O premiado espetáculo de dança “Peças Fáceis”, do grupo Pró-Posição, das bailarinas sorocabanas Janice Vieira e a filha Andréia Nhur, poderá ser acompanhado no teatro “Procópio Ferreira” na quarta-feira, 12, às 20h.
A peça abre a programação da Mostra “Téspis”, do Conservatório, que segue até o próximo sábado, 15. A entrada é gratuita.
“Peças Fáceis” rendeu prêmio de melhor intérprete para Andréia no Prêmio “Denilto Gomes” de 2017 e foi finalista na categoria de melhor espetáculo de 2017 pelo Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).
O trabalho circula com apoio do Programa de Ação Cultural (ProAC), da Secretaria Estadual da Cultural, e é considerado pela dupla como “mais um espetáculo que une humor, poesia e engajamento político”, temas aos quais elas destacam ser “tônicas” do grupo Pró-Posição desde a fundação.
O espetáculo tem como referências algumas das peças de Johann Sebastian Bach (1685-1750) e Christian Petzold (1677-1733) organizadas por Bach e sua esposa, Anna Magdalena Bach (1701-1770) no “Pequeno Livro de Anna Magdalena Bach”.
Músicas de contraponto, muito utilizadas no aprendizado de instrumentos, serviram como material de estudos para Janice Vieira em sua formação como acordeonista, além de guiar Andréia em suas experiências com violão erudito na infância.
A partir dessa memória musical comum, mãe e filha iniciaram o processo de criação do espetáculo, o quinto em que trabalham juntas pelo Grupo Pró-Posição. Conforme divulgado em nota à imprensa, a dupla tomou como desafio levar as músicas ao palco através do corpo, pela dança e também pela emissão de sons.
Toda música do espetáculo é produzida pelas próprias bailarinas em cena, seja cantando, tocando um instrumento ou mesmo pelos sons percussivos emitidos pelo corpo, grunhidos ou suspiros.
No espetáculo, definido pela dupla como “plataforma sonorocoreográfica”, os minuetos de Bach e Petzold são experimentados com violão e pandeiro, por Andreia, e com castanholas e acordeom, por Janice. As artistas também usam a voz em momentos solos e conjuntos.
A dupla explica que “a composição sonorocoreográfica se dá em duas vias que se retroalimentam: no estímulo sonoro que reverbera no corpo e no movimento corporal que reverbera no som”.
“Não somos cantoras ou instrumentistas visando excelência musical, mas bailarinas que musicam sua dança, na busca de um pensamento coreográfico que é sonoro e musical ao mesmo tempo”, completa Andréia.
O grupo destaca que, nas mãos de Andréia, o violão não é apenas um instrumento que emite som. “Com talento e ludicidade, a bailarina parece retirar o violão para dançar em uma coreografia por vezes sutil e graciosa, por vezes dramática e forte. Há algo chapliniano na composição dramatúrgica da cena”, ressalta nota à imprensa.
Já com o pandeiro, a artista “explora seu caráter sonoro e também o encara como objeto que compõe plasticamente uma cena”.
“O pandeiro se transforma no rosto da bailarina, lembrando um quadro de Magritte. Janice potencializa o caráter híbrido da castanhola, que já nasce com dança e som indissociáveis, e embala seu acordeom em um bailado suave e potente”, salienta a dupla.
Para a crítica de dança Helena Katz, a música entra em “Peças Fáceis” como “uma terceira presença”. “Um violão-corpo, um acordeom-corpo, um corpo-pandeiro, um corpo-castanhola”, pontua.
Nos 45 minutos de duração do espetáculo, além de fragmentos de Bach e Petzold, o repertório traz referências a outras musicalidades: brasileira, portuguesa, espanhola, oriental, “num fazer antropofágico, barroco, híbrido”.
“’Peças Fáceis’ propõe-se a um dançar polifônico e engajado profundamente com a pesquisa da linguagem da dança”, destaca a dupla.
O grupo sorocabano foi formado em 1973 por Janice e pelo bailarino Denilto Gomes. O trabalho foi paralisado dez anos depois e retomado em 2007, dessa vez com Andréia, filha de Janeice.
Aos 78 anos de idade, Janice, recentemente, recebeu o Prêmio Governador do Estado por sua trajetória na dança, e é tida como uma das pioneiras da dança contemporânea no país.
Já Andréia, 36 anos, é professora na USP e coleciona prêmios importantes na carreira, como o APCA e o Denilto Gomes, e também é considerada uma das expoentes da área.
Os laços familiares-artísticos aparecem também em outras contribuições em “Peças Fáceis”. O músico Ramon Vieira (irmão de Andréia e filho de Janice) deu a consultoria rítmica do espetáculo.
O diretor de teatro Roberto Gill (pai de Andréia e esposo de Janice) fez todo o trabalho de iluminação e colaborou na concepção dramatúrgica. A peça ainda tem colaboração da bailarina Helena Bastos e da musicista Andrea Drigo.