“Boa” a realidade não está para quase ninguém – no mundo, no país e em Tatuí. No entanto, é hora de observar quanta coisa mudou em apenas um ano. Com efeito, não se superou nenhuma das crises simultâneas a abater o planeta de maneira inédita, mas, neste momento, há o que se reconhecer e celebrar, minimamente que seja.
A principal mudança, por óbvio, atinge justamente o maior flagelo da atualidade: a pandemia de Covid, que se espalhava sem controle mundo afora. Até então, na prática, não havia defesa contra a doença, o que mudou totalmente a partir do início da imunização pelas vacinas, há exatamente um ano.
Para quem não compactua maliciosamente com o negacionismo – ou por ele ainda segue influenciado sem qualquer má intenção, embora de maneira incauta -, sim, já está enfadonho apontar para os números de óbitos frente aos das contaminações, o que deixa irrefutável a eficácia dos imunizantes.
Em média (Brasil e planeta), perto de 80% dos internados em leitos clínicos e de UTI, no momento, não estão vacinados ou não completaram o ciclo necessário. Que mais há para se apontar a respeito, na tentativa de convencer os antivacinas? Nada, aparentemente, porque a obviedade, a lógica e o bom senso já não lhes dizem mais nada…
Na prática, entretanto, se o índice de contaminações, que registra seu auge no momento, mantivesse por consequência o mesmo percentual de óbitos, aqui em Tatuí, por exemplo, pessoas já estariam morrendo às dezenas mesmo antes de entrarem em hospitais, por lotados certamente eles estariam, sem vagas nem para emergências.
Por este aspecto, é tão difícil – provavelmente impossível -, calcular quantas vidas estão sendo salvas no momento graças à vacinação.
Não menos complicado é se estimar o número de mortes precipitadas pelo atraso no início da campanha de proteção, pelos maus exemplos quanto aos cuidados pessoais de prevenção, pelo incentivo ao uso de medicamentos ineficazes contra a doença e pela disseminação criminosa e sistemática de fake news.
Tudo isso é trágico, contudo, agora, quando um ano depois já existem os imunizantes, as fake news continuam a causar estragos na mesma proporção de antes – muitos fatais.
Isto porque, em especial, ainda dão justificativa a quem resiste às vacinas, chegando mesmo a colocar em risco, sem necessidade, a vida de crianças – algo que, em um mundo menos anormal, daria cadeia (ou linchamento, o que é sempre errado) de toda “autoridade” a atravancar a campanha junto aos pequenos.
A despeito das insanidades e da corrente pela morte puxada pelos negacionistas, a campanha segue em ritmo razoável, tendo começado justamente há um ano. Naquele momento, as incertezas eram grandes, apesar de a contaminação ser menor.
Agora, as inquietudes podem ser menores, desde que a população queira mesmo se livrar das tragédias causadas pela pandemia e, assim, simplesmente tome as vacinas por completo e, na medida do possível, tente convencer os indecisos a fazerem o mesmo.
Afinal, sabe-se que, para extinguir a doença, é necessário que cerca de 90% da população seja imunizada. A tarefa não é fácil, claro, até porque implica não apenas em convencimento sobre quem tem acesso às vacinas, mas em cobertura global, levando-se os imunizantes a todos os países que não podem adquiri-los.
Por sua vez, outro ponto de alívio neste momento, particularmente em Tatuí, tem a ver com a dengue, que começava a atingir a cidade de forma também inédita e brutal há um ano. Em 2022, contudo, a situação pode – e deve – ser diferente.
Na edição desta quarta-feira, o jornal O Progresso de Tatuí publicou reportagem demonstrando que o ciclo de contaminação pode ter sido “quebrado”.
A notícia informa que a Vigilância Epidemiológica local completou na segunda-feira, 24, oito semanas consecutivas sem casos positivos de dengue. Balanço divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde mostra que a última confirmação da doença aconteceu no dia 30 de novembro de 2021.
Conforme a coordenadora do Setor de Combate à Dengue, Juliana Aparecida de Camargo da Costa, o período sem transmissão marca o fim da epidemia da doença no município.
Segundo ela, a Sucen (Superintendência de Controle de Endemias do Estado de São Paulo) aponta ser necessário atingir pelo menos oito semanas sem casos positivos da doença para se considerar que houve “corte de transmissão”.
Em 2021, a cidade viveu o pior ano em relação ao número de contaminações por dengue, com mais de 20,5 mil casos. Somente nos primeiros 20 dias de janeiro, a cidade já havia positivado 53 exames.
Para Juliana, a queda das transmissões é resultado do trabalho do Setor de Combate à Dengue e das campanhas realizadas no município no ano passado, em parceria com diversas secretarias.
Segundo ela, no começo do ano, como os casos estavam mais concentrados no Jardim Santa Rita de Cássia, foram realizadas diversas ações na região, e, a partir de março, as operações foram estendidas para outros bairros.
De segunda-feira a sexta-feira, o Sucen e o Setor de Combate à Dengue realizavam as vistorias nas casas e, aos finais de semana, uma equipe mista, formada com pessoas de setores como educação, obras e meio ambiente, promovia ações de conscientização e operações “cata-treco”.
Juliana lembra que, no ano passado, o município ainda criou as chamadas “Brigadas de Combate ao Mosquito Aedes Aegypti”, para atuarem junto às secretarias da Saúde, de Obras e Infraestrutura e da Educação. Neste ano, outras secretarias devem ser envolvidas.
A dengue, portanto, pode servir de exemplo para o combate à Covid-19, sobretudo no aspecto da “conscientização”, lembrando ser realmente mais difícil convencer as pessoas a cuidarem melhor dos “trecos” em suas casas que tomarem uma agulhada no braço.
Contudo, mais esse exemplo do combate efetivo a um grande problema serve de estímulo e argumento para serem usados a favor da vacinação. Ou seja, sem atitude, não se conseguirá grandes resultados, mantendo o mundo infinitamente sob ondas e mais ondas desta pandemia.
Em termos do tal custo/benefício, por fim, é muito mais vantajoso aderir à imunização, a qual, um ano depois, está aqui, em Tatuí e em boa parte do mundo, disponível a qualquer cidadão – especialmente aos pais, que agora devem proteger seus filhos – e ao planeta – o mais rapidamente possível.