Pesquisas em psicologia demonstraram que, afora temas conjunturais com incidência marcante em momento de eleições, os eleitores formam perfil psicológico distintivo com forte tendência a votar ou à esquerda ou à direita.
As pessoas formam suas preferências fundadas em cinco fontes diferentes. Cada uma delas desenvolve comportamentos polarizados. A primeira é a noção de compaixão, que vem junto à aversão a quem causou um mal.
A segunda dupla opositiva associa-se à justiça. Diversos animais, destacadamente macacos, reagem mal à injustiça. O justo pode ser a retribuição à produção efetiva (meritocracia), ou ao esforço por um resultado (dedicação).
A terceira fonte é a noção de identidade, ou de pertencimento. Animais em geral têm tendência a se agrupar, formar “tribos”. Grupos estabelecidos (religiosos, desportivos, políticos etc.) tendem a rejeitar e até ser hostis a outros grupos.
A tendência em se relacionar com iguais tem como contrapartida a existência, nos grupos, de quem ouse, não obstante o temor, curiosidade ou excitação em conhecer e, logo, buscar, o diferente, o forasteiro, a novidade.
Uma quarta polaridade relaciona-se ao respeito à ordem e à autoridade. Do mesmo modo, entre animais e humanos observa-se acatamento de hierarquias e regras. No polo oposto está a sensação de submissão e perda de liberdade.
A quinta liga-se à virtude e à pureza. São os tabus, as formas aceitas de comportar-se, as restrições, a autocontenção etc., contrapondo-se à vontade de experimentação, de maior liberdade, de promiscuidade, do hedonismo, da curtição etc.
Essas várias polaridades mostram que eleitores mais à esquerda costumam priorizar a ideia da compaixão, da justiça social, da ajuda governamental aos mais fracos, e que valorizam o empenho pelo sucesso mais que o resultado obtido.
Quanto à autoridade, os eleitores de esquerda, bem ao inverso dos de direita, a veem muito negativamente. Desgostam de hierarquia rígida e preocupam-se com abusos e desprestígio de grupos socialmente mais fragilizados.
A direita prestigia a autoridade e a hierarquia. Valoriza como conquistas a regra, a harmonia e a organização social. Tem como difícil escapar do desentendimento e da anarquia. A compaixão lhe é importante, mas restringe-a ao grupo.
Sobre pertencimento, a esquerda é cosmopolita e prefere diversidade, variação de raças, orientações sexuais diferentes etc. A direita estima a identidade e desgosta do diferente; tolera-o, mas prefere-o excluído; pode derivar em ódio.
Quanto à virtude e ao comedimento, são percebidos por eleitores à esquerda como um sufocamento da experimentação e inovação, da ruptura com os usos e costumes etc. O esquerdista quer a vida “em aberto”, sem restrições.
A direita tem como perigoso abrir mão dos tabus, das santidades, da pureza e aceitar a devassidão, a promiscuidade, o hedonismo, a infidelidade. Teme que o rompimento com os usos e costumes leve à decadência e à desagregação social.
Defino nossa direita: o núcleo duro do nosso direitismo é religioso (moral judaico-cristã), autoritário (apoia ditaduras), anticomunista (e nem é liberal, mas patrimonialista).
Mas esses não são o predicado do povo em geral, que é relaxado quanto a religiões (os evangélicos talvez mudem isso), vota à esquerda (Brizola, Lula, Dilma – até Collor era “antissistema”) e em economia só se interessa pelo resultado.
É plausível, pois, que a descambação à direita seja conjuntural: a roubalheira petista trouxe indignação; a insegurança pública trouxe medo; a hostilidade da esquerda (nós x eles) arregimentou a agressividade da direita. Oxalá a coisa passe.
* Doutor em direito pela UFSC, psicólogo e jornalista