos ou farelo (7% do total).
Mas esse cenário poderá ser revertido. Como primeira ação temos a publicação em 2021 do Marco Legal das Ferrovias, que pretende ampliar o aumento dos investimentos privados no setor, permitindo a construção de novas linhas por autorização, princípio adotado em setores como energia elétrica e portuário.
E a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) já autorizou a exploração de ferrovias pela iniciativa privada, o que deve gerar investimentos de R$ 295 milhões e 3,6 milhões de empregos em todo o Brasil.
E esse crescimento deverá acompanhar as tendências tecnológicas do setor, aumentando a produtividade e reduzindo custos, sejam de combustível ou na manutenção da malha, além de aumentar a segurança com processos em conformidade com sistemas de gestão de prevenção de perigos alinhados às normas CENELEC 50126, 50128 e 50129 de segurança, além da ISO 28000, com sistemas modernos de sinalização e outros sistemas complementares.
Cabe ressaltar ainda a importância de uma supervisão da integração dos sistemas nos projetos ferroviários, na qual a TÜV Rheinland tem grande experiência.
No quesito segurança, o Brasil tem apresentado bons índices. Segundo a ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários), graças aos investimentos contínuos em modernização tecnológica, treinamentos, manutenção e campanhas regionais, o setor ferroviário de carga conseguiu atingir padrões internacionais de segurança. Entre 1997 e 2021, a redução no índice de acidentes foi de mais de 86,65%.
E não podemos deixar de ressaltar mais um quesito que deve fortalecer o setor: a sua baixa emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa. Em um cenário que cada vez mais privilegia as boas práticas ambientais, investir no setor ferroviário parece ser uma forte tendência para 2023 e anos futuros.
* Gerente de Ferrovias na TÜV Rheinland