Impactos do treinamento de sono no cérebro infantil

Por Isabel Braga*

A popularização dos cursos e livros envolvendo treinamento de sono em bebês, sobretudo aqueles que ensinam a colocar a criança acordada no berço, tem levado muitas mães a ideia equivocada de autonomia precoce para dormir. O bebê humano vem ao mundo bastante dependente da família, como em uma exterogestação (gestação fora do útero), provavelmente decorrente da desproporção entre o tamanho da cabeça necessário para caber o nosso cérebro e a pelve feminina bípede.

Em razão disso, o bebê depende da presença dos pais para seu devido neurodesenvolvimento. O estresse decorrente dessa ausência gera o chamado desamparo aprendido, que leva o pequeno a simplesmente parar de chorar porque ninguém o consola e ele entende que gastar energia para isso não adianta, mas não significa que se tornou autônomo.

Além disso, o sono de qualidade é um dos maiores predispositores do QI infantil. Na ausência do afago, o cérebro passa a usar a energia e a aumentar o volume de sangue nas áreas de sobrevivência, reduzindo o aporte para uma área cerebral chamada córtex pré-frontal, relacionada a nossa racionalidade e ao controle emocional necessário para conter as birras.

O método chamado “bebê canguru” coloca os prematuros em contato com os pais ao invés de incubadoras. Esta é uma prova do sucesso das medidas afetivas. Ao observar que, mesmo com o aporte calórico adequado, recém-nascidos na ausência dos familiares não ganhavam peso, teorizou-se que eles estavam sob estresse de abandono e desviando energia para as áreas de sobrevivência. Na presença do calor humano, passaram a ter pesagem considerada adequada para a faixa-etária.

Portanto, compreende-se que dormir adequadamente desde cedo e ter a presença reconfortante do calor humano contribui de sobremaneira para o desenvolvimento da inteligência e do autocontrole futuro da criança.

*Isabel Braga é médica, doutora pela Fiocruz, referência em transtornos do sono e autora do livro Noites de Renovação.