Grupo de dança de Tatuí vai para festival na Itália

Dançarinos da companhia antes do embarque para a Itália (Foto: Arquivo pessoal/ Rayssa Francesconi)
Da reportagem

A Companhia Jovem Rayssa Francesconi, grupo de dança de Tatuí, foi convidada a participar de uma competição na Itália e, em razão disso, esteve no paço municipal, em encontro com o prefeito Miguel Lopes Cardoso Júnior, nesta terça-feira, 18

O prefeito aproveitou o momento para parabenizar o grupo de dançarinos pelo projeto e incentivá-los na arte. Além disso, gravou um vídeo com a companhia, pedindo que empresários do município colaborem em outros possíveis projetos da companhia.

“Nós, enquanto prefeitura, às vezes, ficamos limitados, mas você, empresário, pode colaborar. Eles (a companhia) ainda têm muita coisa a oferecer, são jovens. Então, fica o nosso apelo e o convite para que você conheça o projeto e volte seus olhos para ajudar os jovens da nossa cidade”, convidou o prefeito.

Cardoso Júnior também comentou sobre a falta de incentivos culturais e as “polêmicas” em torno dos eventos promovidos pelo poder público, citando o Carnaval do município.

“Estamos enfrentando uma polêmica agora com o Carnaval. Estou sendo muito criticado. Eu não gosto, eu não participo, mas e quem gosta? Como prefeito, não posso tomar decisões baseadas apenas no meu gosto”, acentuou.

“Não estamos investindo dinheiro público no evento, estamos apenas facilitando. Há pessoas que gostam, e precisamos garantir segurança para elas. Precisamos colocar grades, banheiros públicos, organizar o trânsito e envolver a polícia. Caso contrário, eu não estaria cumprindo meu papel como agente público”, ressaltou.

“Se alguém quer viver da dança, por que não pode?”, questionou o prefeito, ainda no encontro com os integrantes da companhia.

Renan Cortez (MDB), vereador e presidente do Legislativo, aproveitou a fala do prefeito para esclarecer que o evento de Carnaval está sendo realizado por meio de um fomento de R$ 80 mil, concedido em 2022. “São oito associações recebendo, cada uma, R$ 10 mil para subsidiar seus próprios custos com o Carnaval”, lembrou.

Cortez foi quem levou a companhia para conhecer o prefeito. Ele conta ter conhecido o grupo por meio de uma amiga, mas que, pela atuação na Câmara, “também acaba sendo uma referência tanto na cultura quanto no esporte”.

Ele sustentou ter o costume de intermediar ações junto ao Executivo para “trazer relevância ao trabalho, aos números, às participações e aos festivais”, mas que, no caso da companhia, isso ocorreu por meio de amigas em comum.

O vereador defende que a cultura é relevante para a cidade: “Estamos vivendo um momento culturalmente importante no município, mas tudo o que trabalhamos nos últimos três anos foi para chegar à estaca zero. Estávamos atrás do zero”, declarou.

“Não só em Tatuí, mas no nosso país, infelizmente, o investimento em cultura é o último a ser feito e o primeiro a ser cortado”, reforçou o vereador.

O presidente da Câmara também menciona que o poder público não pode realizar investimentos diretos, mas pode apoiar por meio de fomentos culturais. “Porém, ainda não chegamos a uma estrutura que contemple ações como essa”, observou.

“Agora, estamos trabalhando para lançar o fomento ao esporte também”, antecipa o presidente. Ele ainda acrescenta que, atualmente, o município possui cinco fomentos culturais, mas a intenção é aumentar para oito.

Sobre o festival

O evento, denominado “Livorno en Danza”, acontece todos os anos, e os “olheiros” representando o Brasil vão a festivais selecionando trabalhos que tenham linguagem semelhante à europeia, seja na dança contemporânea ou na clássica.

