Dentro do possível – longe do ideal, perto da realidade nacional -, já está ocorrendo a testagem em larga escala para a detecção de Covdi-19, inclusive em Tatuí. Junto ao isolamento e ao efetivo atendimento hospitalar, essa é a medida identificada como a mais eficaz para se preservar vidas.
O resultado tem refletido nos números de confirmações da doença, em salto expressivo nestas semanas recentes. Na prática, entre os dias 27 de junho e 3 de julho, haviam sido identificadas 62 confirmações, após 94, entre 20 e 26 de junho – assim apontando para aparente recuo nas contaminações.
No entanto, a partir da semana seguinte, entre os dias 4 e 10 de julho, houve expressivo aumento nos casos, que atingiram 114 e, na sequência, entre os dias 11 e 17, mantiveram-se nesse nível, com 113, desenhando no gráfico o chamado “platô”.
Na semana passada, entre os dias 18 e 24 de julho, contudo, as confirmações praticamente dobraram, chegando ao maior índice já apurado desde o início da pandemia, abrangendo-se o período de uma semana, quando somaram 289.
A se considerar a abertura gradual do comércio e de outros serviços não essenciais exatamente durante esse período, seria possível concluir que a explosão de casos é resultado “somente” do relaxamento da quarentena.
Por certo, embora o isolamento seja fundamental à contenção da doença – e, como tal, tem tido flexibilização ao longo do planeta (em sua parcela mais criteriosa) somente em momento de queda significativa dos casos -, aqui em Tatuí, é necessário acentuar o fator determinante de a testagem em maior número também estar coincidindo com o aumento das confirmações.
Mostra dessa correlação pode ser observada no próprio gráfico geral da doença na cidade (que alguns ainda têm dificuldade para entender, mormente aqueles que já devem ter desistido de ler este texto, porque acharam-no longo demais…).
Aponta o gráfico que, a despeito do aumento das confirmações, o número de óbitos (sempre trágicos e de profundo pesar, independentemente de aparentarem “pequeno digito”) tem se mantido estável.
Ou seja, as confirmações cresceram, mas não a média das perdas de vida, demonstrando não existir necessariamente maior disseminação da doença – que já estava espalhada na cidade -, mas, sim, uma maior detecção – o que, por sua vez, facilita o combate à doença.
Ao todo, até esta quinta-feira, 29 de julho, 37 pacientes não haviam conseguido resistir à doença, resultando em índice de letalidade equivalente a 3,29% – o segundo mais bem posicionado na Região Metropolitana de Sorocaba.
Quanto à abertura em momento menos desafiador, aí já se escapa à própria crise de saúde, adentrando-se na política. Nesta, por mais que muitos ainda resistam a reconhecer – não raro os que têm dificuldade para entender os gráficos -, há o peso demasiado do negacionismo federal, que acabou por legar o combate ao vírus aos gestores estaduais e municipais.
Isto praticamente só acontece no Brasil, em cujo território – de dimensões continentais – não apenas se encontram realidades distintas quanto à contaminação, mas uma confusão geral de determinações e, especialmente, desinformações.
É até estranho porque, para quem aparente tanta vontade de tomar decisões sozinho – de forma autoritária, sem o “atrapalho” do Legislativo e do Judiciário -, seria esperado um pulso firme no combate à pandemia, não a abstenção de responsabilidade.
Alguém, por acaso, já ouviu que, em algum desses países mais sensatos, o governador de tal província determinou quarentena, o de outra distribui cloroquina ou de uma terceira está promovendo o isolamento “vertical”?
Não. Sempre se ouve em “governo”, que bem ou mal coloca à frente da Saúde os seus melhores e mais confiáveis profissionais da área médica e sanitária e, com eles, traça metas e protocolos a serem seguidos por todas as demais unidades da federação.
Como no Brasil assim não ocorre, enquanto na mais alta instância do poder vai-se estocando cloroquina, daí para baixo os governadores e prefeitos são obrigados a assumir o protagonismo do combate à pandemia.
Sucede que este enfrentamento tem ônus, os quais ninguém gostaria de carregar – pelo que, por mais críticas e ameaças ao Judiciário, o governo federal deve gratidão ao Supremo Tribunal Federal, por tê-lo desobrigado do imenso fardo de estar à frente dessa guerra, cujo espólio (terrível) caminha para cem mil mortes e incontáveis falências e empregos perdidos.
Não obstante, por mais tenebrosa, a batalha contra a Covid-19 um dia será vencida, seja pela imunidade de rebanho, seja pela vacina, levando a crer que, talvez, a guerra contra a insensatez venha a ser o maior desafio logo à frente.
Isto porque, obviamente, seria justo e coerente dar valor a quem tem mais coragem, atitude e bom senso em momentos críticos, e, assim, reconhecer os gestores não omissos, apesar das inevitáveis perdas políticas – aqueles a se sentar na janelinha não para apreciar a paisagem, mas sujeitos a pedradas.
Contudo, essa valorização não é certa – até porque a falta de lucidez, coerência e informação verdadeira é sintoma maior da pandemia de insensatez. Este mal, que tende a ser mais resistente que o novo coronavírus, também mata.
Prova disso é explicitada em recentes pesquisas, as quais demonstram a negativa de boa parte da população em tomar a vacina, quando ela estiver à disposição.
Para ser eficaz como um todo, estima-se que cerca de 60% da população, pelo menos, têm de se imunizar, mas o movimento “antivacina” já convenceu metade dos norte-americanos a não se submeter à proteção – mantendo em risco, portanto, a restante…
Antigamente, na época da tal ditadura – que muitos querem de volta, apesar de não terem noção do que se trata –, costumava-se dizer que “o que é bom para os americanos, é bom para os brasileiros…”.
Impressionante e lamentavelmente, nisto os saudosistas têm razão para regalo, dado o Brasil estar em segundo lugar no número de mortes (atrás apenas e justamente dos EUA) e espelhar o obscurantismo predominante na política ianque.
Ou seja, realmente, a guerra contra a insensatez ainda deve produzir muito mais vítimas, mesmo porque, contra ela, não há e nunca haverá testes, tampouco a cura – embora exista santo remédio para se prevenir à ignorância, chamado Educação. Problema é encontrá-lo.