Idoso que precisava de hemodiálise morre após espera por atendimento





Arquivo O Progresso

Direção do pronto-socorro divulgou que não dispõe de equipamentos para realização de hemodiálise

 

Um idoso de 81 anos morreu depois de ficar quatro dias aguardando tratamento de hemodiálise. Pedro de Lima deu entrada no Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto” na manhã de sexta-feira, 3, com quadro de pneumonia. Na madrugada de ontem, terça-feira, 7, ele entrou em óbito.

A filha dele, Sebastiana de Lima Cardoso, confirmou o falecimento na tarde do mesmo dia, durante a despedida da família. O velório terminou às 17h, com sepultamento no cemitério municipal São Judas Tadeu, no Vale da Lua.

A O Progresso, Sebastiana disse que o pai tinha problema renal crônico desde 2011. Conforme ela, o idoso necessitava de tratamento de hemodiálise (ter o sangue filtrado por máquina) pelo menos três vezes por semana.

“Nós queríamos que o tratamento fosse feito em Tatuí, porque falaram que tinha máquina. Eu mesma entrei no site da Prefeitura e vi a máquina. Tinha até uma reserva, mas na hora que precisou, cadê?”, indagou.

Como os demais pacientes que precisam do tratamento, Sabastiana afirmou que o pai recebia atendimento fora de Tatuí. Atualmente, o serviço não é oferecido no município. A Santa Casa dispõe de dois equipamentos – sendo um em uso – para pacientes internados na UTI (unidade de terapia intensiva).

Entretanto, esses equipamentos não atendem pacientes renais crônicos. As máquinas registraram o primeiro atendimento em fevereiro do ano passado.

Na ocasião, a provedora da Santa Casa informou que elas são destinadas a pacientes internados na UTI e que “evoluem” para um tratamento de hemodiálise por causa das doses de medicamentos. Como a pessoa está debilitada, o rim tende a não funcionar bem. A partir desse momento, o aparelho é necessário.

Por quatro anos, Lima fez tratamento fora de Tatuí, sendo transportado pela frota da Secretaria Municipal da Saúde para Itapetininga. Em janeiro deste ano, a filha afirmou que ele teve a condição de saúde afetada por conta de um acidente.

Sebastiana declarou que a ambulância que transportava o pai dela e outras pessoas para tratamento na cidade vizinha se envolveu em um acidente. Também conforme ela, na ocasião, os pacientes “não receberam atendimento adequado”.

“O motorista, ao invés de chamar o resgate da estrada, ou o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), resolveu transportar os pacientes na ambulância que ia atrás, como se todo mundo fosse um bando de porco”, afirmou.

Segundo ela, mesmo machucados, os pacientes seguiram viagem para Itapetininga. Por conta do incidente, a filha disse que Lima “começou a ter outros problemas de saúde”. A mulher acredita que o acidente tenha ocorrido por imprudência.

“Eu estou movendo uma ação contra o motorista. Infelizmente, não consegui concluir, por causa da situação do meu pai, que estava numa condição ruim devido a esse acidente. Até então, ele estava lúcido”, disse Sebastiana.

Conforme ela, o pai tinha problema sério nos rins, com comprometimento do órgão. Mesmo assim, a filha acredita que o pai tinha chances de se recuperar, porque fazia o tratamento havia quatro anos e não tinha complicações.

Em função da idade avançada, Sebastiana afirmou que Lima não queria se submeter a transplante. De acordo com ela, o pai não quis aceitar o procedimento, “por causa dos riscos que corria”. “Ele também era cardíaco”, comentou.

O pai fazia hemodiálise todas as segundas, quartas e sextas, em Itapetininga. No dia 3, ele precisou ser levado ao ambulatório por conta da pneumonia. “Ele começou a escarrar muito, e nós resolvemos correr com ele porque foi de repente”, recordou a filha. O aposentado deu entrada no PS às 11h54.

Conforme a filha, por recomendação médica, Lima recebeu oxigênio. Ela informou, ainda, que a equipe que atendeu o idoso deixou claro que ele não poderia ser transferido para Itapetininga para fazer a hemodiálise por causa do estado de saúde.

“Só que as horas foram passando e o dia de ‘dialisar’ dele chegou. O médico responsável falou para eu não me preocupar que ele conseguiria uma vaga. Eu acreditei. Deu sábado e ninguém me deu um parecer”, declarou a filha.

Mesmo indo ao ambulatório nos dias seguintes, Sebastiana afirmou que o pai não conseguiu atendimento. “Ele era uma pessoa que dependia da máquina, estava superinchado, mas o quadro dele tinha reversão, se fosse atendido”, argumentou.

A filha disse, ainda, que os médicos limitaram-se a dizer que não conseguiram vaga. Segundo ela, a equipe deu “várias versões” para justificar a demora na transferência para que o paciente realizasse a hemodiálise.

Inicialmente, os médicos teriam dito que a Cross (Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde) não teria liberado vaga. “Mas, aí, eu perguntei da máquina noticiada no site da Prefeitura. E eles falaram que ela estava estragada”, disse.

Num terceiro momento, Sebastiana sustentou ter sido informada que “não havia equipe treinada para manuseio” e, posteriormente, que o equipamento disponibilizado para tratamento estaria sendo ocupado por outra pessoa internada.

A filha revelou que o pai prestou serviço como guarda patrimonial para a Prefeitura. “Ele até trabalhou no próprio cemitério. Tem um histórico de colaboração em Tatuí”, comentou.

Sebastiana declarou que, somente após ter ameaçado denunciar o caso à imprensa, a família foi informada de uma vaga. “Mas já era tarde, meu pai já estava entrando em óbito por conta de falência dos órgãos”, reclamou.

“Jogaram a culpa no Estado, na Santa Casa, disseram que não é culpa do pronto-socorro. Tudo bem, mas eu sou leiga no assunto. Custava me orientar? Só me diziam que o quadro dele era grave e não tinha reversão”, declarou a filha.

Dizendo estudar a possibilidade de acionar a Justiça, ela ainda sustentou que o pronto-socorro teria demorado a liberar o corpo do pai, que teria chegado ao Velório Municipal quase dez horas depois de constatado o óbito.

A filha disse estar indignada com o fato de o pai não poder ser atendido em Tatuí, mesmo a Santa Casa dispondo do aparelho.

A Prefeitura divulgou nota pela qual a direção do pronto-socorro informa que não dispõe de equipamento de hemodiálise dentro desse serviço municipal.

Segundo o Executivo, mesmo assim, conseguiu vaga para o atendimento tanto na Santa Casa – que oferece essa especialidade “exclusivamente aos pacientes da UTI” – como no centro de referência de Itapetininga.

“Infelizmente, o estado clínico do paciente era extremamente grave e não permitia que ele pudesse passar pelo tratamento”, ressaltou a direção do OS, no comunicado.

Ainda no texto, a Prefeitura afirma que Tatuí terá, no primeiro semestre deste ano, o lançamento da pedra fundamental do centro de hemodiálise. Este atenderá, indistintamente, à população do município e, também, de cidades da região.