“Ele me viu em outro ano com outro grupo e lembrou de mim neste ano. Então, me perguntou se eu não gostaria de levar o grupo, e, de início, falei que não dava por conta dos custos. Mas, depois, pensei melhor, fizemos uma reunião e ‘topamos’ ir”, comenta Rayssa Francesconi, diretora e coreógrafa da companhia.

O grupo embarcou para a Itália na quarta-feira, 19, com Rayssa, o assistente e coreógrafo Guilherme Costa e os bailarinos Luiz Felipe, Vívian Rodrigues, Rafaela Campos, Keli Pereira, Beatriz Franco, Giovana Rebeca, Maria Eduarda Fernandes, Karla Samantha e Julia Barros.

Rayssa lembra que se trata de um festival competitivo, que reúne participantes do mundo todo: “Neste ano, eles (os organizadores) disseram que participarão bailarinos do Brasil, Itália, Grécia, Espanha, entre outros países”.

“E haverá professores que ministrarão aulas de balé clássico, contemporâneo, além dos intercâmbios que faremos com os outros bailarinos presentes no evento”, acrescenta.

O grupo conta que está custeando a viagem com recursos próprios, rifas, vaquinhas e venda de produtos alimentícios, como pizzas e “geladinhos”.

Além disso, ressalta três empresas que ajudaram financeiramente, permitindo que consigam se alimentar por uma semana: a pizzaria Benitos, a loja Pequeninas e a ABA Leaf Consórcios. “Para nós, foi muito importante, não apenas pelo valor financeiro, mas por acreditarem e apoiarem a arte”, declarou Rayssa.

A dançarina ainda menciona que ouviu comentários de que a companhia é particular e independente, sem vínculo com a prefeitura, e, por isso, algumas empresas optam por não ajudar “porque não há um retorno”.

“Mas, o trabalho que desenvolvo com eles é para que cada um tenha qualidade profissional individual. Faço isso desde 2016, e outros bailarinos já se formaram, entraram em companhias, e, agora, faço com este grupo. Sei da importância de eventos como esse”, reforça Rayssa.

Ela lembra que a companhia participa de outros eventos e, no ano passado, esteve em Florianópolis, onde Beatriz Franco conquistou uma bolsa para o Canadá.

A dançarina, na época, realizou uma vaquinha para custear a viagem ao país. Porém, quando chegou a data da viagem, o visto ainda não havia sido emitido. Assim, ela utilizará o valor arrecadado nesta viagem para a Itália.

A companhia trabalha com dança contemporânea e afirma que “muitas pessoas se surpreendem ao saber que eles não irão dançar em sapatilhas de ponta por conta disso”.

De acordo com o grupo, o festival é dividido em três categorias: clássico, contemporâneo e composição cenográfica, além de sete solos e um duo. O palco mede 14 metros de profundidade e 18 metros de comprimento, com uma inclinação de 3% — “um palco incrível e maravilhoso”.

Priscila, mãe de Beatriz, uma das dançarinas, revelou ter sentido “desespero” ao saber do convite. “Porque estávamos nos preparando para o Canadá, na maior correria, organizando vaquinha, rifa, venda de geladinhos e bingo. Fizemos de tudo para arrecadar dinheiro. E, no meio disso tudo, veio a notícia da viagem para a Itália”, conta ela.

Os dançarinos da companhia têm entre 15 e 27 anos. Entre eles, há estudantes, que precisarão repor matérias e realizar possíveis provas ocorridas durante o período.

“Quem vê a gente, que somos da dança, principalmente os que ainda estudam, acha que não ligamos para os estudos. Mas, estudamos em escolas particulares que são rígidas. Então, nos esforçamos muito. Muitas vezes, estamos cansados depois das aulas na companhia, mas encontramos um tempo para estudar e fazer as tarefas”, comentou uma das dançarinas.

“Todos nós temos o intuito de fazer faculdade, estudamos para isso e nunca deixamos os estudos de lado. Quem vê de fora pode pensar que só vivemos para a dança, mas, por mais que ela ocupe um grande espaço na nossa vida, os estudos também são uma prioridade”, finaliza ela.

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