Da reportagem
Em obras para revitalização e reforma estrutural do prédio que abrigará, o MIS (Museu da Imagem e do Som) recebeu a doação de um piano, da fabricante alemã Grotrian-Steinweg, de mais de cem anos, tornando-se o primeiro item do acervo.
O instrumento musical, conforme o número de série do modelo, foi construído no início do século 20, entre 1901 e 1910. O piano, que já pertenceu ao maestro Antônio Carlos Neves Campos por décadas, acabou doado ao museu por Ana Aparecida de Melo Sá Azevedo Vieira.
De acordo com Joaquim Roberto Neves Campos, irmão de maestro Neves, o piano foi comprado pelo casal Apolinário da Costa Neves e Francisca da Costa Neves como presente para iniciação musical da filha Chiquita.
Posteriormente, foi herdado pelo filho do casal, o médico, pianista e compositor Medardo da Costa Neves. Por mais de 50 anos, o piano ornamentava a sala de estar da residência do casal Medardo e Marita, em uma esquina da praça Martinho Guedes, a Praça da Santa. No entanto, após o falecimento do marido, Marita decidiu dar o piano de presente ao sobrinho neto, o maestro Neves.
Conforme Joaquim, o piano permaneceu por mais de 35 anos na sala de estar do maestro, ao lado do consultório. “Muitos clientes relatam o prazer de esperar a anestesia fazer efeito ao som de clássicos da MPB (música popular brasileira) tocados pelo dentista-pianista”, conta.
Ainda segundo Joaquim, “o irmão dele teve o piano como parceiro fiel em momentos de inspiração e estudos dedicados à transformação no talentoso e respeitado instrumentista, maestro e arranjador que, através do Conservatório Dramático e Musical ‘Doutor Carlos de Campos’, colocou Tatuí como celeiro de músicos extraordinários”.
De acordo com Antônio Carlos Cabral Campos, filho do maestro Neves, o pai passou décadas compondo diversas músicas com o piano alemão e, depois, repasso-o a Ana, atual dona do instrumento.
Atualmente, o prédio do antigo matadouro municipal passa por reforma estrutural e revitalização para ser sede do MIS. A empresa Santenge Construções e Serviços é a responsável pelas obras, iniciadas em julho.
Conforme o contrato assinado pela prefeita Maria José Vieira de Camargo, o prazo para entrega das obras referentes à primeira etapa da criação do museu é de nove meses.
“Nós pretendemos entregar antes”, garante o secretário municipal do Esporte, Cultura, Turismo, Lazer e Juventude, Cassiano Sinisgalli.
A revitalização pôde ser viabilizada por recurso destinado pela Secretaria Estadual de Turismo e pelo Dadetur (Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos), referente ao convênio 2019 reservado aos MITs (municípios de interesse turístico).
A proposta de investir R$ 373.874,11 na revitalização e ampliação do antigo prédio do matadouro, situado na avenida Domingos Bassi, esquina com a avenida João Batista Correia Campos, estava presente em um pré-projeto desenvolvido pela arquiteta da Arquiprom, Silvia Landa.
O pré-projeto foi analisado e aceito pelo Comtur (Conselho Municipal de Turismo), pela Comissão de Patrimônio Histórico, Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), pelo COC (Conselho de Orientação e Controle) e pelo Dadetur.
Acompanhada de Sinisgalli, a prefeita Maria José assinou o acordo em cerimônia com o governador de São Paulo, João Doria, no Palácio dos Bandeirantes.
A assinatura aconteceu no mesmo dia da reinauguração da praça Martinho Guedes, a Praça da Santa, primeira obra tatuiana concluída com recursos do programa MIT.
Paralelamente à revitalização do prédio, segundo o secretário, a prefeitura atua na captação de recursos para uma segunda etapa da instalação do equipamento. A verba é necessária para o processo de pesquisa, criação do acervo e execução do projeto da expografia do novo museu.
Conforme anunciado pelo titular, a Arquiprom inseriu a proposta do equipamento no Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (Salic) e recebeu autorização do Ministério da Cidadania para a captação de recursos por meio da Lei de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet.
A prefeitura quer viabilizar, no novo espaço, apresentações musicais, exposições permanentes e itinerantes, entre outras ações. Para a prefeita, a obra marca a entrega de um novo ponto turístico e também permite aos tatuianos e visitantes conhecerem um pouco mais da história da cidade.
Grotrian
A fabricante de pianos alemã Grotrian é de propriedade familiar há seis gerações. Em 1830, Friedrich Grotrian deixou a Alemanha para trabalhar com música, em Moscou (Rússia), e, após atrair pianistas renomados como Clara Schumann, Franz Liszt e Anton Rubinstein, começou a construir pianos.
Friedrich retornou à Alemanha, cinco anos depois, e tornou-se sócio da fábrica de pianos Steinweg, na cidade de Braunschweig. Em 1865, a família Grotrian assumiu as ações e, desde então, continua sendo a única proprietária da fábrica.
Anos depois, Wilhelm Grotrian, filho de Friedrich, adquiriu a empresa. Ele formulou um lema que passou a ser seguido pela família: “Rapazes, construam bons pianos e o resto cuidará de si mesmo”.