Ignorar cólicas menstruais pode ter consequências graves para mulheres

Médico alerta para normalização e recomenda fazer exames o quanto antes

Da redação

A saúde vaginal de pessoas que menstruam ainda é considerada tabu, e esse estigma se estende até os consultórios médicos. Metade das mulheres “cis” (cisgênero, condição da pessoa cuja identidade de gênero corresponde ao gênero que lhe foi atribuído no nascimento) relatam que a dor durante o período menstrual é o sintoma que mais as incomoda, segundo levantamento do Datafolha. Além disso, 55% delas afirmam que preferiam não menstruar.

Essas dores chegam a ser tão intensas ao ponto de interromper suas rotinas. Apesar dos dados e das queixas das pacientes, muitos ginecologistas continuam não considerando os desconfortos como algo passível de investigação médica, prescrevendo apenas o uso de anticoncepcionais e analgésicos para controlar a dor.

As cólicas menstruais são um dos principais indícios da endometriose. Para o médico ginecologista e obstetra, Patrick Bellelis, “é comum que sintomas como as cólicas sejam normalizados nesse período, mas não devem ser”.

“Há mulheres com dores severas durante a menstruação e isso pode ter diferentes significados”, inicia. “Sem o tratamento adequado, a doença pode atingir formas graves, como a endometriose profunda”, adiciona.

A relativização das queixas de pessoas com útero retarda o diagnóstico. Segundo o profissional, é comum a descoberta tardia da doença, que geralmente é feita somente após tentativas frustradas de engravidar, quando são solicitados exames para detectar infertilidade. Estudos apontam que a endometriose pode levar até dez anos para ter um diagnóstico comprovado.

“Precisamos dar visibilidade ao assunto, conscientizar profissionais de saúde e orientar cada vez mais mulheres a observarem seu corpo, porque o diagnóstico precoce é capaz de prevenir sequelas e permitir um tratamento que pode garantir o controle da doença e a qualidade de vida”, conclui.

Bellelis é doutor em ciências médicas pela USP (Universidade de São Paulo); graduado em medicina pela Faculdade de Medicina do ABC; especialista em ginecologia e obstetrícia, laparoscopia e histeroscopia pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Também é especialista em endoscopia ginecológica e endometriose pelo Hospital das Clínicas da USP. Possui ampla experiência na área de cirurgia ginecológica minimamente invasiva, atuando principalmente nos seguintes temas: endometriose, mioma, patologias intrauterinas e infertilidade.

Fez parte da diretoria da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE) de 2007 a 2022, além de ter integrado a Comissão Especializada de Endometriose da Febrasgo até 2021. Em 2010, tornou-se médico assistente do setor de endometriose do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital das Clínicas da USP.

No ano de 2011, tornou-se professor do curso de especialização em cirurgia ginecológica minimamente invasiva, pós-graduação lato sensu, do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês; e, desde 2012, é professor do IRCAD (Instituto de Treinamento em Técnicas Minimamente Invasivas e Cirurgia Robótica), do Hospital de Câncer de Barretos.